Resenha publicada originalmente no Chalé Cult
Tradução de Carolina Caires Coelho
Por
Kleris: “Um bom livro não é aquele
que, quando encerramos a leitura, permanece um pouco apoiado no colo e nos
deixa absortos e distantes, pensando que não poderia terminar?” – Mário Sérgio
Cortella me representa aqui. Que mixed feelings!
Tão acostumada ao estilo da Sophie, estou um pouco sem saber escrever como me
sinto em relação a este livro. Mas tentarei.
Cat
está imersa numa rotina bem louca enquanto caminha atrás de seu sonho –
trabalhar com branding (conceito de
marcas/design). Assistente em uma agência, ela está esperando e trabalhando
pela sua grande oportunidade. Sua chefe, Demeter, é um furacão que deixa um
rastro de inveja a qualquer um – e tem, aparentemente, uma vida perfeita,
badalada, glamorosa. Cat também “sustenta” uma vida baseada no status, só que
um bem distante do seu. Comete até loucuras (como entrar em cafeterias e tirar
foto de cafés gourmet) pra mostrar a todos que ela está bem, está feliz e
satisfeita.
Quando
Cat é demitida, por conta de problemas na empresa, ela se joga em um novo empreendimento
de seu pai, o que se torna uma grande aventura. Mas Cat ainda não resolveu o
que quer ou como seguir em frente. Nesse ínterim, ela sugada de volta aos
problemas e à empresa quando Demeter torna-se sua cliente e Alex, seu chefe crush, está ali para terminar um
trabalho.
Minha
vida (não tão) perfeita tem uma pegada diferente dos
demais livros da Sophie. É bem mais suave, lúcida até. Apesar do que diz a capa
(“Chorei de rir”, Jojo Moyes), eu não consegui rir como antes, em outros livros
da autora, pois este não é bem uma tragicomédia. Não há casos extraordinários,
improváveis, tresloucados ou surreais. Sophie traz a realidade. Algo mais
próximo de um drama de costumes, mas
sem perder, claro, o seu jeito Kinsella de ser.
Outro
ponto diferente foi o gênero de público. Sophie é conhecida por tratar de
mulheres adultas fortes e/ou independentes, e neste livro, ela ousou em se
colocar na pele de uma millenium
(geração Y). Vemos muito de uma garota em seus 26 anos que tá começando de
baixo e está em desespero sempre – porque nossa geração é aquela acelerada, que
se joga e vai em busca dos seus sonhos, não importa de que maneira, e que
também se ferra muito por isso. Mas nem tudo é exasperação. Um ponto forte do team Y é justo transformar o limão numa
boa limonada – ou melhor dizendo, transformar qualquer coisa em oportunidade
(de mercado, se possível).
Mas veja bem: não sou invejosa. Não exatamente. Não quero ser a Demeter. Não quero as coisas dela. Sei lá, tenho só 26 anos. O que eu faria com um SUV da Volvo?
Mas, quando olho pra ela, sinto uma comichão de... alguma coisa, e penso: será que poderia ser comigo? Teria como ser comigo? Quando tiver condições, eu poderia ter a vida da Demeter? Não são só as coisas materiais, falo da confiança também. Do estilo. Da sofisticação. Dos contatos dela.
Ao
tratar desse desejo de crescer na vida, Sophie insere sensivelmente sua crítica
sobre a rede de mentiras que se constrói na internet. Sobre como usamos as
redes para nos sufocar e demonstrar uma vida que não é nossa. Como os filtros
podem ser tão tóxicos e arrasadores quanto um ambiente de trabalho competitivo.
Como essa competição pela foto ou vivência mais glamorosa nos faz perder o real
momento. Como isso cria uma narrativa bem diferente
para quem nos lê. E como essas mentiras todas podem interferir ou confundir a
vida real.
Depois de algumas semanas de funcionamento, percebi que alguns clientes só querem saber de perguntar: Vocês são sustentáveis? Porque isso é muito importante para nós.
Sinto vontade de rir quando Demeter se esconde atrás de uma árvore. É inacreditável ver como uma pessoa inteligente pode se tornar uma tola que acredita em tudo o que ouve assim que ouve as palavras “orgânico”, “autêntico” e “Gwyneth Paltrow”.
— Esse cavalo é especialmente místico. — Eu me aproximo de Carlo e passo uma mão pela anca dele. — Ele traz calma às pessoas. Calma e paz.
Mentira. Carlo é tão preguiçoso que a emoção que ele causa na maioria das pessoas é frustração. Mas não hesito e continuo:
— Carlo é o que chamamos de um Cavalo da Empatia. Nós classificamos nossos cavalos de acordo com seus predicados espirituais, como Energia, Empatia e Detox.
Quando digo isso, percebo que exagerei. Um cavalo de detox? Mas Demeter parece estar engolindo tudo.
A
escolha de tratar a história por um viés mercadológico e marketeiro foi um
grande acerto, pois dessa maneira Sophie pôde nos demonstrar melhor do
princípio que manipula as pessoas pelas suas fraquezas. Esse realismo coloca em
xeque nossos desejos, sonhos e ilusões. É muito louco como a gente vive para
reforçar, com palavras bonitas, sacadas de marketing, neurociência, um estilo
de vida que não reverbera quem nós somos, mas quem queremos parecer que somos.
E é tudo lorota! É como usar a sabedoria para semear o mal – para si e para
todos.
Talvez eu devesse entrar no Instagram agora. Postar alguma coisa divertida.Mas, quando rolo as imagens na tela do celular, parece que elas estão rindo de mim. A quem estou querendo enganar com essas coisas falsas e felizes? É sério: a quem estou querendo enganar?
Com
certeza a gente fecha o livro pensando no que estamos postando em nossos
perfis, quaisquer redes sociais que sejam. Toda a história, toda a abordagem,
foram caminhos arriscados para se tomar, vide o grande histórico da autora, mas
achei bacana que ela tentou sair dessa redoma. E me surpreendeu para onde ela
levou a história. A alguns leitores pode parecer até morno em relação aos
outros livros (e é em alguns pontos mesmo), por outro lado, prefiro encarar como
uma história para exercer nossa empatia, senão nossa consciência. No mais, para
ir sem grandes expectativas.
Se possível, Cat Katie,
Siga Os Balões. E os Textos Cruéis Demais. Literagrama. Poelias. Um cartão. Insta do bem. O Psi Insight. As Mulheres Poderosas. Precisava Escrever. Blog do Lucão.
Blog Mais Amor Por Favor. Versão inglesa, claro ^^
Minha vida (não tão)
perfeita é um livro sobre as várias versões da gente. Sobre
ser verdadeiros conosco, assumir nossa realidade. Sobre se arriscar em um
projeto, mas não esquecer aquele sonho, nem de deixar de trabalhar por ele. Não
poderia dizer que este é meu favorito da autora, mas relembro aqui uma frase de
O
sorriso das mulheres (aqui) que, como o trecho de Cortella no início do texto,
vale como uma ótima conclusão: “Um bom livro é bom em todas as suas páginas”.
Não posso deixar um contratempo destruir meu sonho, posso? Claro que não. Um dia vou trabalhar com branding. Ainda vou atravessar a Waterloo Bridge e pensar: Esta é a minha cidade. Eu vou chegar lá.
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Ainda não conheço o trabalho da autora, mas fiquei fascinada com tudo que li acima! Nessa era do tudo virtual, é sempre bom levar um puxão de orelha para ver onde estamos jogando nossas vidas. Ou se de fato,estamos tendo vida.
ResponderExcluirMuito perto da realidade e eu amo enredos assim, que nos trazem verdades e questionamentos bem plausíveis!
Vai para a listinha de desejados!
Beijo