segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Vale a Pena Ler de Novo: “Romancista como Vocação” (Haruki Murakami)

Neste mês de Janeiro estamos em recesso, mas preparamos para você, caro leitor, uma seleção com nossas resenhas mais acessadas de 2017.
Enquanto isso, prepare-se para todas os lançamentos e novidades de 2018.

Tradução de Eunice Suenaga
Por Kleris: Trabalhar com livros é se envolver com sonhos de muitos. Expectativas. Universos compartilhados. Na literatura então, temos um vasto campo de mundos e entremundos para os quais somos transportados. Ao longo do fazer literário, surgem aqui e acolá alguns livros que se dedicam a tais passeios – é, aliás, um tipo de viagem que curto muito – e Romancista como vocação, do Haruki Murakami, é um desses livros.

Geralmente de ensaios, essas leituras trazem reflexões sobre uma experiência da vida literária. Há aqueles que brinquem, que pautem uma discussão mais séria, uns mais técnicos, outros que voam alto demais... Lembro-me de um trecho de O céu de Lima (Juan Gómez Bárcena), também da editora Alfaguara (resenha aqui), que mencionava livros/guias para escritores, comumente ignorados por eles mesmos, por não curtirem as supostas “amarras” ali descritas (o que pode, não pode, dentro da literatura). 

Mas, por mais que você não conheça o trabalho do Murakami (como eu), com certeza Romancista como vocação não está dentre estas categorias. Sua humildade, carisma e senso nos entregam uma leitura bem equilibrada do ofício de romancista. 
No mundo existem pessoas que montam a maquete de um navio dentro de uma garrafa usando uma longa pinça, e demoram quase um ano nessa tarefa. Escrever romances talvez seja parecido. 
Ao fazer um romance, os escritores geralmente convertem em narrativa o que existe no interior da sua consciência. O que existe na consciência e o que foi expresso são diferentes, e eles usam essa diferença como uma alavanca para criar o dinamismo na narrativa. É um trabalho cheio de rodeios, que demanda muito tempo. 
Em minha opinião, quem quer ser escritor precisa ler muito, antes de qualquer coisa. Peço desculpas pela resposta bastante trivial, mas acho que a leitura é o treinamento mais importante e indispensável para quem quer escrever. Para fazer um romance é preciso compreender, de forma quase física, como eles são formados. É uma coisa óbvia; é o mesmo que dizer: “Para fazer uma omelete, é preciso quebrar os ovos”. [...] Passar por essas experiências é o mais importante. Corresponde a criar a bagagem indispensável para um romancista.

Acho que o que mais gostei neste livro foi esse caráter sóbrio para tratar do escritor em termos de vocação e trabalho. Minha sensação foi de ter lido uma resposta para uma interrogação “bem bomba” (como costumo fazer lá na coluna), um desafio que o autor aceitou de boa – ou pelo menos uma conversa bem informal, com direito a suco e biscoitos, no sofá de sua casa. Murakami me pareceu esse hospitaleiro. 
Os romancistas possuem muitos defeitos, mas em geral têm coração aberto e são generosos com a entrada de pessoas de fora. 
Uma das coisas incríveis de ser romancista é a possibilidade de me desenvolver e inovar, mesmo com cinquenta, sessenta anos. Quase não há limite. Diferente do que acontece com atletas, por exemplo. 
Produzem romances as pessoas que desejam escrever, que não conseguem ficar sem escrever. E elas continuam escrevendo romances. Claro que, sendo escritor, aceito essas pessoas de coração aberto. 
Todos os escritores têm o direito de experimentar as possibilidades da língua através de todas as formas imagináveis e ampliar ao máximo o limite de sua eficácia. Sem esse espírito aventureiro, nada de novo será criado.

Com diversas pautas (características dos romancistas, início de carreira, prêmios literários, o fazer literário, as dúvidas mais comuns, a relação com o público, fatores exteriores à criação, fronteiras físicas e não físicas, hábitos de leitura no Japão, e outros), Haruki desenvolve os tópicos, conta diversos causos, aprendizados da carreira, dá seus pitacos, e não deixa de assumir suas ideias. Diversas vezes ele me pôs a pensar sobre situações com autores e certos conflitos, além de algumas atitudes “pé no chão” quando se trata de seguir seu próprio caminho. 
Esse seu modo de pensar não é egoísta? Sim, naturalmente é um modo de pensar bem egoísta. Não tenho como contestar. Eu aceito as críticas com resignação. 
Podem me criticar, podem me louvar, podem me atirar tomates, ou até uma linda flor; eu só consigo escrever – e viver – dessa forma. 
Naturalmente o tempo que uso para escrever é importante, mas o tempo em que não faço nada também é. [...] Acontece o mesmo com romances. Se o período de cura não for suficiente, teremos um produto frágil que não secou bem ou cujos materiais não foram bem misturados.

A maneira com que Haruki escreve, desperta fácil nossa percepção, confiança e respeito. É ousado, resiliente até, sem deixar de ser simples. E sua realidade não está tão distante da nossa, desde as flores às falhas que o mercado de publicação possui. 
Nem preciso dizer que o que fica para a posterioridade são as obras e não os prêmios. Creio que poucas pessoas do mundo se lembram da obra que ganhou o prêmio Akutagawa dois anos atrás ou do escritor que ganhou o Nobel três anos atrás. Você lembra? Mas, se uma obra for realmente boa, ela resistirá ao teste do tempo e será lembrada para sempre. [...] O prêmio literário pode acrescentar brilho a uma obra específica, mas não consegue lhe oferecer vida. 
[...] mesmo que a narrativa seja criada com materiais limitados, ainda existem possibilidades infinitas (ou quase infinitas). [...] Assim, mesmo que você pense: Não possuo os materiais necessários para escrever romances, não precisa desistir. Se mudar um pouco a perspectiva, o modo de ver as coisas, perceberá que muitos materiais estão espalhados à sua volta. Eles só estão esperando que você os perceba, recolha e utilize.

Gostosinho de ler, Romancista como vocação é um livro curto que vai num sopro. É, de fato, um presente para fãs, jovens romancistas e aficionados por literatura (texto de orelha). Vale, inclusive, deixar muitos marcadores ao lado. Você vai precisar. 
E desejo que, se possível, os meus leitores sintam a mesma coisa. Quero abrir uma nova janela na parede de seu coração e levar um ar novo até ele. É o que eu penso e desejo, sempre que estou escrevendo. Do fundo do coração, de forma bem simples. 
Às vezes recebo cartas curiosas dos leitores. Alguns dizem: “Li o seu último livro e fiquei desapontado. Infelizmente não gostei muito dele, mas com certeza vou comprar o seu próximo livro. Estou torcendo por você”. Para ser sincero, gosto de leitores assim. Sou muito grato a eles. Na nossa relação, com certeza existe uma sensação de confiança. Penso: é justamente para esses leitores que preciso escrever o meu próximo livro, com seriedade. E desejo sinceramente que o novo livro possa de fato agradá-los. Mas, como não posso agradar a todos, não sei como vai ser.

Murakami me ganhou totalmente; só falta mergulhar em um de seus livros de ficção pra confirmar minha impressão. Agora, com mais de 30 anos de produção criativa, quem diz que sei por onde começar?

Deixe uma leitora no skoob espiar... 
Para que os escritores realizem uma atividade criativa por vários anos, seja escrevendo romances ou contos, é imprescindível que tenham força para persistir. 
Mas a sorte é um simples ingresso. E o talento não é como compôs petrolíferos e minas de ouro. Não basta procurá-lo; o ingresso não é suficiente para levarmos uma vida confortável e fácil. [...] tudo vai depender do seu talento, do seu dom, das suas habilidades, do seu calibre, da sua visão de mundo ou, às vezes, simplesmente da sua força física. De qualquer forma, ter sorte não é o suficiente.


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sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Vale a Pena Ler de Novo: “Depois do Fim” (Daniel Bovolento)

Neste mês de Janeiro estamos em recesso, mas preparamos para você, caro leitor, uma seleção com nossas resenhas mais acessadas de 2017.
Enquanto isso, prepare-se para todas os lançamentos e novidades de 2018.

Por Kleris: Sabe aquela expressão de pegar os limões que recebe da vida e fazer uma limonada? É o que Daniel entrega nos 50 textos de Depois do Fim, um livro de crônicas sobre aquele momento difícil de toda relação: o adeus, o fim, o tempo e processo de cura de um coração. E é na rotina – ou quebra de rotina – que tudo se evidencia. 
Você sempre acha que essas coisas nunca vão acontecer com você. 
Quando você achava que nunca aconteceria nada disso com você, quando o fim era uma perspectiva tão imprevisível quanto o início, você acaba tendo uma única certeza: ele ainda está dentro de você. E seu maior problema agora, mais do que qualquer outro, é descobrir como tirá-lo daí. 
As coisas nunca acabam pontualmente. Não existe um determinado dia em que você olha pro calendário, confere as horas no relógio, vira pra alguém e diz: eu não te amo mais. As coisas se arrastam por momentos em que a gente vai identificando o desgaste.

Amores, desamores, luto, apoio e superação são temáticas que constituem o livro, marcado por doses generosas de poesia e empatia. É assim que Daniel nos faz encarar vários estágios do fim. Ele costura historietas, conversações, fluxos de pensamento. Recortes da vida, filmes que transitam no nosso imaginário. Todos permeados de dúvidas, zigue-zagues da consciência e, apesar do que sugere, nem sempre está acompanhado de uma densa nuvem de fossa depressiva. 
Como é que a gente explica prum cachorro que você não iria voltar? Não sei, não consegui explicar nem pra mim. 
Tô te implorando lentamente pra dizer alguma coisa que me pare enquanto eu declaro que tô desistindo de você. Tô levando na mala só o que é meu, e deixo o que era nosso pra você fazer fogueira do passado. [...] Diz e me impede, de uma vez, de desistir de você. 
Cê acha que isso aqui vai demorar muito? Não o filme, mas a gente. Isso aqui que a gente tem e que um dia passa.Acho que sim, acho que não. Não sei. Tempo é relativo. Pra você pode ter sido um ano, pra mim pode ter sido uma vida. A gente nunca sabe quanto tempo o outro vai morar na gente depois da despedida.

Mesmo as experiências mais dolorosas tem sua importância, e não adianta fugir delas. É preciso senti-las em toda sua profundidade – para que passem. Porque uma hora passa. 
“Com Bovolento, mergulhamos na dor e na beleza do encerramento de uma história de amor. E com ele damos a volta completa para finalmente entender que só pode haver vida se houver morte”. – Milly Lacombe, escritora e jornalista (texto de contracapa)

Daniel também traz luz para diversas impressões de relacionamentos que não fazem mais sentido em nossa realidade, como o fato de uma pessoa sentir que deve consertar a outra (não!), que quem sempre termina é o vilão da história (não!), sem falar das expectativas irreais e demais idealizações que produzem aquele choque negativo com a realidade. Nesse sentido, ao retratar as relações, com visões de dentro e de fora, Daniel se mostra muito “pé no chão”. E ainda oferece um ombro amigo. 
E a gente se força a achar que o outro pode ser consertado, mesmo sendo evidentes as rachaduras, suas infiltrações e alguns parafusos meio frouxos que ficam bem na cara. 
Olhamos todos o lado do mocinho depressivo que ficou lamentando por muito tempo a ida da mulher da sua vida, como se ela não tivesse também o direito de ir em busca do homem da vida dela. 
Mais do que isso, tentam me dizer que eu vou nunca conseguir ser feliz sozinha, que não fui feita para ser sozinha. Discordo.

Há crônicas para arranhar, para amainar, para rasgar, para descansar, para rir (de nervoso até); não é uma leitura tão fácil. Apesar de toda poesia em volta, o livro pede (e entende que é preciso) muita calma de seu leitor, assim como o leitor pede calma em favor de seus sentimentos. Isto porque a gente abre sabendo que vai topar com inúmeros gatilhos. Mas vale abrir um a um, respeitando, claro, nosso tempo de cura. Volte sempre que puder. Ao fim você vai se sentir melhor. 
Será que um dia eu voltarei a ser o mesmo? Digo, o cara que era antes de você, sabe? 
Vão bater na tua porta, vão te ligar aos montes, vão ter dó de te deixar sozinho. Vão espantar o escuro, vão decretar estado de alerta e euforia, vão te marcar nas coisas mais engraçadas da internet. Vão descarregar caminhões de felicidade empacotada na tua casa, vão te apresentar amigos e mais amigos, vão comprar passagens de avião pra Indonésia de presente. Vão mover mundos e fundos para que você fique bem. Mas você não reage aos estímulos.

Aliás, com tantas bandeirinhas (marcadores) adesivados no livro, você vai querer voltar sempre sim. Porque Daniel escreve de maneira a nos fazer entender os mais indecifráveis sentimentos. Sério, dá vontade de marcar o livro inteiro, parágrafo a parágrafo. Prepare sua cartelinha, você vai precisar.



De plus, temos um projeto gráfico maravilhoso da Planeta. Trechos (“fotografáveis”) se encontram dispostos como entrada das crônicas e o conjunto de recursos das páginas, pretos, cinzas, amareladas, dão o toque final. Os textos são mega curtos, mas de grande peso. Cercados de um repertório musical pra te colocar e te tirar da fossa, a leitura mostra que não há experiência sem aprendizado.  

Ademais, em diversos momentos, lembrei do livro Que Ninguém Nos Ouça (aqui), pela vibe de lavar a alma, e dos livros da Brené Brown (aqui), quando se fala sobre vínculos, (auto)aceitação e processo de volta por cima. Estar em um relacionamento poder ser muito V1D4 L0K4, mas, no fim das contas, estamos aqui para nos relacionar, cada qual em sua própria jornada. 
Você pode não ter se candidatado à jornada do herói, mas, no instante em que caiu, quebrou a cara, sofreu uma decepção, meteu os pés pelas mãos ou ficou de coração partido, ela começou. Não importa se estamos prontos para uma aventura emocional – as mágoas acontecem. E ninguém está livre delas. Sem exceção. A única decisão que podemos tomar é sobre o papel que vamos desempenhar na própria vida: queremos escrever nossa história ou queremos entregar esse poder a outra pessoa? Mais Forte do Que Nunca – Brené Brown

Depois do Fim é aquele livro que te dá tapinhas no ombro a cada revolver de sentimentos. Espera contigo (vide imagem abaixo). Arde, mas também sabe deixar o coração quentinho como um episódio maravilhoso de Gilmore Girls com junky food. É um mergulho profundo (e às vezes necessário) naquela maratona binge da netflix. Você sai cansado, mas realizado. Pronto pra outra. 
De vez em quando, seremos essas pessoas que deixam pessoas ótimas irem embora porque alguém feriu a gente. Porque alguém quebrou a gente um tempo atrás. Não é culpa de ninguém, só não era o tempo certo, só não estávamos curados.

Fonte de imagem: @_poematizar

A playlist do livro

 

Eu ainda adicionaria as lentas de Alexz Johnson e de Boy (duo) de doida mesmo.
Pois é, deixe uma leitora aloprar...

Até a próxima!

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segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Vale a Pena Ler de Novo: "Magisterium - O Desafio de Ferro" (Holly Black e Cassandra Clare)

Neste mês de Janeiro estamos em recesso, mas preparamos para você, caro leitor, uma seleção com nossas resenhas mais acessadas de 2017.
Enquanto isso, prepare-se para todas os lançamentos e novidades de 2018.

Tradução: Amanda Orlando

Por Sheila: Oiiiiiiiiii povoooooooo. Tudo ok com todo mundo? Essa já é a segunda vez que resenho livros com o selo #irado da editora Novo Conceito. Criado especificamente para atender à demanda da galera mais jovem, trás às terras tupiniquins títulos que geralmente envolvem muita aventura e adrenalina.

Assim, com Magisterium não podia ser diferente. Começamos a leitura em meio a uma guerra cruel e sangrenta entre os magos

Em meio a uma das incursões mais covarde e sangrenta da história da guerra entre eles travada, vamos conhecer o mago Alastair Hunt que, prevendo que algo esta errado quando o Inimigo não aparece para a batalha, vai em busca da mulher e filho, deixados em uma caverna justamente com o intuito de mantê-los seguros.

Deveria haver algum som de crianças chorando. Deveria haver o burburinho de conversas nervosas e o zumbido de uma magia tênue. Em vez disso, havia apenas o uivo do vento que soprava do cume desolado da montanha. As paredes da caverna estavam cobertas pelo gelo branco, com pústulas vermelhas e marrons onde o sangue respingara e derretera, formando poças. (...)
Um choro fez com que ele se erguesse em um pulo. Naquela caverna repleta de morte e silêncio, um choro.
Uma criança.
Após esse prólogo dramático e cheio de mistério, encontraremos Callum Hunt, "o menino que sobreviveu" (para quem se liga em referências) como um adolescente ressentido, problemático e amedrontado por um pai obsessivo e taciturno. Não por ser um pai ruim, bem pelo contrário; mas por sua ojeriza à magia e as habilidades que vê florescendo em seu único filho.

"Várias crianças acham que isso tem a ver com serem especiais", o pai de Call havia dito. A repulsa na voz dele era evidente. "Os  pais delas também acham a mesma coisa. Em especial nas famílias onde a habilidade mágica data de gerações. Em algumas famílias onde a magia foi praticamente extinta, ter uma criança mágica é uma esperança de que esse poder possa retornar. Porém, são crianças sem familiares com poderes mágicos as que mais merecem nossa compaixão. São elas as que pensam que tudo será como nos filmes.""Nada é como nos filmes."

É nesse estado de espírito, soturno, sombrio, e cheio de medo que Call vai com o pai realizar as provas que podem ou não qualificá-lo para entrar no Magisterium, a escola de Magos. Assim, não é surpresa quando Call e o pai arquitetam que Call se esforce ao máximo não para ser um dos escolhidos, mas para fugir deste destino, que para Call nada mais é que a morte certa.

Vocês já devem ter imaginado que as coisas deram muito errado e não saíram nada como o planejado. Call pode até ter tido a nota mais baixa de todos os selecionados, mas o Mestre Rufus, o Mestre mais velho e, logo, o que os jovens mais aspiram como mestre, escolhe três aprendizes: Tamara e Aaaron, que obtiveram as melhores notas no Desafio e ... Call.

Agitação, burburinhos, jovens inconformados por não terem sido selecionados, início das aulas e o descortinar de um novo mundo, isso é o que acontece então com Call, que acabará por descobrir que Alastair escondeu muitas coisas sobre sua origem. Talvez coisas demais.

Algumas coisas me soaram um pouco cansativas, como por exemplo a saga do jovem excluído mas que desde o início sabemos que será a grande estrela, amado e odiado por todos devido a seus talentos únicos;  caracterização excessiva de alguns personagens; a velha fórmula de três, presente em Harry Potter, Percy Jackson e por ai vai.

Por outro lado, o livro dá uma guinada repentina, mais ou menos depois da página 200 e alguma coisa, o que me fez acelerar a leitura até o desfecho e, confesso, ficar muito curiosa sobre o próximo livro, e os rumos que tomarão as vidas de Call, Tamara e Aaron.

Mas como eu tenho 29 anos e não me considero mais público jovem ha bastante tempo acredito que o livro cumpre bem com a proposta do selo, e com certeza vai entrar para a lista de favoritos para essa galerinha leitora e já fã de Instrumentos Mortais e outras sagas do gênero.

Abraços e até a próxima!

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sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Vale a Pena Ler de Novo: “Véu do Tempo” (Claire R. McDougall)

Neste mês de Janeiro estamos em recesso, mas preparamos para você, caro leitor, uma seleção com nossas resenhas mais acessadas de 2017.
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Tradução de: Jacqueline Damásio Valpassos

*Por Mary*: Já diria minha bestie Alice: “Estou #socada”

Quando a Editora Pensamento publicou este livro, e li a sinopse, acreditei se tratar apenas de mais um romance açucarado (o que eu, por sinal, adoro!). Notei a semelhança com Outlander, parecendo, porém, manter o enfoque no romance.

E qual não foi a minha surpresa ao me deparar com um livro extremamente bem estruturado, com fundamentos originais e uma reflexão inteligentíssima a respeito do papel do cristianismo no fortalecimento do patriarcado.

Igual Outlander, só mesmo a Escócia e o mote de viagem no tempo. Nem mesmo a maneira de viajar é semelhante e, a propósito, a justificativa usada pela autora é fantástica! Eu nunca pensaria em algo assim, creio.
- Mas e se o tempo não é o que pensamos que seja, uma maldita coisa atrás da outra? E se o que conhecermos não for apenas uma série de imagens, mas semelhante a um holograma? Se o todo estiver contido dentro de cada parte, então viajar através do tempo não seria tanto uma questão de deslocamento, e sim, de olhar mais fundo dentro da imagem.
- Agora eu sou obrigado a discordar de você – diz Jim. – Não vejo como tudo poderia estar acontecendo ao mesmo tempo, se uma coisa é a causa de outra. Olhe, nessa lista de reis, o seu rei Murdoch vem logo depois do rei Eochaid.
Maggie vive sob a névoa de torpor causada pela medicação que toma para controlar a epilepsia. Divorciada, e com um filho morando no colégio interno, muda-se para um solitário chalé aos pés das ruínas de Dunnad, berço da realeza da Escócia.

Há muito, Maggie aprendeu a conviver com os sonhos vívidos pós-convulsão, que parecem transportá-la a outros tempos. Tempos imemoriais. Já discutiu teologia com Mary Stuart, deu uma voltinha com Napoleão e fugiu dos ingleses de mãos dadas com William Wallace. E é em um desses sonhos que vai parar na Dunadd do Séc. VIII, quando esta ainda abriga a realeza escocesa. 

Ao voltar, os detalhes surpreendentemente reais de seus sonhos a confundem. Maggie percebe, a partir de informações e lugares, que tudo pode ser mais do que uma alucinação. E se não for? E se for realmente uma viagem no tempo?

Ali, conhece Fergus, um lord medieval irmão do rei, guerreiro bravo e gentil, que ainda sofre com a perda prematura de sua esposa e é pai de uma garotinha adorável, Illa, que guarda uma semelhança assombrosa com a falecida filha de Maggie, vítima de complicações decorrentes também da epilepsia.

A cada viagem, Maggie se torna mais e mais próxima de Fergus e sua filha, até já ser chamada de mo chridhe – meu amor – pelo príncipe medieval. Determinada a ficar de vez no passado, as demandas do presente a chamam de volta e Maggie terá que tomar uma decisão definitiva. 
Eu me sinto uma tola por conjurar meu cavaleiro medieval, mas fazia muito tempo que eu não ansiava pelo toque de um homem. A medicação anticonvulsivante em minha vida adulta cobrou seu preço sobre a libido. Como Oliver cansou de me acusar. Mas a escolha estava entre ser uma mulher consciente ou uma mulher ardente , e, no final das contas, com todas as exigências de ser uma esposa e mãe, a frígida tomou as rédeas. Mas, no meu sonho, com minhas mãos prestes a tocar os cabelos de Fergus, frigidez era a última coisa que eu estava sentindo. Pela primeira vez desde que Ellie morreu, eu captei uma pequena insinuação de esperança, logo abaixo do externo.
Com um romance instigante e envolvente, Véu do Tempo alterna narrações em primeira e terceira pessoa. Esse recurso viabiliza a ampliação da gama de tramas abordadas, uma vez que dá voz à nossa protagonista Maggie e, também, apresenta os conflitos pertinentes a Fergus, nosso príncipe medieval. 

E como se já não bastasse a obra dolorosamente instigante, Claire McDougall administra com indiscutível maestria a narração, a tal ponto que se pode distinguir, suavemente, as características predominantes dos personagens. A tristeza de Maggie, por exemplo, e a natureza rudimentar de Fergus.
- Não pense que é fácil para mim, esquecer Saraid.
- Já estava na hora, no entanto – disse Talorcan. – Os mortos não são para serem mantidos conosco, como que guardados em caixas. Eles têm suas vidas, não mais conosco, exceto pelos momentos em que o véu se abre. Mas isso não depende de nós.
Lendo a sinopse, sem dúvida esperamos um romance bobo, leve. O que encontramos dentre as páginas de Véu do Tempo, contudo, é uma trama inteligente e bem desenvolvida, elaborada de forma hábil por uma escritora que demonstra conhecer profundamente a matéria sobre a qual está apresentando.

Mais que isso, Claire nos presenteia com um texto bastante detalhista, trazendo informações com um nível de minúcia que chega a impressionar. O texto é bastante descritivo, aliás, o que, para um leitor ávido por ação, pode se tornar cansativo. Por outro lado, essa característica nos faz sentir como se de fato fôssemos transportados para a Escócia do Séc. VIII. 
Os portões foram abertos e ele navega para dentro, parando apenas para esperar que a parede em mim ceda. Quero esperar, segurar um pouco, não deixar que ele deslize tão cedo. Se pudéssemos parar de respirar, ficar parados e nos manter assim por mais um momento... Mas é tarde demais. Estou caindo. Tudo está desmoronando e eu estou na borda, agarrando-me a ele porque do outro lado há apenas a queda.
De maneira incidental, a escritora traça uma análise por vezes sarcástica da influência do cristianismo sobre os povos no início da Idade Média, transformando este período na Era das Trevas, como a conhecemos hoje em dia, além de promover o patriarcado e reforçar a perda do sagrado feminino.

Ao longo de suas páginas, Claire R. McDaugall guia o seu leitor por caminhos tortuosos e agoniantes, deixando-o cada vez mais ansioso por descobrir a decisão da protagonista. Me vi diversas vezes espiando as páginas seguintes, no afã de descobrir o que iria acontecer adiante. 
- Beleza... o que isso significa para mim? Um enfeite para o homem cujos olhos não veem longe. Juventude é algo que eu próprio já não possuo. O tempo me trouxe cicatrizes e sabedoria. Como eu poderia confiar a mim mesmo ou minha filha à juventude que nada sabe sobre isso, que não tenha propriamente vivido?
Sendo assim, se você quer um romance original, passeando pelas belas paisagens da Escócia, tendo a chance de viver uma época diferente e com uma análise quase cética dos valores religiosos – tudo isso embrulhado de presente em uma trama muito bem elaborada – com certeza precisa ler Véu do Tempo.
Ele toca minha boca com a sua; não é um beijo, apenas uma pergunta de algum tipo.
- Diga-me quem você é, Ma-khee.
Poderia dizer algo que não é verdade, mas isso iria abalar este momento.
Retiro os meus lábios do calor de sua boca e respondo:
- Eu não sei quem eu sou.
Ele olha para os anéis na rocha e, lentamente, tira as mãos de mim.
- Quem é você? – pergunto, atraindo seus olhos de volta para mim. – Eu sei que você se chama Fergus, não sei quem você é na verdade.
Seu sorriso fugaz brilha por um instante.
- Eu sou apenas o irmão do rei – diz ele. – O triste irmão do rei.
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quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

#RESULTADO da PROMO Ano Novo, Leituras Novas



2017 já está chegando ao fim e logo será Ano Novo e com ele chega a fatídica pergunta...

E o que você fez?

Sua meta de leitura foi completada com sucesso?

A minha só foi ganhando mais e mais livros que já entraram para a meta de 2018. E nós do Dear Book faremos o mesmo com a sua fila de leitura!! Sortearemos 5 Kits com livros e/ou mimos para te ajudar a ler ainda mais em 2018.

Confira os Kits e seus respectivos ganhadores:

Kit 1 - Mia Couto: Mulheres de Cinzas (Mia Couto) + Sombras da Água (Mia Couto) + 6 Marcadores Diversos



A VENCEDORA É..................... RAFAELA SOUZA.
ENVIAMOS UM E-MAIL SOLICITANDO UM ENDEREÇO DE ENTREGA.
Ela prometeu desencalhar alguns livros da estante em 2018, estes que estão chegando não os deixe encalhar. Boas Leituras


Kit 2 - Romance Nacional: A Viagem de James Amaro (Luiz Biajoni) + Capitães de Areia (Jorge Amado)+ 6 Marcadores Diversos





A VENCEDORA É..................... MAÍRA SOUZA.
ENVIAMOS UM E-MAIL SOLICITANDO UM ENDEREÇO DE ENTREGA.Ela prometeu ler o dobro de livros e em 2018 e conhecer um pouco mais da escrita de Stephen King, o DEAR BOOK vai te ajudar a com dois romances nacionais. Boas Leituras



 Kit 3 - Juvenil: Colin Fischer (Ashley Edward Miller & Zack Stentz) + Cidade Banida (Ricardo Ragazzo) + 4 Marcadores Diversos






A VENCEDORA É..................... MAYANE BONIOLO. ENVIAMOS UM E-MAIL SOLICITANDO UM ENDEREÇO DE ENTREGA.Ela prometeu eliminar a fila de leitura da sua estante e aí vão mais dois, nãos os deixe esperando. Boas Leituras






A VENCEDORA É..................... CRISTIANE DORNELAS.ENVIAMOS UM E-MAIL SOLICITANDO UM ENDEREÇO DE ENTREGA.Esperamos que essas obras entrem na fila de leitura o mais breve possível. Boas Leituras


Kit 5 - Marcadores Diversos (6)



A VENCEDORA É..................... LANA SILVA do Pétalas de Liberdade (tem sorteio lá).ENVIAMOS UM E-MAIL SOLICITANDO UM ENDEREÇO DE ENTREGA.Aqui vão alguns marcadores para acompanhar as suas muitas leituras em 2018. Boas Leituras


E como vai funcionar a #PROMO?

Os prêmios você já conheceu. Basta Seguir as regras de participação do formulário abaixo (Rafflecopter) e responder a pergunta:

Qual a SUA resolução literária para 2018?

COMO PARTICIPAR
- Siga as regras obrigatórias, de acordo com os formulários abaixo (Rafflecopter). Os itens que aparecem após o cumprimento dos obrigatórios são opcionais; cumpri-los aumentam suas chances de ganhar.
- Comente nesta postagem sobre o que você planeja para o seu 2018 literário, metas de leitura, quais livros deseja etc. Não é nenhum concurso de respostas, é só curiosidade. Deixe também seu e-mail para contato. Serão válidos apenas comentários que respondam nossa proposta.

Extra-extra-extra
Para te ajudar a buscar posts para as participações extras de comentários, seguem as categorias:


ATENÇÃO!
- É preciso ter endereço de entrega no Brasil.
- O período de participações vai de 10 de Outubro (HOJE, 12h *horário de Brasília) a 10 de JANEIRO de 2018 (12h *horário de Brasília). O resultado do sorteio será divulgado neste mesmo post em até uma semana após o término das participações.
- Ganhadores receberão um e-mail de contato. Caso não haja resposta em até 48h, faremos outro sorteio.
- Perfis fake serão automaticamente desclassificados, bem como aqueles que não cumprirem as regras obrigatórias dos formulários.
- O envio das premiações será por conta dos colaboradores, em até 60 dias. 



NOSSOS VENCEDORES!!


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Boa Sorte no Sorteio e Boas Leituras

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segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Vale a Pena Ler de Novo: “Gente que Convence” (Eduardo Ferraz)

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Por Kleris: Na escola, próximo do vestibular, a coordenação pedagógica costuma avaliar os alunos por suas aptidões em testes vocacionais. A gente considera nossos pontos fortes e fracos, conhece as áreas de mais interesse, analisa nosso perfil iniciante. Mas e depois de entrar na faculdade? E depois de começar a trabalhar? E depois de trocar de trabalho? Como (re)avaliar quem somos no mercado e como podemos melhorar?

Gente que convence é um livro para potencializar nosso desempenho, em qualquer área e propósito. Tem uma ideia? Um produto? Um serviço? Um talento? Não é convencer por convencer, nem manipulação, tampouco pra vender uma coisa aqui e ali. A compreensão comportamental aqui é, com certeza, uma luz para todo aquele que quer ser fiel à sua personalidade, alinhar perfil e trabalho e não sabe o que tá fazendo não sabe por onde começar. 

Para convencer você precisará, muitas vezes, quebrar uma barreira invisível – como se fosse uma barreira invisível (as pessoas se veem, mas não interagem de verdade) que variam de alguns centímetros a metros de espessura. Essa barreira chama-se desconfiança e quanto mais espessa, pior será o processo de comunicação.

É através de uma abordagem de coaching que Eduardo nos pega pela mão e senta com a gente para fazer as coisas acontecerem. Ou pelo menos entender como chegar lá. Passo a passo, com avaliações pontuais, com cases para análise e pausas para reflexão. Com foco. Com paciência e valoração do trabalho. 
[...] valorize ao máximo o que você tem, mas não invente! 
Em todos esses anos, aprendi que o mais importante na arte de convencer é usar estratégias que sejam coerentes com seu estilo de vida. O grande objetivo é convencer sendo autêntico.

O autor parte da ideia de autoaceitação e melhor uso de características e/ou habilidades para mover qualquer propósito. Ao sermos verdadeiros, nossas opções de caminho se abrem com mais clareza, sem precisar tomar atitudes drásticas ou até trágicas. Se a gente tá forçando a barra, é porque algo não tá bem alinhado (vide aqui). E isso não é “papo furado”. É algo que SÓ VOCÊ pode fazer isso por si mesmo se quer atingir o sucesso. Vale aqui um olhar estratégico.
Leva enorme vantagem quem conhece bem suas aptidões e seus pontos limitantes. Um bom persuador sabe que não adianta aceitar atribuições que não domina, pois perderá credibilidade e, com isso, seu poder de convencimento.

Vamos do autoconhecimento (perceber e analisar características, perfis e potenciais, limites de personalidades) às técnicas de convencimento (auxiliar no conhecimento dos gatilhos, quais são os que devemos acertar – pra saber o que vende, o que motiva, como aplicar, e o que faz a diferença nos contextos). Apenas deixe lápis e borracha à mão, pois tem variados testes (e orientações) pra te ajudar na caminhada. 


Que tal trocarmos a expressão “levo jeito” por “tenho potencial”? [...] Um adulto que se expressa naturalmente bem no dia a dia tem bom potencial para se tornar um ótimo orador, mas precisará aprender técnicas que o auxiliem a usufruir ao máximo esse potencial. [...] ter bom potencial de convencimento facilita bastante, mas não é garantia de bom desempenho. Por outro lado, ter baixo potencial de convencimento exigirá disciplina e estudo para chegar a bons resultados. 
[...] é muito improvável que um adulto tímido se transforme em extrovertido, pois isso faz parte da estrutura de seu prédio/personalidade. Não obstante, essa pessoa pode mudar o acabamento de sua personalidade/prédio ao aprender a falar em público, expressar-se com mais clareza e até participar de alguns eventos sociais, sem deixar de ser, na essência, uma pessoa introvertida e reservada a maior parte do tempo.

Para além destes passos teóricos, há diversos cases discutidos, que vão das relações pessoais às profissionais, para se encontrar e melhor analisar as posturas. É assim que Eduardo nos abre os olhos e faz deste livro uma leitura necessária. A linguagem clara e acessível ajuda bastante nesse quesito, o que faz da leitura um sopro até. Outro fator excelente são as epígrafes nas entradas de capítulo. Elas atingem o alvo de cara! 
Há dois tipos de pessoas: as determinadas e as indeterminadas. As primeiras sabem aonde querem chegar. As outras nem sabem onde estão. Marina Pechlivanis. 
Maldição do conhecimento é a dificuldade de imaginar como é, para o outro, não saber o que você sabe. Steven Pinker.

Sim!

Gente que convence é um livro que mescla teoria e prática e abre nosso campo de ação. É possível entender claramente onde nos adequamos, como funcionamos, que pontos precisam de atenção, quais posturas dão resultado. Você abre o livro inseguro e o fecha determinado – e até arrisco dizer que surpreso consigo mesmo. Vale a pena ter na estante para revisitar e tomar boas notas sempre.

Se recomendo? Com toda a certeza! 
[...] só damos valor às coisas quando estão no contexto adequado.

Ainda não tá convencido? Baixe as primeiras páginas do livro aqui e dê uma espiada no conteúdo. Os testes também se encontram no site. Você ainda pode conferir pequenos vídeos do Eduardo dissertando sobre temáticas do livro aqui.

Até a próxima!

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Ana Liberato