Neste mês de Janeiro estamos em recesso, mas preparamos para você, caro leitor, uma seleção com nossas resenhas mais acessadas de 2017.
Enquanto isso, prepare-se para todas os lançamentos e novidades de 2018.
*Por Mary*: Já diria minha bestie Alice: “Estou #socada”
Quando a Editora Pensamento publicou este livro, e li a sinopse, acreditei se tratar apenas de mais um romance açucarado (o que eu, por sinal, adoro!). Notei a semelhança com Outlander, parecendo, porém, manter o enfoque no romance.
E qual não foi a minha surpresa ao me deparar com um livro extremamente bem estruturado, com fundamentos originais e uma reflexão inteligentíssima a respeito do papel do cristianismo no fortalecimento do patriarcado.
Igual Outlander, só mesmo a Escócia e o mote de viagem no tempo. Nem mesmo a maneira de viajar é semelhante e, a propósito, a justificativa usada pela autora é fantástica! Eu nunca pensaria em algo assim, creio.
- Mas e se o tempo não é o que pensamos que seja, uma maldita coisa atrás da outra? E se o que conhecermos não for apenas uma série de imagens, mas semelhante a um holograma? Se o todo estiver contido dentro de cada parte, então viajar através do tempo não seria tanto uma questão de deslocamento, e sim, de olhar mais fundo dentro da imagem.
- Agora eu sou obrigado a discordar de você – diz Jim. – Não vejo como tudo poderia estar acontecendo ao mesmo tempo, se uma coisa é a causa de outra. Olhe, nessa lista de reis, o seu rei Murdoch vem logo depois do rei Eochaid.
Maggie vive sob a névoa de torpor causada pela medicação que toma para controlar a epilepsia. Divorciada, e com um filho morando no colégio interno, muda-se para um solitário chalé aos pés das ruínas de Dunnad, berço da realeza da Escócia.
Há muito, Maggie aprendeu a conviver com os sonhos vívidos pós-convulsão, que parecem transportá-la a outros tempos. Tempos imemoriais. Já discutiu teologia com Mary Stuart, deu uma voltinha com Napoleão e fugiu dos ingleses de mãos dadas com William Wallace. E é em um desses sonhos que vai parar na Dunadd do Séc. VIII, quando esta ainda abriga a realeza escocesa.
Ao voltar, os detalhes surpreendentemente reais de seus sonhos a confundem. Maggie percebe, a partir de informações e lugares, que tudo pode ser mais do que uma alucinação. E se não for? E se for realmente uma viagem no tempo?
Ali, conhece Fergus, um lord medieval irmão do rei, guerreiro bravo e gentil, que ainda sofre com a perda prematura de sua esposa e é pai de uma garotinha adorável, Illa, que guarda uma semelhança assombrosa com a falecida filha de Maggie, vítima de complicações decorrentes também da epilepsia.
A cada viagem, Maggie se torna mais e mais próxima de Fergus e sua filha, até já ser chamada de mo chridhe – meu amor – pelo príncipe medieval. Determinada a ficar de vez no passado, as demandas do presente a chamam de volta e Maggie terá que tomar uma decisão definitiva.
Eu me sinto uma tola por conjurar meu cavaleiro medieval, mas fazia muito tempo que eu não ansiava pelo toque de um homem. A medicação anticonvulsivante em minha vida adulta cobrou seu preço sobre a libido. Como Oliver cansou de me acusar. Mas a escolha estava entre ser uma mulher consciente ou uma mulher ardente , e, no final das contas, com todas as exigências de ser uma esposa e mãe, a frígida tomou as rédeas. Mas, no meu sonho, com minhas mãos prestes a tocar os cabelos de Fergus, frigidez era a última coisa que eu estava sentindo. Pela primeira vez desde que Ellie morreu, eu captei uma pequena insinuação de esperança, logo abaixo do externo.
Com um romance instigante e envolvente, Véu do Tempo alterna narrações em primeira e terceira pessoa. Esse recurso viabiliza a ampliação da gama de tramas abordadas, uma vez que dá voz à nossa protagonista Maggie e, também, apresenta os conflitos pertinentes a Fergus, nosso príncipe medieval.
E como se já não bastasse a obra dolorosamente instigante, Claire McDougall administra com indiscutível maestria a narração, a tal ponto que se pode distinguir, suavemente, as características predominantes dos personagens. A tristeza de Maggie, por exemplo, e a natureza rudimentar de Fergus.
- Não pense que é fácil para mim, esquecer Saraid.
- Já estava na hora, no entanto – disse Talorcan. – Os mortos não são para serem mantidos conosco, como que guardados em caixas. Eles têm suas vidas, não mais conosco, exceto pelos momentos em que o véu se abre. Mas isso não depende de nós.
Lendo a sinopse, sem dúvida esperamos um romance bobo, leve. O que encontramos dentre as páginas de Véu do Tempo, contudo, é uma trama inteligente e bem desenvolvida, elaborada de forma hábil por uma escritora que demonstra conhecer profundamente a matéria sobre a qual está apresentando.
Mais que isso, Claire nos presenteia com um texto bastante detalhista, trazendo informações com um nível de minúcia que chega a impressionar. O texto é bastante descritivo, aliás, o que, para um leitor ávido por ação, pode se tornar cansativo. Por outro lado, essa característica nos faz sentir como se de fato fôssemos transportados para a Escócia do Séc. VIII.
Os portões foram abertos e ele navega para dentro, parando apenas para esperar que a parede em mim ceda. Quero esperar, segurar um pouco, não deixar que ele deslize tão cedo. Se pudéssemos parar de respirar, ficar parados e nos manter assim por mais um momento... Mas é tarde demais. Estou caindo. Tudo está desmoronando e eu estou na borda, agarrando-me a ele porque do outro lado há apenas a queda.
De maneira incidental, a escritora traça uma análise por vezes sarcástica da influência do cristianismo sobre os povos no início da Idade Média, transformando este período na Era das Trevas, como a conhecemos hoje em dia, além de promover o patriarcado e reforçar a perda do sagrado feminino.
Ao longo de suas páginas, Claire R. McDaugall guia o seu leitor por caminhos tortuosos e agoniantes, deixando-o cada vez mais ansioso por descobrir a decisão da protagonista. Me vi diversas vezes espiando as páginas seguintes, no afã de descobrir o que iria acontecer adiante.
- Beleza... o que isso significa para mim? Um enfeite para o homem cujos olhos não veem longe. Juventude é algo que eu próprio já não possuo. O tempo me trouxe cicatrizes e sabedoria. Como eu poderia confiar a mim mesmo ou minha filha à juventude que nada sabe sobre isso, que não tenha propriamente vivido?
Sendo assim, se você quer um romance original, passeando pelas belas paisagens da Escócia, tendo a chance de viver uma época diferente e com uma análise quase cética dos valores religiosos – tudo isso embrulhado de presente em uma trama muito bem elaborada – com certeza precisa ler Véu do Tempo.
Ele toca minha boca com a sua; não é um beijo, apenas uma pergunta de algum tipo.
- Diga-me quem você é, Ma-khee.
Poderia dizer algo que não é verdade, mas isso iria abalar este momento.
Retiro os meus lábios do calor de sua boca e respondo:
- Eu não sei quem eu sou.
Ele olha para os anéis na rocha e, lentamente, tira as mãos de mim.
- Quem é você? – pergunto, atraindo seus olhos de volta para mim. – Eu sei que você se chama Fergus, não sei quem você é na verdade.
Seu sorriso fugaz brilha por um instante.
- Eu sou apenas o irmão do rei – diz ele. – O triste irmão do rei.
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Como não conhecia o livro, estou aqui meio sem saber o que pensar. Assim, eu tentei começar a ver Outlander e? Odiei.rs(não me bata)
ResponderExcluirMas a série não conseguiu me convencer e abandonei depois de ver a primeira temporada inteira reclamando.
Ainda não pude ler os livros e nem sei se farei isso um dia,mas...
Eu sou uma romântica incurável e amo estes lances de viagem no tempo e por tudo que li acima, a história parece ser muito boa.
Vou por na lista de desejados, quem sabe eu não consiga ler em um momento diferente do que tentei Out?
Beijo