sexta-feira, 30 de março de 2018

Resenha: "The Animals of Farthing Wood" (Colin Dann)



Por Marianne: Como a maioria das crianças nascidas nos anos 90, boa parte da minha infância foi sentada no sofá assistindo à programação da TV Cultura ♥. Tenho muito carinho por boa parte dos desenhos e programas exibidos na época e tenho certeza que muitos deles foram essenciais na minha formação de caráter (sou dessas). Mas um, em especial, sempre teve um lugarzinho guardado no coração desde sempre e me fez ficar UM ANO (SÉRIO) baixando todos os episódios no torrent lá por 2006, 2007 eram poucos seeds + internet ruim do cão e muita determinação.
O tão amado desenho é Os Animais do Bosque dos Vintens. Não lembra? Ouve a musiquinha e vem chorar comigo:
[Muitas lágrimas depois]
Depois de reassistir os episódios e só reafirmar meu amor pela obra decidi pesquisar mais sobre a história. Não fiquei surpresa quando descobri que o desenho, assim como muitos outros clássicos da TV Cultura —Babar, por exemplo— foi baseado em uma série de livros que infelizmente nunca foram publicados no Brasil. Mas não ter sido publicado no Brasil era apenas um detalhe. Eu precisava, eu queria muito ler o livro que originou o desenho e tirar minhas conclusões sobre a obra. Eis que no Natal de 2015 meu excelentíssimo namorido me presenteia com uma edição publicada em 1980 (o livro foi publicado em 1979, tenho orgulho de saber que tenho uma das primeiras publicações dessa belezinha) encontrada depois de muito garimpo no Ebay, vindo direto da AUSTRÁLIA pros meus braços. 

Pra quem lembra do desenho não é difícil entender o sentimento de conforto e nostalgia que essas produções despertam na gente. Eram tempos bons, tempos de Toddy e bolacha waffer na frente do sofá, sem maiores preocupações...
Mas afinal, sobre o que é a história? 

O Bosque dos Vinténs é um lugar que abriga todo tipo de vida. Raposa, texugo, cobra, sapo, coruja, porco espinho, todos vivem tranquilamente no bosque . A vidinha pacata dos animais acaba quando a construção de um shopping exatamente no bosque é iniciada.

Os animais, que naturalmente não são todos amiguinhos, pois ali vivem presas e predadores, convocam uma reunião que só é organizada em tempos de emergência para decidir o que fazer.
É nessa reunião que o sapo menciona o Parque do Cervo Branco, área protegida onde os animais vivem tranquilamente sem a intromissão dos humanos. É então que os animais decidem, juntos, iniciar sua jornada ao Parque do Cervo Branco.

É durante a jornada que o livro me cativa e se mostra diferente de alguns clássicos infantis. Existe um pacto feito entre os animais em que durante a jornada eles irão proteger um aos outros e que, entre eles, o ciclo da cadeia alimentar será ignorado até chegarem ao Parque.

A jornada até o parque não é nenhum mar de rosas. Muitos animais morrem no caminho (o que é mostrado bem graficamente no desenho e eu assistia com a maior naturalidade lá pelos meus 4 anos de idade), alguns simplesmente decidem abandonar o grupo, outros se juntam a eles.

O que mais me agrada no livro é o fato de ele ser escrito para o público infantil e mostrar de forma clara e objetiva a morte, o luto, conflitos, situações adversas que exigem uma mudança, e todo um grupo de diferentes espécies com diferentes interesses lidando com isso.

Quem quer dar uma chance pra um livro em inglês vale a tentativa, acredito que seja possível encontrar versões no Ebay e Amazon, e todas as vezes que procurei esse livro em livrarias gringas, eu encontrei. 

Pra mim, um clássico que deveria por lei fazer parte da infância de toda criança e vale a pena ser lido pra quem era fã do desenho.

Espero que tenham gostado da resenha, até a próxima!


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terça-feira, 27 de março de 2018

#Infinistante: Clube do Livro (Março 2018)

Olá, Pessoas!!!

Mais um mês e mais uma leitura do Clube do Livro #Infinistante. E para Março a proposta da Loma foram dois livros. Vamos deixar que ela justifique sua escolha:

Tem um motivo pra gente colocar dois livros esses mês. Como a gente explicou lá na FAQ, a gente está empenhada em buscar saber se os livros se adaptam ao nosso público, e acontece que Me Chame Pelo Seu Nome tem um conteúdo um pouco mais adulto, e a nossa recomendação é que ele seja lido por pessoas maiores do que 18 anos.
 Mas, ué, tem uma galera super legal no nosso clube que é menor de 18. E aí? Muito bem, a gente teve a ideia de colocar Simon vs. A Agenda Homo Sapiens na jogada pensando nesse pessoal. Assim, quem não se sente confortável em ler um conteúdo adulto pode focar nesse outro livro, que é um young adult mais levinho. E quem quiser pode ler os dois. Ou ler um só. Ou ler um agora e deixar o outro mais para frente. A escolha fica a seu critério, tá? Mas a gente precisava pensar nessa questão da idade e da temática de Me Chame Pelo Seu Nome que tem algumas cenas mais ~ ousadas ~.
 O mais legal é que os dois livros são de uma temática LGBTQ+. No primeiro, o personagem principal é bissexual e, no segundo, ele é gay. E, olha que incrível, as duas histórias foram adaptadas pro cinema este ano. Me Chame Pelo Seu Nome estreou em janeiro por aqui, e Simon entra em cartaz no dia 22 de março. Dá para ler os dois livros e fazer uma maratona dos filmes depois! Não é incrível?

O livro escolhido para estar aqui no Dear Book foi o:

Tradução: Alessandra Esteche

Por Eliel: Um Verão em uma cidade italiana e em algum momento dos anos 80 são o cenário desse romance arrebatador. A Itália por si só já tem um ar de romance no ar, seja por causa do calor dos verões ou do clima místico proveniente dos mitos romanos, e é aqui em uma cidade identificada apenas por B. que Elio descobrirá mais sobre si mesmo.

Os pais de Elio, de apenas 17 anos, têm o costume de receber em sua propriedade jovens escritores do mundo todo para uma imersão de estudos durante algumas semanas. Devido essa prática ele se vê obrigado a ceder seu quarto por longas 6 semanas a um estranho. Seria mais um verão comum, exceto pela chegada de Oliver, um escritor americano de 24 anos.

A história é narrada do ponto de vista de Elio que tem um conhecimento muito amplo do lugar em que vive. A riqueza de detalhes empregada na narrativa tem o delicioso efeito de nos inserir totalmente naquele tão bem conhecido pela personagem. Chego a duvidar até que ponto são fictícias as situações e pessoas descritas nesse romance.

Elio é praticamente um gênio, isso devido ao ambiente intelectualmente privilegiado. Seus pais são professores universitários e tem contato com pessoas de grande influência acadêmica. Tão jovem ele já tem um amplo conhecimento em na área da música e literatura. Oliver provoca novos sentimentos em Elio e diante dessa confusão que se instala na mente do jovem é que veremos através dos seus olhos como se desenvolve essa relação.

Com passagens bem ousadas e intensas, o autor conta de forma mais pura e verdadeira essa história de descobertas, amor, relações de desejo e responsabilidades. O que me chamou a atenção é que somente após 11 anos após a sua publicação é que chegou uma tradução e junto uma adaptação cinematográfica (não vou comentar porque não assisti). Um livro de uma poética mesclada com as emoções mais primitivas e instintivas do ser humano deveria ter alcançado o sucesso um pouco mais cedo.

Recomendo fortemente a leitura desse romance sobre a descoberta da bissexualidade de um jovem. Coloque-se no lugar e tente entender o que se passa durante a solução desse quebra-cabeças que deve se formar na vida dessas pessoas que por falta de exemplos ou informações claras não se sentem parte de nenhum grupo, pensem sobre como deve ter sido em uma década em que não havia a gama de informações que temos hoje em dia.


Se você está curtindo esse clube do livro, que tal se juntar e ler mais em 2018? Só clicar aqui para se inscrever.

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segunda-feira, 26 de março de 2018

Resenha: “Louca para Casar” (Madeleine Wickham)


Tradução de Alice França

Para Kleris: Como uma chicklitter de coração, não teria livro melhor pra começar o ano. Estava, aliás, precisando de um romance assim, bem gostosinho. Louca para casar calhou de esperar cerca de quatro aninhos na minha estante porque da última vez que o peguei, fora totalmente do clima, não rolou. Agora só penso em renovar meu estoque de chick-lits, pois de tempos em tempos preciso de doses cavalares de amorzinho assim.

Em seus 18 anos, Milly se aventurou num curso profissionalizante em outra cidade, e lá conheceu seu futuro marido, Allan. Mas não era um casamento comum... ou real. Eles casaram para que Allan pudesse ficar no país e ficar com Rupert, sua grande paixão. Após voltar pra casa, Milly nunca mais os viu.

Ao passar 10 anos, Milly está para subir o altar com Simon. Aquele casamento da juventude meio que foi esquecido, abandonado... apagado. Era o que Milly achava, sem se ligar dos trâmites legais e que poderia estar cometendo bigamia. O destino (in)felizmente traz alguém do passado para recobrar a consciência da mocinha e tratar de colocar desespero resolver a situação – antes que alguém descubra.

Enquanto Milly se revira para cuidar dos preparativos do casório, lidar com a família e suas crises, Madeleine nos leva para um significativo e maravilhoso passeio pelos relacionamentos de cada personagem envolvida nesta trama de família.

Primeiramente, a autora caprichou MUITO na construção da história e narrativa. Ao explorar de maneira primorosa os pontos de vista, ela instiga e guarda cada bomba que AAAAAAAAAAAAAAA! Mesmo na gana de querer sempre saber de um e outro personagem, o suspense da narração se torna algo tão gostoso que não te deixa largar o livro por coisa nenhuma.

Mas o que mais impressiona é como Madeleine retrata a vulnerabilidade de seus personagens e como se utiliza de uma situação para despertar a todos de suas realidades. Nesse sentido, sua voz narrativa funciona quase como um microscópio emocional que nos conduz perfeitamente às emoções e papeis de cada um na história. E assim se pauta o status, a instituição do casamento, as insatisfações pessoais, problemas familiares, preconceitos, as maneiras para agradar pessoas e as maneiras de ser feliz. 
Mas não era. Ele precisava de mais, queria mais. Desejava uma vida diferente, antes que fosse tarde. 
— [...] Quer dizer que o seu relacionamento perfeito não é tão perfeito como você pensava. E daí? Isso significa que você tem que jogá-lo fora, descartá-lo?

Não é uma mera história sobre casar e casar por status, ou de que o casamento deva ser uma relação pautada em regras (sociais ou religiosas), mas entender como todos têm seus problemas e que devem lidar não só com as consequências de suas escolhas, mas com seus reais sentimentos sobre tais escolhas. Chamada para tortas de climão? Com certeza!

Minha admiração pela Sophie Kinsella – sim! – aumentou. Para quem não sabe, Madeleine é o nome real oficial da nossa amada Sophie. Sem deixar suas tramoias de Kinsella de lado, Madeleine aqui desenvolve com uma escrita suave, realista e sóbria – sem aquele típico desespero ou mel exagerado, sabe?

Geralmente ela me deixa a sensação de estar sempre à frente de tudo. Não foi muito diferente em Louca para casar – que, me perdoem, me parece um título injusto para tal obra. Com toques de girl power, desromantização de instituições sociais, feminismo e femismo, love is love, e conflitos, muitos conflitos internos, Madeleine dá um show de ficção. 
Sem a intenção de enganá-lo, mas também sem querer desapontá-lo, ela lhe permitiu formar uma imagem que, sinceramente, não era de todo verdadeira. [...] Tudo o que era precisava era mudar o modo de se vestir, fazer alguns comentários inteligentes ocasionais e permanecer discretamente calada o restante do tempo. 
— O que estou dizendo é que não existe casamento baseado na verdade — corrigiu Esme. — Felicidade é outra coisa.  

Destaque para a personagem principal, Milly, que apesar de ser a mocinha confusa, é uma heroína e tanto. Madeleine, aliás, trabalha bem essa questão de impressões e narrativas que pessoas têm de outras pessoas. Rupert, Isobel, Simon, Allan, James, Olivia e – vá lá – Harry também não ficam pra trás. Só sei que foi difícil deixá-los ao finalizar o livro. Você quer descobrir tudo, acompanhar tudo, pirar com tudo, menos deixar o livro acabar. 
— Não vivo para o trabalho. — Isobel pousou a caneca na mesa com força. — Sou apenas uma pessoa que trabalha.
— Eu não quis dizer...
— Mas disse! — retrucou Isobel, exasperada. — Vocês pensam que minha vida se resume a isso, não é? Uma carreira e nada mais. Vocês esqueceram todos os outros aspectos.

Por fim, Louca para casar é aquele livro que sabe ser amorzinho, mas sabe também nos deixar em reflexão com nossos ideais internos. Recomendadíssimo! 
— Tenho certeza de que você e Milly serão muito felizes. Nem todo mundo tem a mesma sorte.
— Não é uma questão de sorte — retrucou Simon furioso. — Sorte não conta! — Ele fitou James e Olivia. — O que vocês acham que faz um casamento dar certo?
— Dinheiro — respondeu Olivia antes de dar uma gargalhada. — Brincadeira!
— É cumplicidade, não é? — perguntou Simon. Ele se inclinou para frente com ar sério. — Compartilhar, dialogar, conhecer um ao outro profundamente.



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sexta-feira, 23 de março de 2018

Resenha: "Matéria Escura" (Blake Crouch)

Tradução de Alexandre Raposo

Sinopse: Essas são as últimas palavras que Jason Dessen ouve antes de acordar num laboratório, preso a uma maca. Raptado por um homem mascarado, Jason é levado para uma usina abandonada e deixado inconsciente. Quando acorda, um estranho sorri para ele, dizendo: “Bem-vindo de volta, amigo.”
Neste novo mundo, Jason leva outra vida. Sua esposa não é sua esposa, seu filho nunca nasceu e, em vez de professor numa universidade mediana, ele é um gênio da física quântica que conseguiu um feito inimaginável. Algo impossível. Será que é este seu mundo, e o outro é apenas um sonho? E, se esta não for a vida que ele sempre levou, como voltar para sua família e tudo que ele conhece por realidade?
Com ritmo veloz e muita ação, Matéria escura nos leva a um universo muito maior do que imaginamos, ao mesmo tempo em que comove ao colocar em primeiro plano o amor pela família. Marcante e intimista, seus múltiplos cenários compõem uma história que aborda questões profundamente humanas, como identidade, o peso das escolhas e até onde vamos para recuperar a vida com que sonhamos.


Fonte: Skoob

Por Stephanie: É difícil existir uma pessoa totalmente satisfeita com a própria vida e as com as decisões que toma. Todos temos momentos em que nos fazemos a famigerada pergunta: “E se…?”, quando pensamos em algum acontecimento do passado. Matéria Escura aborda exatamente estas possibilidades e como as consequências de nossas decisões vão se formando de acordo com o que escolhemos.

Não acho que seja spoiler falar o tema principal da obra, mas mesmo assim vou tentar não entregá-lo durante a resenha. É um tema que eu particularmente gosto bastante e que pode funcionar muito se for feito de maneira correta, como é o que acontece em Matéria Escura.

Blake Crouch tem uma narrativa bem visual; os primeiros capítulos se parecem muito com um roteiro de filme e a gente já fica preso à história de imediato, sem vontade de parar a leitura. Depois do ritmo frenético do início, o enredo dá uma freada, mas sem perder o clima de mistério que acompanha o livro todo.
Não há avisos quando tudo está prestes a mudar, a ser tomado de você. Nenhum alerta de proximidade, nenhuma placa indicando a beira do precipício. E talvez seja isso o que torna a tragédia tão trágica.
É meio difícil falar sobre os personagens sem entregar parte do enredo, mas o que posso dizer é que Jason é um ótimo protagonista. Um pouco clichê do gênero de ficção científica, mas que consegue se destacar devido ao seu amor pela família e sua determinação. Os personagens secundários deixaram um pouco a desejar; a maioria foi pouco aprofundada e senti falta de conhecer melhor o background de alguns deles.

O que me deixou um pouco decepcionada foi a resolução final do mistério. Acho que o autor foi meio preguiçoso ao resolver um problema tão complicado de maneira tão simplista. O final, apesar de fechado, dá margens para uma continuação. Talvez ele tenha feito desta maneira porque desde a concepção do livro os direitos já estavam vendidos para a Sony e a obra se tornará um longa-metragem em breve.
Não posso deixar de pensar que somos mais do que a soma total de nossas escolhas e que todos os caminhos que poderíamos ter trilhado influem de algum modo na matemática da nossa identidade.
De qualquer forma, eu recomendo Matéria Escura para qualquer um, até para os que não são muito fãs de sci-fi. As explicações mais teóricas são expostas de maneira simples e sem subestimar a inteligência do leitor, e o ritmo acelerado consegue manter a curiosidade aguçada a cada capítulo que passa.

Até a próxima!
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segunda-feira, 19 de março de 2018

Resenha: "Os Criadores de Coincidências" (Yoav Blum)

Tradução: Fal Azevedo

Sinopse: E se o trem que você perdeu, o café que derrubou, o bilhete que encontrou não forem eventos aleatórios? E se o destino do mundo estiver sendo manipulado por pessoas especializadas em criar acasos?
Neste romance best-seller do israelense Yoav Blum, o destino é o protagonista – mas ele não depende de sorte ou intervenção divina.
Emily, Eric e Guy trabalham numa espécie sobrenatural de organização secreta há alguns anos. Eles estudaram disciplinas como interferências em sonhos, distribuição de sorte e como ser amigos imaginários, até se tornarem criadores de coincidências. Agora, de tempos em tempos, recebem complexas missões a serem executadas. Seu trabalho é permanecer na área cinzenta entre destino e livre arbítrio, onde eles criam situações que criam situações que criam mais situações que darão origem a pensamentos e decisões, gerando os mais diversos resultados: o encontro de almas gêmeas, invenções que podem mudar o mundo, a inspiração que dará origem a obras-primas.
Mas, quando Guy recebe uma missão especial, que vai além daquilo que ele acredita poder fazer, as coisas começam a se mover de forma a mudar tudo o que os criadores de coincidências entendem sobre a vida e a verdadeira natureza do amor.
Um thriller improvável sobre os operários invisíveis que mantêm girando as engrenagens do acaso.

Fonte: Skoob

Por Eliel: Uma narrativa leve dessas que em uma tarde chuvosa com um bom café pode ser devorada em um fôlego só. Aparentemente, é apenas uma coletânea de pequenas histórias de coincidências cotidianas onde o fio que as liga é um desses funcionários sobrenaturais dessa organização secreta que arquiteta todas essas pequenas brincadeiras do destino.

Entretanto, além de um romance bem arquitetado é um thriller surpreendente. Se você gosta de plot twist, aqui vai encontrar uma enxurrada deles. Quando estiver entendendo a narrativa ela vai se virar e mostrar que ainda tem muito para entender, e assim vai até os últimos 4 primeiros capítulos (só vai entender quem ler).

Uma coisa que me incomodou foi que algumas histórias ficam sem final para o leitor. Mas, esse incomodo logo passou ao entender que esse livro não é sobre essas histórias e assim como na vida real não sabemos o final de um encontro de um casal na mesa do lado, será que viveram felizes? Será que aquele foi o último encontro? Isso na verdade não nos interessa, afinal a narrativa que ansiamos em desvendar é a nossa própria.

Guy, Emily e Eric são nossos protagonistas, é neles que temos que prestar a atenção. Eles se formaram juntos na turma de Criadores de Coincidências e se tornaram amigos inseparáveis. Todos são muito eficientes no que fazem.

Emily tem uma paixão platônica por Guy, e ele é apegado a um amor antigo por Cassandra, uma mulher que ele conheceu quando trabalhava como amigo imaginário de um menino. Desde o primeiro momento, Guy e Cassandra tiveram uma ligação que iria além de suas próprias existências. Emily sabia que jamais haveria lugar para ela no coração de Guy.

- Então o que eles dizem parece ser verdade. Quando a pessoa certa está ao seu lado, você tem uma sensação de pertencimento, onde quer que esteja.

Com um ritmo frenético somos apresentados a questões de cunho filosófico sobre questionamentos comuns da humanidade. A leitura pode até ser rápida, mas o efeito que ela causa pode ser comparado ao Efeito Borboleta (parte da Teoria do Caos), onde o simples bater de asas de uma borboleta em uma parte do planeta poderia causar um furacão do outro lado dele.

A estrutura organizacional dessa "empresa" é abalada quando Guy recebe uma missão que ele tem certeza que não poderá cumprir. Somente quando o envelope passa por baixo da sua porta com as instruções para o seu próximo trabalho é que sentimos que a aventura realmente começa (e não para).

Um romance bem original, envolto em mistério que vai fazer você querer que todos leiam para poder discutir um milhão de teorias na mesa do bar, no café ou onde o destino te levar. Após ler esse livro as coincidências não vão te parecer apenas o que parecem ser.

P.S.: Estou tentando digerir o final até agora, sensacional.


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sexta-feira, 16 de março de 2018

Resenha: “Correndo Para Você” (Rachel Gibson)

Tradução de: Caroline Caires Coelho

*Por Mary*: Olaaaar, pessoas lindas! Saudades?

Leia também:


Sei que faz um tempo que não dou as caras por aqui, mas marco meu retorno (ou quase) com esta autora que tanto admiro, que sempre nos presenteia com histórias envolventes, sexies e extremamente viciantes.

Não sei especificar ao certo, se por conta do momento que estou vivendo ou se pelo simples fato de já ter lido muitos livros desta autora, mas desta vez não sofri o mesmo impacto dos títulos anteriores. Com isso, não quero dizer que o livro é ruim – porque não é! – mas que, para alguém que já leu muitos dos livros de Rachel, talvez este não vá trazer grande novidade.

- Por favor, pare. Você está piorando as coisas – ela murmurou, enquanto procurava não pensar que poderia ter pulado da frigideira direto para o fogo. – Sei que não nos conhecemos, mas você poderia tentar me oferecer um pouco de apoio, agora. Ser minimamente solidário.
Ele pegou a saída da esquerda em direção ao aeroporto e perguntou:
- Como?
Era sério? Era ela que precisava pensar em coisas positivas para ele dizer?
- Você poderia tentar dizer: “Veja pelo lado positivo, Stella”.
- Você provavelmente quebrou a mão já aleijada de um homem. Qual é o lado positivo?

Nas resenhas anteriores desta escritora, comentei com vocês que uma de suas principais características é a intertextualidade (o que eu, por sinal, adoro!). Pois bem, se estão com saudades de Vince e Sadie, tenho boas notícias, pois Correndo Para Você nos apresenta a Stella, irmã mais nova de Sadie, e Beau, um fuzileiro naval durão, que é contratado por Vince para encontra-la.

Stella tem uma vida consideravelmente comum como garçonete em Miami, até que um grandalhão loiro atravessa seu caminho e, como um furacão, traz novidades que prometem mudar sua vida. Bem, talvez furacão não fosse bem a palavra mais adequada... que tal “explosão”? Com a força de uma explosão – acreditem, ele sabe como fazer uma – Stella precisa confiar no estranho bonitão que surge no seu caminho para salvá-la da encrenca em que se meteram, ainda que os dois, digamos, tenham personalidades bem distintas.

- Sim. Se quiser ir embora agora, nós vamos. Não é tarde demais – ele apontou para trás, por cima do ombro, para o Escalade preto. – Se quiser sair daqui a dez minutos, tiro você daqui.
Em poucos dias, ele havia se tornado sua âncora. Sua rocha. A força tranquila a seu lado. E, em poucos dias, ele iria embora. Pensar nisso a deixou ainda mais assustada.
- Com explosão?
- Se você quiser, sim. Damos um jeito. É só dizer.

Conforme comentei acima, este novo título não foge do que já conhecemos de Rachel Gibson. Com narração em terceira pessoa, a autora dá especial atenção à sua protagonista, realizando, claro, visitas rotineiras e convenientes a Beau, a fim de proporcionar ao seu leitor a consciência dos sentimentos do protagonista em relação à baixinha invocada que se tornou sua “missão” mais complicada.

- Quando ontem à noite eu disse que amo você, estava sendo sincera. Eu amo você, Beau.
Ele olhou para ela com seu olhar de sargento Junger e disse, não sem certa razão:
- Você me conhece há doze dias.
Mas o amor não tinha nada a ver com razão ou dias do calendário.

E aí vocês devem estar pensando: “Puxa, Mary, isso que dizer que o livro novo é só ‘mais do mesmo’?” E eu respondo com um sonoro NÃO!

Significa dizer que, embora estejamos em nossa zona de conforto, Correndo para você oferece muito romance, muita sensualidade, muito fogo e, claro, boys magyíssimos exalando testosterona por todos os poros. Sem falar, ademais, da oportunidade de revisitar personagens dos quais, como se fosse um amigo querido, sentimos saudades e da fofoca inconfundível que somente Lovett é capaz de produzir.

- O Beau me disse que ele é o gêmeo bom. É isso mesmo?
- Depende – Blake suspendeu um dos ombros e ergueu as sobrancelhas para o irmão. – Bom em quê?

Portanto, caro leitor, se você busca um romance à flor da pele, com uma pitadinha de implicância, um toque de teimosia e personagens tão cabeças-duras, que nos fazem querer, por vezes, tacar o livro na parede, esta é a escolha certa.

- Eu amo você.
Ela baixou os braços e teve medo de piscar. Medo de que fosse um sonho.
- Você disse que não me amava.
- Eu sou um idiota. Pensei que o amor acontecesse como tiros ou uma explosão – ele afastou a fumaça com a mão. – Eu estava enganado. O amor acontece com um sorriso de cada vez. Um belo e tortuoso sorriso por vez. A cada vislumbre dos seus olhos. A cada toque da sua mão. A cada som da sua risada.

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segunda-feira, 12 de março de 2018

Resenha "Os Últimos Dias da Noite" (Graham Moore)

Tradução Jorio Dauster



'Se você observar com cuidado. Vai ver que a maioria dos sucessos instantanesis levou muito tempo para acontecer' (Steve Jobs)
Por Mari Diniz: Se estiver procurando uma boa ficção, já adianto, Os Últimos Dias da Noite é uma boa escolha. No cenário de uma Nova York de 1888, envolta no clima das grandes invenções, a disputa entre dois grandes inventores torna-se a base principal para o enredo do livro.  Porém, a disputa que para leigos poderia ser mais incompreensível do que interessante, é muito bem explicada pelo fato de nosso personagem principal, também um leigo, ser o advogado a defender um dos protagonistas da desavença.

Diferente de alguns livros um pouco mais grossinhos, Os Últimos Dias da Noite não é um livro que engatinha a dar um estimulo ao leitor, tão pouco engatinha quando estamos mais para a metade da leitura. Em alguns momentos o livro pode parecer um pouco mais lento, porém sempre há algum novo acontecimento na história para voltar a leitura. Com um ritmo muito fomentador, a história é cheia de seus altos e baixos e sacadas para quem não é advogado e muito menos cientista possa entender e se entreter. A leitura não tem nenhuma dificuldade e até alguns poucos termos científicos vão sendo desmistificados pelo fato do nosso narrador contar a historia a partir do nosso leigo advogado.
Paul absorveu o que lhe fora dito. Como poderiam explicar tudo aquilo aos potenciais fregueses, sem exigir que cada um deles enfiasse as mãos num gerador CA? Ter um sistema melhor do que o de Edison de nada serviria caso não pudessem explicar ao publico porque era melhor. A realidade não valia nada; a percepção era o busílis. Edison tinha se dado conta disso antes deles. Enquanto Westinghouse usava as descobertas de Tesla para criar um produto superior, Edison partira para criar uma história superior.
Um dos pontos mais interessantes do livro é a mistura entre a realidade e o que o autor brilhantemente cria. Nas páginas finais do livro, há uma agradável explicação de quem foram todos os personagens e que fatos que ocorreram no livro são verdadeiros. A criatividade do autor em organizar fatos aleatórios cronologicamente para que o desfecho do livro finalize a partir da sua criação foi uma das coisas que mais me chamou atenção ao observar a obra como um todo.

O livro tem outros detalhes que também adicionam outros pontos positivos, como citações de grandes nomes no inicio de todos os capítulos, como Steve Jobs e Bill Gates, além de um mapa que marca todos os pontos principais em que o livro se passa. O nome do livro também é muito curioso, um dos primeiros motivos pelo qual me interessei em lê-lo, por se tratar de uma corrida pela chegada da luz elétrica nas cidades, e o teórico “fim da escuridão”.

‘Em Edison, os senhores têm um inimigo comum’, disse Paul.
Westinghouse ignorou esse comentário ‘O que é que o senhor produz?’, ele perguntou.
‘Pensamentos’, Tesla respondeu, como se falasse com uma criança. ‘Tenho pensamentos. E as coisas que imagino vão durar mais e ter mais efeitos nos próximos séculos que os seus brinquedos frágeis.’
‘As muitas coisas que construí vão durar muito tempo’
‘Não, sr. George Westinghouse. As construções são efêmeras. Só as ideias duram pra sempre.’
Há até mesmo espaço para um pouco de romance, embora não seja um dos pontos principais do livro. Paul se apaixona por uma cantora que surge como uma de suas clientes e não se torna apenas uma companheira romântica para o personagem, mas também se envolve no desenvolvimento principal da narrativa.

Recomendo o livro pra quem gosta de história, quem gosta de disputas jurídicas, quem gosta de uma ficção, ou pra quem procura uma boa leitura.
Que sentiria um homem criativo? Como seria viver suas descobertas, excitar-se com suas loucuras inventivas? Paul tentou imaginar o que um Edison, um Tesla, um Westinghouse poderiam sentir em um momento de pura inspiração... Mas ele não era capaz daquilo. Paul não inventava: ele resolvia. Os problemas chegavam à sua escrivaninha e ele os solucionava. Respondia a perguntas, corrigia erros. Se alguém lhe fizesse uma pergunta, ele era excepcionalmente bom em fornecer uma resposta. Porém, não era o tipo de pessoa apta a formular questões.

Até a próxima!
Mariana Diniz

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Ana Liberato