Sinopse: Numa ida rotineira ao supermercado, Stephen Lewis, escritor bem-sucedido de livros infantis, se depara com a maior agonia de um pai: Kate, sua filha de três anos, desaparece sem deixar rastros. Numa imagem terrível que se repete ao longo dos anos seguintes, ele percebe que a garota não vai voltar.
Com ternura e sensibilidade, Ian McEwan nos leva ao território sombrio de um casamento devastado pela perda de um filho. A ausência de Kate coloca a relação de Stephen e de sua esposa Julie em xeque, enquanto cada um deles enfrenta à sua maneira uma dor que só parece se intensificar com o passar do tempo. Vencedor do Whitbread Award, A criança no tempo discute temas como ausência, luto, culpa e as marcas indeléveis que um acontecimento pode deixar em uma família. Um romance surpreendente de um dos melhores escritores de sua geração.
Por Jayne Cordeiro: A Criança no Tempo é um drama, que trás como base o retrato de como um pai lida com o desaparecimento da filha pequena. O que por si só é algo bem profundo e dramático. Em muitos momentos da obra, acompanhamos os pensamentos do protagonista, e como ele passa por cada etapa de emoções que essa perda envolve. Vemos também como a relação dele com a esposa fica abalada e se quebra com o esse acontecimento tão devastador.
Ao tirar o salmão do carrinho, Stephen deu uma olhada para baixo, na direção de Kate, e piscou o olho. Ela o imitou, mas desajeitadamente, enrugando o nariz e fechando os dois olhos. Ele pôs o peixe na esteira e pediu à moça um saquinho. Ela meteu a mão debaixo de uma prateleira e lhe entregou o saquinho. Ele pegou e olhou para trás. Kate havia desaparecido. Não havia ninguém na fila atrás dele.
Achei a temática super interessante e em muitos momentos o leitor se emociona com o que lê. O autor consegue mostrar de forma madura e realista os sentimentos e atitudes que que um pai que perde uma filha deve passar. O desespero, a raiva e o luto. E tudo isso torna o livro riquíssimo, até porque o autor tem uma ótima escrita. A ambientação da história é interessante, e de certa forma atemporal, porque não dá para ter certeza sobre qual é o momento histórico em que se passa. Mesmo que saibamos que o livro foi escrito na década de 80.
Mas apesar de toda as qualidades na escrita, no drama central, o livro tem alguns pontos que a mim incomodou. Por mais que o livro cumpra a missão proposta pela sinopse de mostrar o sofrimento e a recuperação de um pai que perdeu a filha, para mim, o livro passa muito tempo com foco em outra situações, que acabam não tendo propósito nenhum. Particularmente, gosto de pensar, que todas as situações e diálogos em um livro ou filme, servem como uma ponte para algo na frente. Seja para levar o personagem a entender algo psicológico ou de uma situação. Mas isso não acontece aqui.
Devia haver algo carinhoso a dizer que não fosse nem frívolo nem o expusesse ainda mais. Mas só restava a conversa fiada. Só conseguia pensar em pegar a mão dela, e no entanto não o fez. Tinham exaurido as possibilidades, a tensão do toque, haviam chegado ao limite. Por ora, tudo estava neutralizado.
O protagonista visita familiares, amigos, frequenta reuniões que a longo prazo não acrescentam nada ao enredo ou continuidade da história. Essa ligação era muito mais visível quando ele visitava a esposa, e aí sim, conseguia ver um motivo, uma consequência daquele encontro. Então isso me incomodou, e me pareceu muito mais um desperdício de espaço no livro. A forma como o protagonista vai e volta em lembranças dele ou de histórias de outros personagens também deixou a leitura um pouco maçante em alguns momentos, o que fez a leitura ficar mai lenta.
Houve dias péssimos, quando quis morrer. Cada vez que aquela coisa voltava era mais forte e mais tentador. Sabia o que tinha de fazer. Tinha de parar de correr atrás dela em minha mente. Precisava parar de ansiar por ela, esperando vê-la na porta da frente. visualizando-a num bosque ou ouvindo sua voz quando fervia a água para o chá. Precisava continuar a amá-la, mas precisava também parar de desejá-la.
Acredito que A Criança no Tempo tem uma mensagem muito legal, e uma proposta boa. O autor mostra que tem um poder de escrita, mas pecou um pouco na forma como escolheu contar a história. Tudo acabou sendo um pouco decepcionante para mim, mas acho que esse é um daqueles livros, que gostar ou não vai depender muito do gosto pessoal do leitor, até porque Ian McEwan não é um autor consagrado sem motivo. Então cabe a você, leitor, decidir dar uma chance ou não a essa obra que já foi premiada internacionalmente. Boa leitura! Abraços.
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