segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Resenha: "A Máquina do Tempo" (H. G. Wells)

Tradução: Braulio Tavares

Por Eliel: De vez em quando, é muito bom visitar os clássicos. Afinal, não só eles falam ao leitor sobre o espírito de uma época mas também, em alguns casos, dão o ponto de partida para o surgimento de toda uma nova era na literatura.

Nesta edição especial com ilustrações e extras, lançada pela nossa queridíssima Suma de Letras, encontraremos não só a beleza do escrito épico de H. G. Wells, como também uma edição digna de colecionador por seu acabamento e construção.

Para os que ainda não conhecem, "A máquina do Tempo" narra a história de um cientista inglês que, por meio de sua invenção, acaba em um futuro extremamente distante, onde os Eloi e os Morlock dividem a Terra de forma nem sempre pacífica.

Lançado em 1895, foi um livro visionário por ser o primeiro a tratar do conceito de viagem no tempo através de um dispositivo montado especificamente para este fim, mediante a vontade de seu criador.

Você assistiu De volta para o Futuro? Planeta dos Macacos? O exterminador do futuro? Bom, não podemos creditar todas essas histórias a Wells, mas com certeza foi ele quem primeiro lançou mão, literariamente falando, desta possibilidade, e o fez muito bem.

O livro foi adaptado para os cinemas duas vezes, uma em 1960 e outra em 2002. Na primeira versão, foi relativamente fiel ao livro original, enquanto a versão de 2002 adicionou um romance à trama. Nela o ator principal só constrói a máquina para tentar salvar sua noiva, Emma, que havia morrido tragicamente. Ao não conseguir modificar o passado, vai ao futuro em busca de respostas.

Na trama original, o personagem principal, chamado apenas de "viajante do tempo", convida diversos homens proeminentes em suas carreiras, desde jornalistas até médicos renomados, para um jantar em sua residência. O motivo, é intrigante: explicar-lhes sobre as suas descobertas, que tangem à possibilidade de se viajar no tempo. E mais, que ele havia construído uma máquina capaz de o fazê-lo.

Nós nos entreolhamos, perplexos. — Diga-me uma coisa — o Médico foi o primeiro a falar —, você está falando sério? Acha, com toda a sinceridade, que essa máquina está realmente viajando no Tempo? — Sem dúvida! — disse o Viajante do Tempo, abaixando-se para apanhar um tição na lareira. Enquanto acendia o cachimbo, voltou-se e fitou o Psicólogo. (Este, para demonstrar que não estava perturbado, tirou um charuto e tentou acendê-lo sem cortar a ponta.) — E não é só isso — continuou,indicando o laboratório. — Tenho ali dentro uma grande máquina quase terminada. Quando estiver pronta, tenciono viajar eu próprio.
É com incredulidade que os homens presentes à reunião, achando que o protótipo criado pelo Viajante do tempo nada mais foi que um truque de prestidigitador. Na semana seguinte, no entanto, em novo jantar servido em sua casa, vêem o Viajante entrar em casa em situação lastimável: descalço, sujo, cabelos desgrenhados, machucado e com ar distante como se algo lhe ouvesse acontecido.

— Mas por onde é que andou você, homem de Deus? — gritou de novo o Médico. O Viajante do Tempo não pareceu tê-lo ouvido. — Fiquem à vontade, não quero perturbá-los — falou, articulando com dificuldade as palavras. — Estou bem. Deteve-se e estendeu a taça para que a enchessem de novo, e esvaziou-a de uma só vez. — Isso faz bem — disse. Seus olhos se tornaram mais brilhantes e um leve rubor subiu-lhe às faces. Relanceou os olhos sobre nós numa espécie de muda aprovação e em seguida se pôs a andar pela sala quente e confortável. Depois voltou a falar, ainda como se tivesse dificuldade cm encontrar as palavras. — Vou lavar-me e mudar de roupa, depois descerei para lhes dar as explicações. .. Deixem para mim um pouco desse carneiro. Estou quase a morrer de fome
Sentado à mesa e já refeito, o Viajante do tempo come com bastante apetite, mostrando que suas palavras não tinham sido um exagero, realmente estava faminto. Em seguida, convida os homens a escuta-lhe narrar suas aventuras em sua primeira viagem no tempo. O restante do livro será então o estranho e surpreendente relato do viajante do tempo do que encontrou nessa empreitada inusitada.

Por mais que seja uma leitura que traz a tona algumas expressões antigas, e conceitos comuns ao ano em que foi escrita, não se torna maçante em momento algum. A leitura é fluida  ágil, os acontecimentos encadeiam-se de forma lógica e não levei mais que um dia para lê-lo.

As ilustrações ficaram belíssimas, adorei também o material extra dessa edição que, convenhamos, fica perfeita na estante! Se você ainda não leu, leia! Você não vai se arrepender. Mas, se não leu, adquirir o livro vale muito a pena, realmente ficou uma peça magnífica!

Ah, e uma curiosidade! Você sabia que a ideia de viagem do tempo vem sendo pesquisada aqui no Brasil? O físico Mario Novello lidera uma equipe há cerca de 15 anos que se dedica justamente a teorização sobre a construção de uma máquina do tempo. Eles investigaram uma possibilidade levantada em 1949 pelo matemático Kurt Gödel para as equações da relatividade geral de Einstein e Henri Poincaré.



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Ana Liberato