segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Resenha: "O Clube dos Jardineiros de Fumaça" (Carol Bensimon)


Sinopse: Em um cenário formado por coníferas milenares, estradas sinuosas e falésias, a região californiana do Triângulo da Esmeralda concentra a maior produção de maconha dos Estados Unidos. É lá que o jovem professor brasileiro Arthur busca recomeçar a vida, depois dos acontecimentos que o levaram a deixar Porto Alegre. Aos poucos, ele se insere na dinâmica local e passa a fazer parte de uma história que começa com a contracultura dos anos 1960 e se estende até o presente. À vida de Arthur e daqueles com quem estabelece vínculos — o atormentado Dusk, a solitária Sylvia, a indecisa Tamara — mistura-se a de personagens reais que participaram do embate que levou à descriminalização do uso da maconha, fazendo deste um poderoso romance panorâmico. Cruzando história e ficção, com uma linguagem original e ousada, a meio caminho entre Brasil e Estados Unidos, Carol Bensimon compõe em O clube dos jardineiros de fumaça um brilhante retrato da geração hippie e de seu legado.

Por Jayne Cordeiro: Quando tive acesso ao livro, a primeira coisa que me chamou a atenção, foi o título do livro. Na época, eu não fazia a mínima ideia que o tema do livro girava em torno da Maconha. Mas achei o título e uma parte interessante da história bem criativa. Sobre o livro, ele foi escrito por uma brasileira e tem como protagonista um brasileiro, que vai para a Califórnia aprender a arte de criar desta planta tao polêmica. E o que a autora busca é nos apresentar diversos personagens, com pontos de vistas e histórias diferentes, que de alguma forma já se relacionaram com esse produto e possuem pensamentos diferentes sobre ela.

Ele queria entender tanta coisa. Lua sangrenta. A falha de San Andreas. Aquilo que parece fumaça e que chamam de Via Láctea e você pode ver quando está longe das cidades. As moscas da beira da praia. Impostos sobre gorjeta. Certas tatuagens. Uma mulher surfista com um rabo de cavalo grisalho. Ciclistas de roupas fluorescentes viajando pela Highway1. Adesivos de para-choque dizendo ‘veterano do Vietnã’. O canabidiol e os endocanabinoides. Entender de verdade. Lugares onde de repente todas as árvores morrem. A morte de sua mãe. A garota que faz bijuteria e seu discurso urgente sobre karma. Espiritualidade.

A autora cria vários personagens que trazem pensamentos e histórias bem interessantes. Muitos se tornam uma verdadeira surpresa. Ao mesmo tempo em que mostra suas histórias, também conhecemos pessoas e momentos históricos reais que influenciaram na produção de Maconha e seu uso, que se tornou permitido em determinados locais nos EUA. De certa forma, a autora busca tratar positivamente o assunto, e faz isso de forma delicada, sem levantar bandeiras, ma através de uma história que consegue ser envolvente, pela boa escrita dela.

Quando as pessoas são crianças, elas querem ser astronautas, detetives, cientistas. E depois elas olham para si mesmas e estão trabalhando em setores de contabilidade e recursos humanos e querendo se matar toda segunda-feira de manhã. O que aconteceu aí?

Muitas vezes a autora utiliza de capítulos curtos e de suas pesquisas para jogar temas no meio da história, o que dá uma quebra no enredo. Para muitos isso torna o livro leve e interessante, mas particularmente para mim (e digo isso porque é realmente um gosto pessoal) isso atrapalhou um pouco. Na verdade, eu tive um problema com o livro, e sei que é porque não me dou bem com estruturas assim, porque o enredo busca mostrar vários momentos que definem a produção de Maconha na região e a relação das pessoas com ela. Vemos fatos que acontecem no decorrer do livro com os personagens, mas para mim é difícil criar foco em um livro onde as coisas aparecem de forma muito aleatória, sem se encaminhar para um ápice. A sensação de que não vai dar em lugar nenhum, e não há aquela ansiedade para ver o que vai acontecer depois.

Tamara respira fundo, como se um pouco de maresia fosse restabelecer sua paciência com Arthur. Eles se conhecem há apenas duas semanas, mas ela já tem a sensação de que está sendo um pouco maternal demais, o que se revelou um erro em outros pontos da sua vida. É simplesmente angustiante agora perceber que isso vai continuar acontecendo. -Não é uma atividade como qualquer outra, Arthur. -Tudo bem, a gente não lê mesmo sobre isso nos folhetos turísticos. -A maioria vende pro mercado ilegal. Eles não têm licença nem nada. Eu não tô aqui há muito tempo, sabe? As pessoas também não saem me mostrando seus jardins. Não dá pra você só relaxar um pouquinho? Eles passam por uma fileira de hotéis cujos quartos têm varanda com vista para o mar e grandes portas envidraçadas. Um homem está fumando no segundo andar. É estranho ver a vida das pessoas acontecendo nos quartos, como se o prédio tivesse sido seccionado para um estudo antropológico.

Para quem gosta de uma drama calmo, sem grandes reviravoltas ou momentos dramáticos, mas que gosta do tema da legalização da Maconha ou de histórias realistas e simples, esse livro é sua escolha certa. Apesar de não ser o meu tipo de leitura, ele traz fatos interessantes, e é possível reconhecer que a autora tem uma escrita legal, bem elaborada e até poética. Vale a pena conferir.



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Ana Liberato