Tradução de Lígia Azevedo.
Por Thaís Inocêncio: Muitas pessoas conhecem a
história de Malala Yousafzai, a
jovem paquistanesa que foi baleada pelo talibã por defender a educação feminina
na sua terra natal, o vale do Swat. Ela se tornou conhecida mundialmente por
seu ativismo pelos direitos das mulheres, sobretudo ao acesso à educação, e por
ser a pessoa mais nova a receber um prêmio Nobel. Essa história completa e em
detalhes está no livro Eu sou Malala,
escrito pela própria Malala Yousafzai e pela jornalista Christina Lamb.
Já no livro Longe de casa, o segundo escrito pela jovem, ela decide tirar o
foco de sua história e dar voz a outras pessoas que não costumam ser ouvidas:
as mulheres refugiadas. Ao longo de sua jornada como ativista, Malala visitou
diversos campos de refugiados e conheceu histórias impressionantes de quem foi
forçado a sair de casa e partir em busca de um lugar que, muitas vezes, não
garante boas condições de vida, mas tem algo mais valioso: a paz.
"Nunca deixa de me chocar que as pessoas considerem a paz algo garantido. Sou grata por ela todos os dias. Nem todo mundo tem essa sorte. Milhares de homens, mulheres e crianças testemunham guerras diariamente. A realidade dessas pessoas envolve violência, lares destruídos, vidas inocentes perdidas. A única escolha que têm para se manter seguras é ir embora. Então elas 'escolhem' ficar longe de casa. Só que não é exatamente uma escolha."
Ainda assim, nos primeiros
capítulos, Malala conta resumidamente sua trajetória e ressalta que, embora não
seja uma refugiada, compreende perfeitamente a sensação de conviver com a
guerra e a violência em seu país de origem e de estar longe de casa –
atualmente, ela vive em Birmingham, na Inglaterra. Em seguida, a cada novo capítulo,
somos apresentados à história de uma refugiada. Ao todo, conhecemos a vida e a
luta de nove jovens de diferentes partes do mundo, do Oriente Médio à América
Latina, como Iêmen, Síria, Iraque, Colômbia, Guatemala e República Democrática
do Congo.
“Para qualquer refugiado ou pessoa fugindo da violência, que é a principal causa de deslocamento forçado, parece que hoje não existe um lugar seguro no mundo. Até o final de 2017, as Nações Unidas contabilizaram 68,5 milhões de pessoas que foram obrigadas a se deslocar. Delas, 25,4 milhões são consideradas refugiadas.”
É muito interessante a forma como
o livro é estruturado. Cada capítulo se inicia com a fala de Malala, nos
contando como conheceu a jovem em questão e porque a história dela chamou a sua
atenção a ponto de ser selecionada para estar neste livro. Em seguida, ela abre
espaço para a fala da própria refugiada, que conta a sua trajetória em primeira
pessoa. Todas elas explicam a situação de violência que vivenciaram em seu país
de origem e como chegaram ao lugar onde vivem hoje, enfrentando, no caminho,
muitas privações e risco de morte. Mas elas também falam de superação, de esperança
e de sonhos.
E, entre tantas histórias tristes
e difíceis, um dos últimos capítulos do livro mostra como a ajuda de cada um é
importante. Nele, conhecemos Jennifer, moradora da Pensilvânia, o estado que
mais recebe refugiados nos Estados Unidos. Depois de ver a foto de um menino
sírio de três anos sem vida no mar Egeu, imagem que rodou o mundo, ela sentiu
que precisava fazer algo diante da maior crise humanitária que enfrentamos
neste século. Então, ela passou a ser voluntária em uma organização religiosa
que ajuda os refugiados a se instalarem no novo lar, recebendo uma família do
Congo. Ao ter contato com a realidade deles, ficou ainda mais evidente para ela
o quanto todos podemos ajudar, mesmo que seja com tempo e atenção. É isso que
Malala reforça no epílogo, chamando a atenção para o quanto essa luta não é apenas
dos refugiados, mas de todos os seres humanos.
“Faça o que puder. Saiba que compaixão é a chave. E que atos de generosidade, tanto grandes quanto pequenos, podem fazer a diferença e ajudar o mundo a se curar.”
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