sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Resenha: "Uma mulher no escuro" (Raphael Montes)

Por Thaís Inocêncio: Raphael Montes é, facilmente, meu escritor nacional favorito. Já li todos os cinco livros que ele assina com o próprio nome e tenho três deles autografados – só não li ainda o Bom dia, Verônica, que ele escreveu com a Ilana Casoy e lançou sob o pseudônimo de Andrea Killmore. Porém, pela primeira vez desde que o conheci, posso dizer que me decepcionei com uma obra dele. 

Uma mulher no escuro conta a história de Victoria Bravo, que, aos quatro anos de idade, perdeu toda a família em um crime brutal. Na ocasião, um homem invadiu sua casa, matou seus pais, seu irmão e, por algum motivo, poupou-a de um destino semelhante. Vinte anos depois, Victoria ainda carrega sequelas físicas e, principalmente emocionais: é tímida, desconfiada, tem muita dificuldade de se relacionar com as pessoas e nunca namorou.




"Olho pra você e vejo duas Victorias se equilibrando numa corda bamba. Por um lado, você é uma mulher madura, que trabalha, paga as contas e tem as responsabilidades comuns de uma pessoa de vinte e quatro anos que mora sozinha. Por outro lado, às vezes se comporta como uma criança, evitando relações afetivas mais complexas e idealizando uma família perfeita."

Os contatos da jovem se resumem à sua tia Emília, que a criou após a perda dos pais, Max, seu psicólogo, e um jovem nerd apelidado de Arroz, com quem mantém uma amizade muito superficial. Até que, certo dia, no café onde trabalha como garçonete, Victoria conhece um escritor chamado Georges, que parece conseguir adentrar o mundo tão fechado da protagonista. No entanto, tudo muda quando alguém invade a sua casa e deixa rastros semelhantes aos do crime que ocorreu no passado, o que a faz pensar que o assassino está de volta para terminar o que deixou inacabado vinte anos antes.

"Há algo de cruel sobre o passado. Ele não pode ser mudado."

Esse livro é bastante diferente dos outros que li do autor por dois motivos principais: 1) A protagonista é uma mulher e a história nos é apresentada do ponto de vista dela; 2) Trata-se de uma trama psicológica, e não de um suspense permeado por cenas de violência física. Achei interessante Raphael ter buscado um caminho novo nessa obra, mas, pra mim, a tentativa não foi bem-sucedida.

Sabemos muito sobre a protagonista – seus medos, suas necessidades e os segredos que esconde –, mas todos os outros personagens, que têm grande importância na história, são pouco explorados. Por isso, não entendemos muito bem suas motivações, inclusive a do assassino.

Além disso, ao longo da leitura, encontrei algumas contradições. Por exemplo: no começo do livro, Victoria é descrita como uma jovem de cabelos curtos; algumas páginas depois, sua tia Emília elogia seus cabelos compridos. O pior é que essa é uma característica que tem destaque na história!

"Naquele dia, vestia calça larga de pijama e um blusão azul-marinho confortável, mas não deixava de colocar o lacinho que sempre usava nos cabelos curtos." (p. 21)
"'Você está parecendo sua mãe', ela disse, com um sorriso. 'Os cabelos compridos, o brilho nos olhos...'" (p. 128)

Foi difícil reconhecer a escrita brilhante de Raphael Montes nesse livro, mas, felizmente, isso não foi suficiente para fazer eu deixar de gostar do autor. Só espero que, no próximo, ele volte a escrever aquele bom suspense de tirar o fôlego e deixar sem dormir!

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Ana Liberato