Por Thaís Inocêncio: As primeiras histórias que li, ainda na infância, se passavam no Sítio do Picapau Amarelo. Foi a partir delas que aprendi a viajar com os livros – sem deixar o quintal da minha casa, conseguia subir em árvores com Pedrinho e sentir o cheio da comida da tia Anastácia, por exemplo. Assim, pela capacidade de inventar um mundo tão fascinante, que me tornou uma leitora voraz, Monteiro Lobato ganhou minha admiração.
Porém, o autor é uma figura polêmica e não é possível dissociá-lo de sua criação. Então, por que seria possível dissociá-lo de sua época? Na minha concepção, em seus livros, Lobato apresenta retratos da sociedade de um século atrás, em que era comum caçar animais e usar adjetivos como "negra beiçuda". Incomoda? Que bom! Felizmente, aprendemos e evoluímos. Mas não fizemos isso apagando os rastros de nossa história, e sim falando sobre ela! Foi isso o que fizeram as autoras Marisa Lajolo e Lilia Schwarcz em Reinações de Monteiro Lobato: uma biografia.
O livro, destinado às crianças, é narrado em primeira pessoa pelo próprio Lobato. É como se ele vivesse entre nós e tivesse a possibilidade de olhar pra trás e analisar seus comportamentos e pensamentos hoje considerados retrógrados e preconceituosos. Portanto, embora o foco seja a história de vida do escritor, ele não deixa de lado polêmicas como a desvalorização dos camponeses e o racismo.
“O Brasil em que nasci e vivi era outro. Nesse Brasil de antigamente, prolongavam-se o preconceito e o racismo construídos ao longo dos muitos séculos de escravidão. Éramos, sempre fomos - e talvez nesse tempo seu a gente ainda seja -, uma cultura racista, preconceituosa. Eu não percebia isso naquele momento.”
Além disso, o livro apresenta curiosidades muito interessantes, como o fato de Monteiro Lobato ter reprovado em um processo seletivo, ter sido preso e ter perdido dois filhos para a tuberculose. A diagramação da obra é um show à parte. O livro é todo ilustrado e ainda traz fotos e reproduções de documentos reais, como cartas que Lobato escrevia para os amigos. As páginas também incluem uma espécie de glossário que relaciona a história do escritor a fatos históricos do Brasil e do mundo.
Estando Lobato, em algum plano, arrependido ou não de suas atitudes e opiniões, para mim, o valor de suas obras, sobretudo as infantis, segue sendo inestimável.
“De escrever para marmanjos já me enjoei. Bichos sem graça. Mas para crianças um livro é todo um mundo [...] Ainda acabo fazendo livros onde as nossas crianças possam morar.”
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