Por Thaís Inocêncio: Tiffy terminou um relacionamento e saiu da casa do ex-namorado. Agora, ela precisa de um lugar barato para morar.
Leon trabalha como enfermeiro no turno da noite e precisa de dinheiro para ajudar o irmão, que está com problemas. Então, ele resolve procurar alguém pra dividir o apartamento – ou melhor, a cama, porque só tem uma.
O plano é simples: encontrar uma pessoa que trabalhe durante o dia e só fique no apartamento à noite, quando ele está fora. Desse modo, eles podem usar a mesma cama e nem precisam se encontrar. É assim que Tiffy e Leon passam a morar “juntos”.
Todo o trâmite da locação é feito entre Tiffy e a namorada de Leon, então ela nem o conhece pessoalmente. Por isso, eles passam a tratar de questões cotidianas via post-its espalhados pela casa. Aos poucos, essa comunicação evolui e o plano inicial de dividir a cama já não parece mais tão simples.
Esse livro consegue ser fofo e sério ao mesmo tempo. Os capítulos são alternados entre os protagonistas e, assim, conhecemos a fundo o encantador Leon e a divertida Tiffy (que também é muito colorida – ela lembra a Lou, de "Como eu era antes de você").
"Bom, como o quarto vai estar?
Entro, intrépido. Solto um grito estrangulado. Parece que alguém vomitou arco-íris e estampas, cobrindo toda a superfície cm cores que nunca estariam juntas na natureza. Cobertor horrível e comido por traças em cima da cama. Uma enorme máquina de costura vege ocupa quase a escrivaninha toda. E roupas... roupas em todos os cantos."
Além do romance, a autora consegue tratar de assuntos necessários e atuais, como o relacionamento abusivo. E ela faz isso de modo muito responsável, esmiuçando a maneira como ele surge e se desenvolve, demonstrando como vítima é manipulada nesses casos e evidenciando a importância de se ter não só uma rede de apoio, mas ajuda profissional para superar os traumas que ele deixa.
"— Eu... me lembro de ser muito feliz com ele. Além de ser, tipo, infeliz pra cacete."
Achei interesse a maneira como a autora constrói pessoas "normais", que fogem do que é considerado padrão de beleza e são lindas na essência. A Tiffy é descrita como uma mulher de "grandes proporções" e Leon é pardo, magro e tem orelhas de abano. As personagens secundárias também são muito bem apresentadas e cativam o leitor, como os amigos da Tiffy, os pacientes do hospital onde Leon trabalho e o irmão dele, Richie (por quem estou apaixonada). A escrita é tão gostosa e a leitura é tão interessante que fica difícil não devorar o livro em poucos dias.
"Sempre vale a pena atravessar as portas."
Até a próxima, galera!