Tradução de Alexandre Raposo.
Por Thaís Inocêncio: Pra quem não conhece o livro nem o filme, Caixa de
pássaros conta a história de um surto inexplicável que deixou poucos
sobreviventes no mundo, entre eles Malorie e seus dois filhos. Aparentemente,
ao ver alguma coisa, possivelmente uma criatura, as pessoas tiram a própria
vida de maneira brutal. Por isso, o melhor a se fazer é não abrir os olhos.
Nesse primeiro livro, Malorie sonha em fugir para um local onde a família possa
ficar em segurança, mas, para isso, terá que encarar, de olhos fechados, o
mundo fora da casa em que está trancada.
Se você não leu Caixa de pássaros, talvez não
queria ler o restante desta resenha.
Em Malorie, sequência de Caixa de pássaros, descobrimos
que a estadia na escola para cegos não deu muito certo e conhecemos a vida da
protagonista doze anos após a sua fuga anterior. Agora, ela vive em um
acampamento apenas com os filhos, que estão com 16 anos de idade, mas o mundo
continua o mesmo, portanto ainda não se pode vê-lo. Até que, um dia, um homem
desconhecido que diz ser do censo bate à sua porta (Ok, eu ri muito nessa
parte. Imagine que um mundo apocalíptico, tipo Walking Dead, terrível e perigoso,
é incapaz de deter um homem do censo com sua prancheta. Hilário hahaha).
Malorie e os filhos não têm contato direto com esse
homem, mas ele deixa para trás documentos contendo informações valiosas,
inclusive a de que pessoas que Malorie acreditava estar mortas, na verdade,
estão vivas. Então, ela terá que tomar a difícil decisão de se manter segura,
protegida pela venda, ou partir em uma viagem incerta, cheia de riscos, em
busca de esperança.
"Você pode fazer tudo o que puder para evitar o novo mundo, mas, de um modo ou de outro, em breve ele vai bater à sua porta."
Nos agradecimentos, o autor Josh Malerman conta
que, após assistir à adaptação cinematográfica de Caixa de pássaros (que tem
algumas diferenças em relação à obra original), ele se perguntou: O que
acontece com Malorie agora? É o que ele nos conta neste livro. Não esperem
explicações sobre as criaturas em si ou sobre o que originou tudo isso – o foco
são Malorie, Tom e Olympia, três pessoas com maneiras completamente diferentes
de lidar com um mundo que caiu na escuridão.
Malorie é uma pessoa que, há mais de uma década,
vive pela venda (como ela mesma diz), seguindo fielmente as regras de não abrir
os olhos e não confiar em ninguém. Olympia é uma garota tranquila e cuidadosa
que demonstra respeitar as imposições da mãe. Já Tom é inquieto e, inconformado
com o novo mundo, busca soluções para que não vivam mais escondidos. Essas
diferenças de pensamentos e atitudes criam conflitos entre os personagens que
acabam ditando o rumo da história. Porém, a descrição deles é tão boa que é
perfeitamente possível compreender e até se identificar com cada um deles.
"Quero que vocês três saibam que o mundo não vai melhorar. Temos que começar de novo".
Essa sequência é menos eletrizante o primeiro
livro, mas ainda carrega uma boa atmosfera de suspense e tensão que te mantém
curioso o tempo todo. É inevitável comparar a história com o que vivemos hoje,
que também parece ficção. O medo do desconhecido, do incompreensível. A
sensação de impotências, as crescentes incertezas. As vendas deles são as
nossas máscaras. Malorie diz que, pós-criaturas, a sociedade se dividiu entre
pessoas prudentes e imprudentes. A obra ainda mostra que, embora as criaturas
sejam terríveis, elas não são o problema; o homem é a criatura a ser temida. Hoje,
no nosso mundo, não são os seres humanos imprudentes as verdadeiras criaturas a
serem temidas?
"As criaturas podem ser monstros, mas, como evidenciado por sua mãe e pela vida que ela considerou adequada para você, essas coisas terríveis não são o problema. O homem é a criatura a ser temida."
Porém, o final do livro tem um tom de esperança que fez toda a
jornada valer a pena pra mim – e até pensar que posso ter alguma esperança real
por aqui.
Até a próxima, galera!
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