Em uma das idas à mansão para buscar a mãe, Connell adentra o
mundo de Marianne. Entre conversas e olhares, surge um desejo mútuo de ficar
junto. Entretanto, como Marianne é vista como esquisita pelos alunos, Connell
propõe que eles mantenham o relacionamento em segredo. Temos aí o primeiro
conflito dessa história, causado muito mais por uma questão de poder social do
que econômico.
“Quando conversa com Marianne, ele tem uma sensação de completa privacidade. Poderia contar qualquer coisa a seu respeito, até as coisas estranhas, e ela jamais as repetiria, ele sabe. Estar sozinho com ela é como abrir uma porta para fora da vida normal e fechá-la depois de passar.”
A partir de então, acompanhamos a vida e a dinâmica dos dois
ao longo de quatro anos – do fim do ensino médio ao período da graduação. À
primeira vista, esse parece o roteiro de um romance clichê que se passa entre jovens
que estão entrando na vida adulta, mas essa é uma história muito mais densa do
que se imagina, sobretudo pelos assuntos tratados. Entre outros temas, o livro
aborda conflitos familiares, abuso psicológico, suicídio, depressão e diversos
níveis de insegurança.
Com uma trama repleta de encontros e desencontros, o livro me
fez lembrar bastante de Um dia, do autor David Nicholls, mas acredito que a
linguagem usada por Sally Rooney atrapalhou um pouco a minha imersão na
história.
Assim como Nicholls, Sally adota a narrativa em terceira
pessoa para que seja capaz de nos dar uma visão ampla e, talvez, imparcial dos
personagens. No entanto, sua escrita foge do convencional e a autora insere
diálogos sem nenhuma diferenciação, como travessões ou aspas, e às vezes os
coloca no meio dos parágrafos, o que pode causar confusão ao menor sinal de
distração do leitor. Por isso, é importante estar concentrado na leitura para
não se perder em relação ao momento do diálogo e a quem está falando.
“Passado um tempo ele a ouve dizer algo que não entende. Não escutei direito, ele diz. Não sei o que há de errado comigo, diz Marianne. Não sei por que não consigo ser que nem as pessoas normais.”
No entanto, ainda assim, achei incrível a construção dos
personagens, que nos são apresentados de maneira tão crua. É como se a autora
os revirasse do avesso e nos mostrasse tudo o que eles têm escondido lá dentro
– e que, muitas vezes, escondemos também. Por isso, é fácil nos identificarmos
com diversos sentimentos e situações apresentados no livro. Sally Rooney criou
uma história simples, sem muitas reviravoltas, sobre “pessoas normais” e, ao
mesmo tempo, extremamente complexas.
“A vida é a coisa que você traz consigo dentro da própria cabeça.”
E, se a escrita da autora prejudicou um pouco o meu envolvimento
com a história, a adaptação lançada pela BBC (disponível no Brasil pelo
streaming Starzplay) fez exatamente o contrário: me colocou de cabeça e coração
na trama. A série, dividida em 12 episódios, é bem fiel ao livro, mas consegue
ser superior, principalmente por causa da atuação dos
protagonistas, interpretados de modo brilhante por Daisy Edgar-Jones e Paul
Mescal. A intimidade e a química do casal nos faz ter certeza de que, ainda que
a vida tenda a levá-los por caminhos separados, eles estão destinados a ficar
juntos, pois só na companhia um do outro é que conseguem ser eles mesmos.
Paul Mescal e Daisy Edgar-Jones como Connell e Marianne na série Normal People. |
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