domingo, 9 de janeiro de 2022

Resenha: Romance gráfico "Grande Sertão: Veredas" (João Guimarães Rosa)

Por Thaís Inocêncio: Grande Sertão: Veredas é considerado uma das obras mais importantes da literatura brasileira. Publicado em 1956, o livro apresenta mais de 500 páginas sem capítulos e uma linguagem que, até hoje, é vista como inovadora, principalmente pela presença de neologismos (criação de palavras novas formadas por outras já existentes). 

Por isso, muita gente teme enfrentar esse clássico em sua forma original, cuja leitura, apesar de valer a pena, é desafiadora, não posso mentir. Para essas pessoas, a adaptação da obra em romance gráfico é uma excelente alternativa. Roteirizado por Guazzelli e com arte de Rodrigo Rosa, o livro em formato de quadrinhos é super fiel à obra original – isso porque não se pôde alterar nada da narrativa criada por Guimarães Rosa, apenas fazer cortes. 

Para quem não conhece a história, o romance é narrado em primeira pessoa por Riobaldo, um ex-jagunço que relembra suas lutas, seus medos, seus amores e suas dúvidas no sertão. E isso é tudo o que eu posso dizer. Aliás, aconselho àqueles que nunca tiveram contato com a obra e querem se aventurar por ela a não fazer nenhuma busca na internet para não dar de cara com revelações que fazem toda a diferença na experiência de leitura. 

O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.

O romance gráfico torna a leitura de Grande Sertão: Veredas mais fácil que a do texto original na íntegra. Isso acontece, sobretudo, pelo auxílio das imagens, que dão ao livro um caráter de obra cinematográfica. É como se o leitor pudesse ver os personagens em ação, o que facilita o entendimento de todo o enredo. As ilustrações são muito bonitas e condizentes com a ambientação da obra. Além disso, os personagens têm traços característicos, o que permite ao leitor diferenciá-los com facilidade. 

O mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando.

Outro ponto de destaque da adaptação são as cores utilizadas, com predominância de tons amarronzados, que remetem ao sertão, como se pode ver nestes exemplos:



Essa é uma obra riquíssima e inesgotável de sentidos. Sempre que se lê, se descobre um novo caminho, uma estrada não antes navegada. Cada vez que se encontra com esse texto, surge uma nova perspectiva das coisas. Conhecer Guimarães Rosa é conhecer uma parte importante da nossa cultura nacional. 

O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe pra gente é no meio da travessia.

Espero que tenham gostado e até a próxima!

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Ana Liberato