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quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Resenha: "Reinações de Monteiro Lobato: uma biografia" (Marisa Lajolo e Lilia Moritz Schwarcz)

Por Thaís Inocêncio: As primeiras histórias que li, ainda na infância, se passavam no Sítio do Picapau Amarelo. Foi a partir delas que aprendi a viajar com os livros – sem deixar o quintal da minha casa, conseguia subir em árvores com Pedrinho e sentir o cheio da comida da tia Anastácia, por exemplo. Assim, pela capacidade de inventar um mundo tão fascinante, que me tornou uma leitora voraz, Monteiro Lobato ganhou minha admiração. 

Porém, o autor é uma figura polêmica e não é possível dissociá-lo de sua criação. Então, por que seria possível dissociá-lo de sua época? Na minha concepção, em seus livros, Lobato apresenta retratos da sociedade de um século atrás, em que era comum caçar animais e usar adjetivos como "negra beiçuda". Incomoda? Que bom! Felizmente, aprendemos e evoluímos. Mas não fizemos isso apagando os rastros de nossa história, e sim falando sobre ela! Foi isso o que fizeram as autoras Marisa Lajolo e Lilia Schwarcz em Reinações de Monteiro Lobato: uma biografia

O livro, destinado às crianças, é narrado em primeira pessoa pelo próprio Lobato. É como se ele vivesse entre nós e tivesse a possibilidade de olhar pra trás e analisar seus comportamentos e pensamentos hoje considerados retrógrados e preconceituosos. Portanto, embora o foco seja a história de vida do escritor, ele não deixa de lado polêmicas como a desvalorização dos camponeses e o racismo. 

“O Brasil em que nasci e vivi era outro. Nesse Brasil de antigamente, prolongavam-se o preconceito e o racismo construídos ao longo dos muitos séculos de escravidão. Éramos, sempre fomos - e talvez nesse tempo seu a gente ainda seja -, uma cultura racista, preconceituosa. Eu não percebia isso naquele momento.” 

Além disso, o livro apresenta curiosidades muito interessantes, como o fato de Monteiro Lobato ter reprovado em um processo seletivo, ter sido preso e ter perdido dois filhos para a tuberculose. A diagramação da obra é um show à parte. O livro é todo ilustrado e ainda traz fotos e reproduções de documentos reais, como cartas que Lobato escrevia para os amigos. As páginas também incluem uma espécie de glossário que relaciona a história do escritor a fatos históricos do Brasil e do mundo.




Estando Lobato, em algum plano, arrependido ou não de suas atitudes e opiniões, para mim, o valor de suas obras, sobretudo as infantis, segue sendo inestimável. 

“De escrever para marmanjos já me enjoei. Bichos sem graça. Mas para crianças um livro é todo um mundo [...] Ainda acabo fazendo livros onde as nossas crianças possam morar.”


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segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Resenha: "Velhice transviada: memórias e reflexões" (João W. Nery)

Por Thaís Inocêncio: Quando nascemos, nos é atribuído um dos dois gêneros: feminino ou masculino. No entanto, o modo como nos identificamos pode ou não concordar com essa atribuição. Hoje em dia, as pessoas que se identificam com o gênero atribuído no nascimento são chamadas de cisgêneros; já as que assumem uma identidade oposta ao gênero de nascimento são chamadas de transgêneros. Vale ressaltar que essa identificação em nada tem a ver com nossos aspectos físicos, por isso uma pessoa trans pode ou não passar por cirurgia de redesignação sexual, por exemplo. 

Dito isso, surge uma pergunta: você já parou para pensar que a velhice é um privilégio das pessoas cisgêneras? Já percebeu que, por conta do mundo preconceituoso e intolerante em que vivemos, as pessoas trans não tem direito à longevidade? Abrir os nossos olhos para essa realidade é o objetivo do livro Velhice transviada, de João W. Nery. 
"Dedico este livro às pessoas trans, sem voz, às mais invisíveis para a sociedade [...], sobretudo, às que não tem direito à insolência da longevidade, por morrerem assassinadas, ainda prematuramente."
O livro é dividido em duas partes. Na primeira, o autor fala brevemente sobre a sua vida e experiência como o que ele chama de "transvelho", já que ele escreveu a obra aos 68 anos de idade (informações mais detalhadas sobre a sua trajetória podem ser encontradas na autobiografia Viagem solitária – memórias de um transexual 30 anos depois). João Nery é considerado o primeiro transgênero masculino a passar por cirurgia de redesignação sexual, aos 27 anos, em plena ditadura militar, quando esse procedimento ainda era proibido. Para isso, ele precisou passar por uma "morte social" e iniciar uma nova vida, com outro nome e documentos, perdendo seus registros anteriores, como seu diploma de psicólogo. 

Ao ler sobre essa experiência, percebemos como o machismo existe em todos os espaços, inclusive entre a população trans. Se uma pessoa nasce "mulher", mas se identifica como homem, a partir do momento em que ela tira a mama e os hormônios lhe garantem barba e voz grossa, por exemplo, ela consegue se camuflar na sociedade, ainda que também enfrente muita dificuldade no caminho. Porém, uma travesti ou mulher trans não consegue essa invisibilidade e carrega consigo grandes marcas físicas e psicológicas da violência e do sofrimento. Ainda assim, é graças às pessoas que se expõem e se rebelam que houve algum avanço na conquista de direitos para essa comunidade. 
"A gente escondida não muda nem transforma nada, não abre caminho para ninguém".
Para comprovar a ideia de que os transvelhos são uma raridade, o autor traz dados alarmantes. Um deles é de que a média de vida de uma travesti é de 35 anos de idade. Além disso, em números absolutos, o Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo – e mata três vezes mais que o segundo colocado, que é o México. Quando não são assassinadas, o preconceito, o afastamento da família e a falta de espaços levam as pessoas trans a tirarem a própria vida. 
"Quando alguém transiciona, a família também passa a ser cobrada, questionada pelos parentes, vizinhos. Muitas não suportam a pressão e acabam expulsando seus filhos e filhas de casa. [...] A rua é o maior sofrimento para qualquer pessoa."
Na segunda parte do livro, o autor transcreve entrevistas com os poucos transvelhos que conhece. São relatos crus e impressionantes da jornada que enfrentaram para chegar à velhice. Nesse ponto, João Nery revela uma realidade que ele diz ser comum e pouco falada (e que me chocou bastante): a destransição na terceira idade. Isso significa que algumas pessoas assumidas trans por anos, quando se tornam idosas, retomam as características físicas do gênero de nascimento para terem direito à tratamentos de saúde, conseguirem empregos formais e até serem novamente aceitas pela família, tendo quem cuide delas nessa fase mais delicada da vida.  
"Pense comigo: veja nossa sociedade, os preconceitos, e imagine um corpo envelhecido de uma travesti, cheio de silicone caído, deformado, vendendo um picolé na rua. [...] Seria uma chacota, seria humilhada. Me desmontar foi uma forma de defesa, de me proteger."
Esse livro é curto (menos de 200 páginas) e tem uma linguagem simples, mas apresenta realidades cruéis, questões necessárias e nos faz refletir muito. É um soco no estômago, principalmente, de quem não ocupa o lugar das pessoas trans e, por isso, não costuma pensar sobre a dificuldade que é viver de acordo com a sua verdade só porque ela não é socialmente aceita. Nessa obra, João Nery nos mostra, com muita sensibilidade, que a diversidade existe e nosso único dever é respeitá-la. 
"Todos nós nascemos gente, o resto são rótulos."

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segunda-feira, 22 de abril de 2019

Resenha: "Longe de casa: minha jornada e histórias de refugiadas pelo mundo” (Malala Yousafzai)


Tradução de Lígia Azevedo.

Por Thaís Inocêncio: Muitas pessoas conhecem a história de Malala Yousafzai, a jovem paquistanesa que foi baleada pelo talibã por defender a educação feminina na sua terra natal, o vale do Swat. Ela se tornou conhecida mundialmente por seu ativismo pelos direitos das mulheres, sobretudo ao acesso à educação, e por ser a pessoa mais nova a receber um prêmio Nobel. Essa história completa e em detalhes está no livro Eu sou Malala, escrito pela própria Malala Yousafzai e pela jornalista Christina Lamb.

Já no livro Longe de casa, o segundo escrito pela jovem, ela decide tirar o foco de sua história e dar voz a outras pessoas que não costumam ser ouvidas: as mulheres refugiadas. Ao longo de sua jornada como ativista, Malala visitou diversos campos de refugiados e conheceu histórias impressionantes de quem foi forçado a sair de casa e partir em busca de um lugar que, muitas vezes, não garante boas condições de vida, mas tem algo mais valioso: a paz.

"Nunca deixa de me chocar que as pessoas considerem a paz algo garantido. Sou grata por ela todos os dias. Nem todo mundo tem essa sorte. Milhares de homens, mulheres e crianças testemunham guerras diariamente. A realidade dessas pessoas envolve violência, lares destruídos, vidas inocentes perdidas. A única escolha que têm para se manter seguras é ir embora. Então elas 'escolhem' ficar longe de casa. Só que não é exatamente uma escolha."

Ainda assim, nos primeiros capítulos, Malala conta resumidamente sua trajetória e ressalta que, embora não seja uma refugiada, compreende perfeitamente a sensação de conviver com a guerra e a violência em seu país de origem e de estar longe de casa – atualmente, ela vive em Birmingham, na Inglaterra. Em seguida, a cada novo capítulo, somos apresentados à história de uma refugiada. Ao todo, conhecemos a vida e a luta de nove jovens de diferentes partes do mundo, do Oriente Médio à América Latina, como Iêmen, Síria, Iraque, Colômbia, Guatemala e República Democrática do Congo.

“Para qualquer refugiado ou pessoa fugindo da violência, que é a principal causa de deslocamento forçado, parece que hoje não existe um lugar seguro no mundo. Até o final de 2017, as Nações Unidas contabilizaram 68,5 milhões de pessoas que foram obrigadas a se deslocar. Delas, 25,4 milhões são consideradas refugiadas.”

É muito interessante a forma como o livro é estruturado. Cada capítulo se inicia com a fala de Malala, nos contando como conheceu a jovem em questão e porque a história dela chamou a sua atenção a ponto de ser selecionada para estar neste livro. Em seguida, ela abre espaço para a fala da própria refugiada, que conta a sua trajetória em primeira pessoa. Todas elas explicam a situação de violência que vivenciaram em seu país de origem e como chegaram ao lugar onde vivem hoje, enfrentando, no caminho, muitas privações e risco de morte. Mas elas também falam de superação, de esperança e de sonhos.

E, entre tantas histórias tristes e difíceis, um dos últimos capítulos do livro mostra como a ajuda de cada um é importante. Nele, conhecemos Jennifer, moradora da Pensilvânia, o estado que mais recebe refugiados nos Estados Unidos. Depois de ver a foto de um menino sírio de três anos sem vida no mar Egeu, imagem que rodou o mundo, ela sentiu que precisava fazer algo diante da maior crise humanitária que enfrentamos neste século. Então, ela passou a ser voluntária em uma organização religiosa que ajuda os refugiados a se instalarem no novo lar, recebendo uma família do Congo. Ao ter contato com a realidade deles, ficou ainda mais evidente para ela o quanto todos podemos ajudar, mesmo que seja com tempo e atenção. É isso que Malala reforça no epílogo, chamando a atenção para o quanto essa luta não é apenas dos refugiados, mas de todos os seres humanos.

“Faça o que puder. Saiba que compaixão é a chave. E que atos de generosidade, tanto grandes quanto pequenos, podem fazer a diferença e ajudar o mundo a se curar.”



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sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Resenha: "Minha História" (Michelle Obama)

Tradução de Débora Landsberg, Denise Bottman e Renato Marques

Por Stephanie: Minha História é o livro de memórias escrito por Michelle Obama, ex-primeira dama dos EUA e esposa do primeiro presidente negro da história desse país. Por meio de uma narrativa leve e poderosa, Michelle nos conta sua trajetória desde a infância até os dias vividos na Casa Branca, entre os anos de 2009 e 2017.

Eu conhecia muito pouco sobre Michelle, só aquilo que ouvia na mídia mesmo. Sabia que ela era uma mulher forte e determinada, mas ao ler seu relato, pude ver que sua personalidade distinta já se mostrava desde pequena, quando morava na região de South Side, em Chicago. Apesar de não ter passado por dificuldades financeiras, ela morava com a família em um bairro de classe média que ao longo dos anos foi se tornando predominantemente negro (e pobre).

O início do livro foi a parte mais arrastada para mim; a autora nos conta em detalhes como era a dinâmica familiar com seus pais e irmão mais velho, que moravam na casa acima de seus rígidos tios. A disciplina sempre fez parte da vida de Michelle, mas percebi também que ela viveu em um lar muito unido e amoroso.

Depois, somos apresentados à vida adulta e à carreira de Michelle, que eu nem sabia que era advogada (!). Adorei os tópicos abordados por ela durante essa parte, porque vemos claramente o racismo e machismo velado que existia nos anos 80 nas faculdades de renome (Michelle se formou em Princeton e Harvard).

"(...) Tentava não me intimidar quando a conversa em sala era dominada pelos alunos homens, o que era bastante comum. Ao escutá-los, me dei conta de que não eram mais inteligentes do que nós. Eram apenas mais incentivados a falar, navegando na maré ancestral da superioridade e estimulados pelo fato de que a história nunca lhes dissera o contrário."

Ao falar sobre sua carreira, a autora acaba entrando em uma parte muito relevante e conhecida para a maioria do público: seu relacionamento com Barack. Como eles se conheceram no ambiente de trabalho, Michelle traça diversos paralelos entre sua vida profissional e pessoal, como a ascensão de sua carreira e algumas das decisões difíceis que precisou tomar em prol do sucesso de Barack. Acho que essa foi minha parte favorita do livro; o relacionamento deles é muito maduro e repleto de momentos fofos. Adorei ver Barack como um rapaz sonhador e romântico e Michelle como uma mulher que se apaixonou mas nunca abriu mão de sua independência por amor.

"Nunca fui de ficar presa aos aspectos mais desmoralizantes de ser afro-americano. Fui criada para pensar positivo. (...) Mas, ouvindo Barack, comecei a entender que sua versão de esperança era bem mais ampla: eu me dei conta de que uma coisa era sair de um lugar empacado; outra, totalmente diferente, era tentar desempacar o lugar."
"O que acontece quando um individualista que gosta de solidão se casa com uma mulher sociável e extrovertida que detesta solidão? A resposta, imagino eu, é provavelmente a melhor e mais sólida dr todas para qualquer pergunta que surge num casamento, para qualquer pessoa e qualquer questão: você dá um jeito de se adaptar. Se o casamento é para sempre, não tem escolha."

Por fim, vemos a carreira de Barack até a chegada à presidência e como foram os anos da família Obama na Casa Branca. É muito interessante conhecer mais sobre esse mundo da política pelos olhos de Michelle; ela é uma mulher muito pé no chão e sempre fez questão de passar isso para suas filhas (por exemplo, as camareiras foram avisadas por Michelle que as meninas tinham que fazer a própria cama), sem permitir muito deslumbramento, afinal, aquela era uma residência apenas temporária.

Passei a admirar muito Michelle após ler seus feitos durante o período em que foi primeira-dama. Ela sempre quis fazer a diferença e aproximar a Casa Branca da população, organizando eventos abertos ao público e criando projetos para melhorar a saúde e a vida como um todo dos norte-americanos. E em meio a isso, teve de lutar contra o machismo e a futilidade da mídia (e da oposição), que julgava seu corpo, suas atitudes e suas palavras sempre que possível.

"A forma mais fácil de desmerecer a voz de uma mulher é resumi-la a uma pessoa rabugenta."
"O poder de uma primeira-dama é uma coisa curiosa – suave e indefinido como o próprio papel. (...) A tradição mandava que eu emanasse uma luz suave, agradando ao presidente com minha devoção, agradando à nação sobretudo ao evitar confrontos. Mas eu começava a ver que essa luz, se usada com cuidado, tinha um poder maior (...)."

Michelle é uma mulher corajosa e por mais classe que possua, deixa seu posicionamento bem claro ao falar sobre a posse de Trump. Confesso que senti um aperto muito grande no peito ao ler seu depoimento sobre o dia da posse e foi inevitável enxergar as semelhanças com a nossa situação política atual.

É impossível resumir em apenas alguns parágrafos a história tão grandiosa de uma mulher como Michelle Obama. São quase 500 páginas de um relato muito verdadeiro, inspirador e emocionante, que mostram ao leitor a força e persistência de uma mulher que nunca se contentou em ser mediana e lutou para não ser resumida apenas à sua aparência ou suas fraquezas.

A edição da obra está muito bem feita, com uma parte dedicada a fotos em alta qualidade de momentos marcantes da vida da autora. Só acho que essas imagens poderiam ter ficado como um adendo ao final do livro, em vez de no meio de um capítulo.

No mais, é uma super indicação para qualquer pessoa que goste de biografias e livros de memórias e queiram conhecer mais sobre a vida dessa mulher que junto à seu marido e família, marcou a história dos EUA e do mundo (e continuará marcando, com certeza). Acredito que vá entrar para os meus favoritos de 2019 com facilidade!

Até a próxima, pessoal!

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sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Resenha: "Querido Mundo" (Bana Alabed)

Tradução: Claudia Gerpe Duarte


Sinopse: Aos 3 anos de idade, Bana Alabed tinha uma infância feliz que foi interrompida abruptamente por uma guerra civil. Durante os quatro anos seguintes, Bana viveu em meio a bombardeios, destruição e medo. Sua provação angustiante culminou em um cerco brutal em que ela, seus pais e os dois irmãos mais novos ficaram presos em Aleppo, com pouco acesso a comida, água, medicamentos e outras necessidades básicas. Com o potencial revolucionário da Internet, Bana, em um gesto simples, mas inédito, usou o Twitter para pedir paz e mobilizar pessoas ao redor do mundo pelo mesmo intuito. Contendo palavras da própria Bana e cartas comoventes de sua mãe, Fatemah, Querido Mundo não é apenas um relato envolvente de uma família ameaçada pela guerra — o livro oferece, também, uma perspectiva única sobre uma das maiores crises humanitárias da história, vista pelos olhos de uma criança. Bana perdeu sua melhor amiga, a escola onde estudava e seu lar. Mas não perdeu a esperança — com relação a si mesma e às outras crianças ao redor do mundo, vítimas e refugiadas de guerra que são dignas de vidas melhores.

Por Jayne Cordeiro: Foi pela sorte de um sorteio que este pequeno livro (com um pouco mais de 150 páginas) veio parar em minhas mãos. Eu, que nunca tinha ouvido falar de Alana Alabed, mas tinha ouvido sim, sobre o sofrimento de milhares de pessoas que estavam vivendo em uma Síria destruída pela guerra. Foi por curiosidade que parei para ler um livro que foi escrito em sua grande maioria por uma menina de 8 anos, mas que tinha tanta história para contar.

Quando a primeira grande bomba caiu, eu não entendi o que tinha acontecido. Era apenas um dia comum; eu estava com Mohamed na casa de Nana Samar e do vovô Malek... Foi o barulho mais alto que eu já tinha ouvido na minha vida, um barulho tão grande que eu pude senti-lo no corpo, não apenas ouvi-lo. O som e a surpresa fizeram meu corpo parecer gelatina.

Querido Mundo, é um livro que trás uma dinâmica bem interessante. Bana, a autora, conta para nós o que vivenciou e ouviu falar sobre o período em que viveu na Síria antes e depois da guerra ter estourado por lá. Falando diretamente com o leitor, nos encantamos pelo o que acompanhamos através dos olhos e pensamentos, de uma menina tão nova, mas que precisa amadurecer cedo, ao conviver com uma situação tão delicada e tensa quanto uma guerra. Vemos  como todo um conjunto de vidas, costumes e lugares são devastados e modificados em questão de segundos por decisão de pessoas que não parecem estar preocupadas com outras pessoas. 

Eu não tive permissão para estar lá quando o médico tirou o bebê, mas a Nana e o vovô me levaram ao hospital para ver a mamãe no dia seguinte. Ela parecida doente, mas estava sorrindo. Ela estava segurando um cobertor que parecia enrolado em volta de um pão de forma. Mas não era um pão - era o bebê. Surpresa: era um menino. De novo. 

É meio óbvio dizer que o leitor vai se emocionar em alguns momentos, principalmente nas cartas que a mãe de Bana escreve direcionada a ela, em que vemos um pouco do ponto de vista de uma mãe que precisa proteger o filhos fisicamente e emocionalmente durante um conflito. Então, pode ser que você derrame algumas lágrimas. Mas é um livro que também vai te fazer sorrir, e te passar mensagens muito importantes sobre o que significa um Lar, a importância da família, e da solidariedade, nos momentos em que precisamos de toda a força possível.

Se é possível ter algum consolo, é que essa lição e outras que você aprendeu na guerra tenham fortalecido seu caráter e lhe conferido novas perspectivas. Acredito que suas experiências, por mais que eu possa ter desejado poupá-la delas, a tornaram mais generosa e grata, ponderada e tolerante. Porque você viu a alternativa. Você viu o pior, e expressou o que tem de melhor. E isso é alguma coisa, Bana. Isso é tudo.

Trata-se de uma  lição de vida, sobre como somos capazes de sobreviver as mais diversas situações, e como nós todos podemos fazer a diferença na busca por um mundo melhor. Querido Mundo é uma história real, sobre uma menininha que usou uma rede social - @AlabedBana - para mostrar ao mundo o que estava acontecendo no país dela, e fazer um apelo por Paz. O livro é encantador, emocionante e uma leitura fluida, quando você vai ver, já está nas últimas páginas. É uma história que deve ser indicada para todo mundo. Espero que vocês gostem.

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segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Resenha: "Nos bastidores do Pink Floyd" (Mark Blake)

Tradução: Alexandre Callari

Por Sheila & Glaucio: Oi pesso@s lindas, como vocês estão? Ta aí uma coisa que nunca havia me chamado muito a atenção: biografias. Sei lá eu por que. Nunca tive muito interesse sobre a vida de ninguém. Curto muito as músicas do Pink Floyd, mas saber como a banda começou, curiosidades e - o que Mark nos promete - uma "história secreta" nunca havia me passado pela cabeça.

Maasss... meu marido também queria muito ler o livro. Temos uma certa diferença de idade, então os caras são muito mais da época dele do que da minha. Assim, lemos eu e meu marido, e resenhamos juntos (É na saúde e na doença, com biografia e com resenha também!).

Já havíamos feito isso antes, quando lemos e resenhamos aqui para o blog "O espadachim de carvão" (e se você ficou curioso pode conferir a resenha aqui) e seguiremos mais ou menos o mesmo modelo: vamos construir o desenvolvimento juntos e, ao final, colocar dois parágrafos com as opiniões de ambos separadas. Ok? Então vamos lá!

O livro trata da trajetória do Pink Floyd seguindo uma certa "linha do tempo" nos capítulos, onze ao total, em que o autor irá falar do começo da banda, gravações, primeiros shows, turnês, brigas entre os integrantes e, inevitavelmente, a dissolução desta que é considerada uma das maiores bandas de Rock de todos os tempos.

Momento a momento, vamos acompanhando a banda e sua trajetória, com detalhes que nunca antes haviam sido trazidos à tona em nenhum outro livro ou documentário produzido. Mesmo sendo um texto completo e minucioso, a escrita é agradável, o que faz com que a história complexa e intrincada dos integrantes seja lida em poucos dias, mesmo sendo mais de 400 páginas.

Começando com a reunião acontecida entre a banda em julho de 2005, e a tensão enolvendo o show para o Live 8, como uma forma de chamar a atenção para o encontro do G8 que iria debater o enfrentamento a pobreza no terceiro mundo, vamos acompanhar passagens excelentes, fotos raras e exclusivas e termina, novamente, no Live 8.

"Seria fantástico se pudéssemos fazer isso para algo como outro Live Aid, mas talvez eu esteja apenas sendo terrivelmente sentimental ... você sabe como são velhos bateristas"
Nick Mason
 

"Realmente, espero que possamos fazer algo juntos outra vez"
Richard Wright
 
"Acho que não passaríamos pela primeira meia hora de ensaios. Se vou estar no palco tocando, quero que seja com pessoas que eu amo"
Roger Waters
 
"Acho que Roger Waters tem meu numero de telefone, mas não tenho interesse algum em discutir qualquer coisa com ele"
David Gilmour
Segundo Glaucio, meu marido, Nos bastidores do Pink Floyd é uma narrativa minuciosa, envolvente e imperdível àqueles que se consideram fãs da banda, o que torna a leitura desta obra uma quase obrigatoriedade. Impossível não se emocionar lendo algumas passagens, sendo que o grande diferencial talvez sejam as entrevistas das pessoas próximas aos músicos.

Do meu ponto de vista, um pouco mais desapaixonado, parece ser um livro completo; houve realmente uma dedicação do autor em publicar uma obra definitiva, que abarcou a história não só dos músicos, mas das pessoas que eles eram antes disso, o que eu acho muito interessante. Afinal, as letras das músicas do Pink Floyd são cheias de simbolismos, que ficam um pouco mais claros quando descobrimos quem eles eram antes mesmo da formação da banda.

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sexta-feira, 19 de maio de 2017

Resenha: “O Mundo pelos Olhos de Bob” (James Bowen)

Tradução de Falchetti Peixoto
Por Kleris: Lembro-me da primeira vez que vi o ~Bob. Desci as escadas rolantes do shopping e caminhei para a feirinha de livros que estava rolando (a famosa Feira de Livros do Shopping da Ilha). Era 2013 e a feira era bem acanhada, com espaço reduzido, mas aconchegante pelas boas promos de livros. 

Tenho a leve impressão de que fiquei de bobeira ao adentrar, vez que iria esperar as migas, para conferirmos juntas os livros da vez. Então vi ~Bob, aquela coisinha alaranjada empoleirado numa prateleira  e eu soube que tinha que levá-lo pra casa. Ainda rondei bastante por algum tempo e parece que ~ele estava me chamando. 

Não sei bem se comprei no mesmo dia ou logo no dia seguinte, porque, como eu disse, precisava “adotar” Um gato de rua chamado Bob. Já havia visto resenha aqui no blog sobre, mas ~vê-lo ali despertou todo um feeling.


Bob é aquela estrela que nos chama atenção, e é quando nos aproximamos para um carinho e um dedo de prosa, que descobrimos James. Em Um gato de rua chamado Bob, nos conectamos a essas duas criaturas que não tinham muita expectativa de vida, mas ao se encontrarem, fizeram mais que salvar um ao outro; juntos, eles construíram uma história de humildade, compaixão e esperança. Ao adotar James, Bob, por mais que chame atenção das pessoas, dá vez e voz ao seu dono, uma pessoa já esquecida e ignorada pela sociedade. Se seu histórico de vícios e homem sem-teto o apagara das ruas, Bob, em todo seu carinho, zelo e travessuras, deu cor de volta a James.

O primeiro livro conta justamente os percalços da vida, o encontro de almas das duas figuras e como o brilho de Bob os tornou famosos. Já em O mundo pelos olhos de Bob, continuação da saga de vida, James tenta cada vez mais se restabelecer, tornar-se limpo. Com o tempo, vender a revista The Big Issue não é o bastante e ainda há muita violência ao redor dele. A droga já não é uma tentação, mas um assombro daquele passado; James tenta aos poucos reconstituir o que essas drogas lhe tomaram. Bob ali é mais uma vez sua luz ao fim do túnel. James, por certo, gostaria de entender o que é o mundo pelos olhos de seu gato, sempre tão sensível aos perigos, mudanças e brincadeiras. A dinâmica deles é incrível. Melhor, sincronia. 
Quando comecei a sentar no balde, fiquei com medo de que simplesmente não me vissem ali. Entretanto eu devia ter imaginado: Bob cuidou disso.  Talvez fosse porque eu estivesse sentado com ele a maior parte do tempo, mas durante esse período ele se tornou um verdadeiro showman. No passado, geralmente era eu quem instigava as rotinas divertidas. Porém agora ele começava a tomar iniciativa. [...]
Algumas vezes eu ficava convencido de que ele sabia exatamente o que estava acontecendo. Eu tinha certeza de que sacara que, quanto mais cedo ganhássemos uma quantidade satisfatória de dinheiro, mais cedo poderíamos chegar em casa e eu, descansar minha perna. Era assustadora a maneira como ele entendia.

As questões que mais pesam nesse livro são os valores e vínculos pessoais. James está mais próximo do pai, de Belle, das pessoas. Mas, ao mesmo tempo que ele volta a ser visto, nem todas as pessoas o aceitam. Alguns invejam, outros apenas querem escorraçar, ameaçar e denunciar por pura maldade. Muitas vezes James é chamado ou investigado por denúncias malcriadas. Todas as vezes que alguma autoridade averiguava, não encontrava nada de concreto para prendê-lo. Até Bob vira alvo, infelizmente. A ~fama tem seu preço. 
Então me tornei muito cauteloso com as pessoas. Era triste, porém eu ainda me sentia assim em bastante. Os acontecimentos das duas últimas semanas enfatizaram isso. Alguém tinha feito uma acusação fictícia contra mim. Por tudo que eu sabia, poderia ter sido alguém que eu via todos os dias da semana. Poderia ter sido alguém que eu considerava como “amigo”. 
Mais uma vez, comecei a me perguntar se a fama que Bob e eu estávamos ganhando era uma faca de dois gumes. Mas eu sabia o que tinha que fazer. [...] Estava trazendo à tona o pior das pessoas – e, mais preocupante, estava trazendo à tona o pior de mim.

James também descreve como e quando surgiu a ideia de escrever um livro sobre a história dos dois. Achei interessante como ele, apesar de toda vergonha e culpa pelo seu passado, começa a refletir mais sobre o que aconteceu de verdade, o que lhe dá alguma redenção. A partir de seu relato também se põe em questão como ajudar de verdade outras pessoas, o que está ou não funcionando. Por mais que seja difícil encarar esse darkside de sua história, é o que eles precisam para seguir em frente. 
Eu realmente não queria entrar no lado negro da minha vida. Mas, enquanto conversávamos, ele disse algo que me falou ao coração: podia ver que Bob e eu já fomos almas perdidas, que nos unimos quando estávamos no fundo do poço e havíamos ajudado a consertar a vida um do outro.  — Essa é a sua história, que você tem que contar – sugeriu-me.

O ghost foi bem sensível de capturar a essência da história, só algumas vezes que ele soou muito ghost, sabe? Muitas frases de efeito, como no outro livro. Pra mim, parecia forçar um pouco a barra, mas nada possa incomodar tanto. Afinal, James merece um olhar bem generoso para sua história.

Gostei bastante também de como o livro foi uma maneira de James se comunicar melhor. Principalmente nas relações pessoais, onde as mágoas costumam barrar nossa comunicação. Foi um meio pelo qual ele pôde atingir pessoas como nunca.

O mundo pelos olhos de Bob é, assim, um livro para encantar e emocionar; um presente. É uma leitura agridoce: as duras partes estão entremeadas à bondade, amizade e fidelidade de várias figuras. Torcemos, urramos, enternecemos. Para todos aqueles que dedicam sua vida a ajudar os necessitados e os animais abandonados. Recomendado não ler tudo numa sentada só, pois essa é daquelas histórias para ser sentida, daí lida pouco a pouco. Um toque de fofura são as pegadas de Bob no alto das páginas, seguindo o estilo do livro anterior. O volume 3 já é um pouco diferente – veja resenha aqui. 
Assim, enquanto olhava para Bob interagindo com Gillian, uma parte de mim desejava que minha vida pudesse ser tão simples e sincera como a dele. Ele a conhecera em circunstâncias estranhas, mas imediatamente sentiu que poderia confiar nela. Ele pressentia que ela era uma pessoa decente e então a abraçara como amiga. Eu sabia que não ia ser fácil, e eu precisava fazer isso. Eu precisava ter esse mesmo ato de fé. 
Eis a alegria e a frustração de ter um gato. “Os gatos são um tipo misterioso de camarada – há mais passando na mente deles do que podemos imaginar”, escreveu Sir. Walter Scott. Bob era mais misterioso que a maioria. Sob vários aspectos, era parte de sua magia o que fazia dele um companheiro extraordinário.

Recentemente a história foi adaptada em um filme <3 
Confira o trailer (legendado) abaixo:




Até a próxima!

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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Resenha: "As Letras dos Beatles: A história por trás das canções" (Hunter Davies)

Tradução: Maria da Anunciação Rodrigues 

Por Marianne: 2016 foi o ano que descobri minha paixão por biografias. Foram tantas maravilhosas que só fez crescer minha estante de desejados no Skoob, e para encerrar com chave de ouro recebi essa maravilhosidade do autor Hunter Davies, biógrafo oficial dos Beatles, que acompanhou a banda durante gravações e turnês e nos presentou com obras essenciais para qualquer um que se considere fã da banda.
Quando se considera que compuseram tantas músicas em tão pouco tempo, para si próprios e para outros, é de admirar que não se repetissem com mais frequência.
Eu fiquei apaixonada por essa edição logo de cara. Muitas fotos dos manuscritos oficiais das músicas, que hoje são guardados em museus e bibliotecas, ou escondidos a sete chaves por colecionadores que ganharam ou desembolsaram alguns mil dólares pra ter esses pedacinhos de papel que qualquer fã da banda choraria só de ver.

Hunter Davies conta a história de cada música, cada disco, e cada EP lançado pela banda. De Please Please Me a Let It Be, passeamos pela história e evolução musical da banda através dos olhos de Davies.

Muitas coisas que antes só ficavam na minha imaginação (e tenho certeza que na de muitos de vocês) tomaram forma com a narrativa e descrição do autor. Lennon e McCartney eram uma máquina de composições juntos. Trabalhavam com harmonia e sincronia espantosa na criação das músicas, deixando pouco espaço aos companheiros George e Ringo.

George, na minha opinião, foi o mais injustiçado por estar sempre nessa sombra Lennon/McCartney. Nas poucas oportunidades que teve de mostrar seu trabalho nos álbuns fez tudo de maneira decente e, para falar a verdade, são algumas das minhas músicas preferidas dos Beatles.

Como em toda obra vemos que as músicas da banda são a perfeita reflexão da vida de seus criadores. Seus relacionamentos, o fim deles, a fama repentina, as pessoas que se aproximavam por interesse, até umas brincadeiras sem fundamentos que deixam muitos musicólogos sem dormir tentando entender seu significado — que eles juram de pés juntos não existir.

O que muito me surpreendeu foi que muitas letras que eu tinha como mantra de vida existem meio que sem querer, precisavam de algo para rimar e lá estava uma frase meio sem pé nem cabeça que BAM, se encaixa perfeitamente com todo o resto, mas surgiu pura e absolutamente sem querer, ou pelo menos é o que o que eles dizem numa falsa modéstia.

A evolução da musicalidade dos Beatles é gritante. Ao se ouvir Love me Do e The Word você tem certeza que são duas bandas completamente diferentes, ou que pelo menos se passaram anos entre as duas gravações. Mas foram dois anos e um sucesso repentino e fora do normal (para época) que transformaram a vida e a música dos meninos de Liverpool.
Então, em outubro de 1965, quando começaram a trabalhar num novo álbum e num novo single, houve uma mudança profunda e clara, um avanço para a frente, para os lados, para a cima, para fora. Era um pouco como crescer; eles ficaram mais maduros e confiantes, sem se confinar mais ao que tinha acontecido antes ou às convenções  sobre o formato da música popular;(...)
O livro para mim foi emocionante. Derrubei umas lágriminhas no final, confesso. Apesar de não ser um livro sobre a história da banda em si, uma coisa está, obviamente, atrelada a outra. 

O fim dos Beatles não foi repentino, foi um desgaste gradativo, como em um relacionamento que você vê que não está mais dando certo mas tem medo de colocar um ponto final.

A grande diferença é que o resultado final desse relacionamento desgastado gerou um material de qualidade absurda, ao invés de algo medíocre e feito de qualquer jeito.

Fan fact que causou minhas lágriminhas, o álbum Abbey Road meu preferido da vida foi o último álbum produzido pela banda, apesar de não ter sido o último lançado (foi Let it Be), e a última música do álbum, The End também uma das preferidas, encerra não apenas mais um álbum maravilhoso produzido pela banda, como a história que existiu até ali.
O álbum Let it Be foi uma experiência bastante caótica, infeliz e insatisfatória para todos eles —e acabou sendo adiado por mais de um ano, por várias razões. Tecnicamente, é seu álbum final, pois foi o último a ser lançado, mas na verdade foi o penúltimo que trabalharam, e gravaram.
Hunter Davies é tipo um pró em Beatles, com mais livros lançados sobre a banda que já estão, claro, na minha lista. Eu sou fanzoca de carteirinha e umas tatuagens e sou suspeita para falar, mas acredito que todos vão se encantar com a história das canções que mudaram o modo de uma geração — e várias que vieram depois — se relacionar com a música.

E por último, e não posso deixar de citar, a qualidade da impressão e do papel desse livro são absurdas. As páginas são de uma folha tão grossa que por vezes achei que estava pegando duas páginas ao invés de uma só. Parabéns a editora Planeta por lançar essa edição maravilhosa com tanta qualidade, que infelizmente se vê muito pouco por aí.

Espero que tenham gostado da resenha. Preparei uma playlist com as minhas preferidas da banda (missão difícil), dá o play ai embaixo e contem qual a favorita de vocês da banda!
Até a próxima!




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quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Resenha: "Schulz e Peanuts – A biografia do criador do Snoopy" (David Michaelis)



Tradução: Denis de Brong Mattar, José Juliodo Espírito Santo

Por Marianne: Esse ano posso dizer que foi meu ano das biografias. Comprei muitas algumas, recebi outras de parceria do blog, emprestei outras... E assim nasceu um amor!
   Foi então que recebi Schulz e Peanuts: a biografia do criador do Snoopy da editora Seoman em casa e confesso que minha primeira reação foi de me sentir completamente intimidada. São quase seiscentas paginas de uma letra miudinha contando a história da vida do moço. “Onde que fui amarrar minha mula?” eu pensei... Maaaas, tá tudo certo. Vamos romper preconceitos, deixar a preguiça de lado e enfiar a cara!

   Em Schulz e Peanuts o autor David Michaelis retrata detalhadamente a história de Charles Schulz, desde a infância de menino tímido e sem muitos atributos no subúrbio de Minneapolis, filho de mãe norueguesa e pai estadunidense, até se tornar o mais conhecido cartunista de sua época e criar a tira fenômeno que permanece até hoje na vida das pessoas, os Peanuts.

   O detalhamento na narrativa é algo essencial para entendermos quem foi Charles Schulz durante toda sua vida e a relação de suas experiências com a criação das histórias desenvolvidas nas tirinhas dos Peanuts. Conhecendo melhor a história de Schulz as tiras filosóficas, e muitas vezes bastante melancólicas, apresentadas pelo protagonista humano Charlie Brown nos remetem diretamente à uma associação com a vida pessoal do autor, apesar de Schulz sempre declarar que Charlie Brown nunca foi seu álter ego.

   De tirinha simpática do jornal a um fenômeno disseminado pelo mundo, acompanhamos na história a ascensão dos Peanuts e sua grande contribuição pra cultura pop da época. Happiness is a warm puppy — felicidade é um cachorrinho quentinho, numa tradução literal— foi um dos livros ilustrados por Schulz com tirinhas dos Peanuts. Este em especial falando basicamente sobre pequenos prazeres da vida. E virou sucesso imediato. A frase entrou na vida dos estadunidenses e deu origem a vários trocadilhos envolvendo seu conteúdo. Happiness is a warm gun, canção do consagrado White Album dos Beatles é uma delas.

   O ápice do sucesso veio quando Snoopy, o cachorrinho ultra melancólico de Charlie Brown, surgiu com mais destaque na tiras. Snoopy virou sucesso mundial e levou os Peanuts a se tornarem figurinha carimbada em milhares de produtos ao redor do mundo. Inúmeras propagandas estreladas pela turma de Charlie Brown e Snoopy renderam a Schulz algumas críticas em relação a comercialização da marca.

   Em meio a críticas, crises no casamento, nascimento dos filhos, Schulz fez dos Peanuts sua válvula de escape dos problemas e sua maior motivação. Sua paixão pelas tiras e a simplicidade por trás dos Peanuts, colocados de uma maneira ímpar, foram com certeza a chave do sucesso do autor.
    O livro ainda tem algumas fotos de Schulz em diferentes momentos de sua vida, alguns esboços de seus desenhos e propagandas relacionadas aos Peanuts.

A leitura é demorada, mas nem de longe cansativa. A história do mestre cartunista foi tratada com muito respeito e atenção pelo autor e merece cada uma das quase seiscentas páginas que foram dedicadas a ela.
Espero que tenham gostado da resenha e até a próxima!
:)
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Ana Liberato