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quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Resenha: "Família de mentirosos" (E. Lockhart)


Tradução: Flávia Souto Maior

Sinopse: Descubra o que aconteceu vinte e sete anos antes dos eventos narrados em Mentirosos, com uma narrativa igualmente viciante, trágica e envolta em mistérios.

Não é fácil para Carrie ser a principal herdeira da família e carregar todas as expectativas que vêm junto com seu sobrenome. Para ser uma Sinclair perfeita, ela não deveria demonstrar emoções ― nem mesmo o sofrimento profundo pela morte recente de sua irmã caçula. Para ser uma Sinclair perfeita, deveria se submeter à cirurgia na mandíbula que seus pais insistem que ela faça, mesmo que isso lhe renda dolorosas semanas de recuperação ― e um vício em analgésicos.

No verão de seus dezessete anos, a família vai para Beechwood, a ilha particular onde sempre passa as férias. Mas, dessa vez, há algo de diferente: entre os visitantes da ilha está Pfeff, um garoto que mexe com os sentimentos de Carrie. Mas esse relacionamento está longe de ser um conto de fadas ― e essa história dificilmente vai acabar em um “felizes para sempre”.

Por Stephanie: Eu sou uma defensora de Mentirosos. Na época do lançamento, li e amei demais, fiquei mega surpresa com as reviravoltas e panfletei horrores a leitura. Portanto, obviamente fiquei super animada quando soube do lançamento de Família de mentirosos, um prequel da história que tanto me marcou há quase dez anos. Apesar de ter achado que a autora não perdeu totalmente a mão da escrita, sinto dizer que as minhas expectativas possam ter estragado um pouco a minha experiência ao ler esse lançamento.

O livro nos apresenta uma geração anterior àquela que conhecemos em Mentirosos. Vamos acompanhar um novo grupo de adolescentes passando um verão na ilha majestosa da família Sinclair, cercada de tudo de melhor que o dinheiro pode oferecer.

Eu não me incomodei e nem achei difícil acompanhar esse novo grupo de personagens; na verdade, achei todos até interessantes e verossímeis. Carrie, nossa protagonista, às vezes irrita um pouco, mas nada fora do normal para uma adolescente rica.

Pfeff é o mocinho típico de livros YA, bem rebelde sem causa. Ele me deu nos nervos um pouco, principalmente em uma certa cena que desencadeia acontecimentos mais dramáticos, mas, fora isso, não me surpreendeu.

Um ponto interessante do livro é a inclusão, ainda que mínima, de representatividade. Gostei de ver um esforço da parte de Lockhart e não ficou soando como algo forçado ou que estava ali apenas para cumprir uma cota.

Agora, o que mais me desagradou na obra foi definitivamente o desenvolvimento do meio para o final. Assim como em Mentirosos, há um mistério a ser desvendado, e os caminhos que a autora escolheu para seguir me soaram muito parecidos com os do livro anterior. Não estou dizendo que os acontecimentos se parecem, e sim que o rumo das situações se assemelha, deixando tudo bastante previsível (e se tem uma coisa que Mentirosos não foi pra mim, é previsível).

Por fim, acabei achando Família de mentirosos um livro morno. Tinha muito potencial, mas foi desperdiçado pela previsibilidade. Gostaria apenas de deixar um alerta: não leia esse livro sem antes ler Mentirosos, pois ele conta o final da história! A própria autora dá esse conselho nas primeiras páginas, mas é bom reforçar.

Até a próxima, pessoal!


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quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Resenha: "Heartstopper - Volumes 3 e 4" (Alice Oseman)

Tradução: Guilherme Miranda

Por Stephanie: Heartstopper é uma história para aquecer os corações mais gelados. Nos dois primeiros volumes, somos apresentados a Charlie e Nick, bem como a seus amigos que já nos conquistam logo de cara. Desde o primeiro quadrinho, eu já sabia como seria uma jornada especial, e nos últimos dois lançados por aqui eu só pude confirmar ainda mais como eu amo essa história e tudo o que ela representa.

Em “Um passo adiante” – como o próprio título sugere –, vemos os primeiros acontecimentos do relacionamento dos dois protagonistas, agora oficialmente. É muito gostoso acompanhar o desenvolvimento e amadurecimento de ambos, como eles vão aprendendo a estar juntos e a enfrentar os desafios que se apresentam no início de qualquer namoro (e outros que são específicos de um namoro entre dois meninos).

Alice Oseman sabe como ninguém escrever uma história leve sem ser boba demais. Ela insere com delicadeza assuntos mais sérios, sem nunca perder a mão. Eu gostei muito de todo o enredo, mas não sabia que o melhor ainda estava por vir.


“De mãos dadas” aprofunda ainda mais não só o relacionamento de Nick e Charlie como também as temáticas (e aqui cabe até um aviso de gatilho para transtornos alimentares). Adorei acompanhar a jornada principalmente do Nick, que passa por tantas situações novas e confusas neste volume. O final, apesar de mais triste do que o dos outros, é perfeito para ilustrar o drama vivido por Charlie e as dificuldades que as pessoas à sua volta também enfrentam, ainda que de forma indireta.

Mais uma vez, a autora trata tudo com sutileza e ainda assim, muita responsabilidade. O quarto volume da série se tornou meu favorito, juntamente com o segundo. Mas eu amo todos e recomendo demais a leitura!

Até a próxima, pessoal!


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sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Resenha: "Eu beijei Shara Wheeler" (Casey McQuiston)

 

Tradução: Guilherme Miranda

Sinopse: Chloe Green está a um passo de terminar o ensino médio e deixar False Beach, a cidadezinha ultraconservadora onde vive, para trás. Mas, antes disso, ela tem um último objetivo a cumprir: ser eleita a melhor aluna do colégio e a oradora da turma. Seu único obstáculo? Shara Wheeler, a garota mais popular da cidade, que arranca suspiros por onde passa.

Só que, faltando pouco mais de um mês para a formatura, Shara simplesmente desaparece. Todos são pegos de surpresa, mas Chloe tem um motivo a mais para ficar chocada: um dia antes, Shara a tinha beijado na boca sem maiores explicações.
Decidida a encontrá-la para tirar a história a limpo, Chloe logo se vê em uma busca bastante inusitada: Shara espalhou vários cartões pela cidade, dando pistas sobre o seu paradeiro e revelando uma personalidade até então desconhecida ― e que pode mudar completamente os planos de Chloe.

Por Jayne Cordeiro: Em "Eu beijei Shara Wheeler", o mais novo lançamento da autora Casey McQuiston, conhecida pelo livro "Vermelho, branco e sangue azul", somos apresentados a Chloe Green, uma jovem bissexual, que está fazendo seu último ano escolar em False Beach, uma cidade pequena e ultraconservadora. Seu maior sonho é sumir dessa cidade e encerrar sua estadia como a melhor aluna da escola e oradora da formatura. Ela só tem uma concorrente à altura: Shara Wheeler, uma jovem perfeita aos olhos de todos.

Há anos, Chloe e Shara vivem uma guerra acadêmica, e Chloe não pode ignorar quando a outra garota desaparece do nada, semanas antes da formatura, e das últimas atividades escolares, que vão decidir quem vai ganhar essa briga. E para completar, no dia anterior do sumiço, Shara beijou Chloe do nada e desapareceu. Aumentando o mistério, Shara deixou vários cartões com mensagens e pistas, para Chloe e outras pessoas próximas, e acaba mostrando um lado seu que ninguém parecia conhecer.

Já tive a oportunidade para ler os outros dois livros da autora, lançados por aqui. Dos três, esse foi o que eu gostei menos. É um  livro cheio de representatividade, o que lembra muito "Última parada". Temos vários personagens que estão se descobrindo e entendo quem são. As relações entre eles são muito legais, e algumas situações são divertidas e inusitadas. Mas no geral, foi o livro mais fraco da autora, pelo menos para mim. Não sei se o problema foi a premissa inicial.

A ideia de seguir pistas de uma pessoa desaparecida, me lembrou um livro do John Green, e ao mesmo tempo eu não consegui comprar a ideia de jovens que ficam seguindo pistas e cartões deixados por uma garota que escolheu sumir e fazer uma caça ao tesouro com o seu paradeiro. Também não conseguimos ter muitos momentos entre Chloe e a Shara, e talvez isso tenha feito a diferença. Tem menos interação entre o casal do que os outros dois livros da autora, e é menos divertido que eles também.

Mas ainda assim é um livro bem interessante, com uma boa escrita, e personagens com os quais nos identificamos. A protagonista Chloe é instigante, e os seus amigos e parceiros de investigação geram bons momentos no livro. Para quem gostou dos outros livros da autora, não dá para deixar de ler esse aqui, e vai ter aqueles que vão amar, e aqueles que vão gostar. Como outras obras da autora, este livro vai te conquistar pelas relações entre os personagens. Dificilmente terá quem não goste. Gostaria de mencionar que achei a capa muito legal, e é interessante deixar na mesma ideia de animação, como os livros anteriores. 


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segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Resenha: "Última Parada" (Casey McQuiston)

 

Tradução: Guilherme Miranda

Sinopse: Aos vinte e três anos, August Landry tem uma visão bastante cética sobre a vida. Quando se muda para Nova York e passa a dividir apartamento com as pessoas mais excêntricas — e encantadoras — que já conheceu, tudo o que quer é construir um futuro sólido e sem surpresas, diferente da vida que teve ao lado da mãe.

Até que Jane aparece. No vagão do metrô, em um dia que tinha tudo para ser um fracasso, August dá de cara com uma garota de jaqueta de couro e jeans rasgado sorrindo para ela. As duas passam a se encontrar o tempo todo e logo se envolvem, mas há um pequeno detalhe: Jane pertence, na verdade, aos anos 1970 e está perdida no tempo — mais especificamente naquela linha de metrô, de onde nunca consegue sair.
August fará de tudo para ajudá-la, mas para isso terá que confrontar o próprio passado — e, de uma vez por todas, começar a acreditar que o impossível às vezes pode se tornar realidade.


Por Jayne Cordeiro: Em "Última Parada" somos apresentados a August Landry, uma jovem que acabou de se mudar para Nova York, buscando uma nova vida, enquanto troca de universidade. Sem muitos pertences, e precisando de um lugar para ficar, ela acaba dividindo um apartamento com um grupo de amigos excêntricos, mas acolhedores. Tudo o que ela quer é estabilidade, coisa que a sua mãe nunca conseguiu lhe dar. Mas essa paz e estabilidade parece estar longe, quando ela acaba conhecendo Jane, uma garota de jaqueta de couro e jeans rasgados, que parece ter saído de outra década.

O que é verdade, já que Jane veio de 1970, e parece estar presa a uma linha do metrô, de onde não consegue sair. August decide descobrir o que aconteceu e como pode ajudar Jane a sair de sua prisão. Ela também pode acabar se envolvendo demais com a outra garota, e vai acabar precisando lidar com o seu próprio passado e decidir como que viver a sua vida a partir de agora.

Depois de ler "Vermelho, Branco e Sangue Azul", da mesma autora, eu fiquei encantada pela escrita dela, e decidi que precisava ler "Última Parada". Achei a premissa super interessante, com um tema mais ficção, e ainda temos um casal formado por essas duas jovens. Eu posso dizer que gostei muito do livro, e para mim, a melhor parte dele, são os colegas de apartamento da August, e me diverti demais com eles. O livro também trás vários temas e personagens interessantes. Temos lésbicas, bissexuais, travestis, histórias envolvendo aceitação, luta por direitos, o capitalismo e a modernização afetando negócios familiares e com tradição, e a busca por encontrar seu caminho profissional.

É uma história que aborda temas sérios e outros mais leves, de uma forma única, com personagens carismáticos, excêntricos e também comuns. Gostei bastante das protagonistas, cada uma com características próprias, mas que foram ajudando a outra a encontrar seu caminho. E foi espetacular, como a autora conseguiu criar um envolvimento entre personagens que só conseguem interagir dentro de um trem. É um enredo inovador, e um desenvolvimento muito bom. Tudo isso só me deixou mais fã da autora.


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segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Resenha: "Hearstopper Vol. 2 - Minha pessoa Favorita" (Alice Oseman)

 

Tradução: Guilherme Miranda

Sinopse: Charlie e Nick são melhores amigos, mas tudo muda depois que eles se beijam em uma festa. Charlie acredita que cometeu um grande erro e arruinou a amizade dos dois para sempre, e Nick está mais confuso do que nunca.

Mas aos poucos Nick começa a enxergar o mundo sob uma nova perspectiva e, com a ajuda de Charlie, descobre muitas coisas sobre o mundo que o cerca, sobre seus amigos ― e, principalmente, sobre ele mesmo.


Por Jayne Cordeiro: Em "Hearstopper Vol. 2 - Minha pessoa favorita", continuamos exatamente de onde a primeira Graphic Novel acabou. Charlie tomou coragem e beijou Nick, mas este está ainda mais confuso. Charlie acredita que irá perder o grande amigo para sempre. Como será que Nick irá lidar com o que aconteceu, e com suas próprias emoções? Enquanto faz essa análise, ele vai começar a questionar as pessoas e o meio onde vive.

Eu não consegui resistir para ler esse segundo volume. A história continua envolvente, doce e e fofa. Dá para ler em poucas horas e dá aquele quentinho no coração.  Os desenhos continuam seguindo o mesmo padrão, o que torna a história muito bonita visualmente. Apesar de curta, ela fala sobre romance, amizade, aceitação e comportamentos que aceitamos como normais, mas que não são. De forma simples e doce, esta graphic novel trás uma mensagem muito boa.

Os personagens secundário são também muito interessantes. principalmente os amigos de Charlie, e uma ex de Nick que ganhou direito a um conto no final. Temos aqui uma história curta, mas cheia de mensagens que devem ser semeadas. Tem momentos que você vai sorrir, comemorar e até chorar. É uma continuação perfeita para essa série, e já fico ansiosa para ler o volume 3, e pela série da Netflix.


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domingo, 9 de janeiro de 2022

Resenha: "Blackout" (Nicola Yoon, Dhonielle Clayton, Tiffany D. Jackson, Nic Stone, Angie Thomas, Ashley Woodfolk)


Tradução de Karine Ribeiro

Sinopse: Seis autoras extraordinárias. Seis histórias de amor entrelaçadas. Uma noite que tinha tudo para ser um desastre ― mas acaba sendo brilhante.

Uma onda de calor causa um apagão em Nova York. Multidões se formam nas ruas, o metrô para de funcionar e o trânsito fica congestionado. Conforme o sol se põe e a escuridão toma conta da cidade, seis jovens casais veem outro tipo de eletricidade surgir no ar…Um primeiro encontro ao acaso. Amigos de longa data. Ex-namorados ressentidos. Duas garotas feitas uma para a outra. Dois garotos escondidos sob máscaras. Um namoro repleto de dúvidas. Quando as luzes se apagam, os sentimentos se acendem. Relacionamentos se transformam, o amor desperta e novas possibilidades surgem ― até que a noite atinge seu ápice numa festa a céu aberto no Brooklyn.

Neste romance envolvente e apaixonante, composto de seis histórias interligadas, as aclamadas autoras Dhonielle Clayton, Tiffany D. Jackson, Nic Stone, Angie Thomas, Ashley Woodfolk e Nicola Yoon celebram o amor entre adolescentes negros e nos dão esperança mesmo quando já não há mais luz.

Por Stephanie: Blackout foi um livro que me surpreendeu. Eu comecei a leitura pensando que encontraria uma antologia de contos, mas o que encontrei na verdade foi uma história completa, com vários pontos de vista vindos de diversos personagens, cada um vivendo seu romance em alguma parte da cidade de Nova York durante um apagão. E essa foi uma surpresa mais do que bem-vinda.

O ponto principal da obra (que é também o mais positivo) com certeza é a representatividade racial e sexual. Todos os personagens principais são negros e há dois casais LGBT+ (inclusive, o casal formado por dois meninos foi o que achei mais fofo). São histórias clichês e simples, mas que ganham um brilho especial por serem protagonizadas por pessoas fora do padrão que sempre vemos por aí em romances adolescentes.

É isso o que acontece quando encontramos a pessoa certa para amar. Quando alguém te ama, nenhum problema importa tanto. Porque amar é uma escolha que a gente precisa fazer todos os dias, mesmo quando o dia não sai como o planejado.

A escrita, ainda difira devido à cada autora responsável por um ponto de vista, consegue ser extremamente fluida e homogênea. Alguns capítulos são um pouco grandes demais, mas fora isso, eu achei uma leitura bem rápida, que é possível de se fazer até em um dia tranquilamente.

Fica a recomendação para todo mundo que quer um livro leve, gostoso de ler e que deixa aquela sensação de coração quentinho no final. Ah, e o livro físico brilha no escuro :)

Até a próxima, pessoal!

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quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Resenha: "Mordida" (Sarah Andersen)


Tradução de Sofia Soter

Sinopse: Em seu novo livro, Sarah Andersen traz uma história de amor inusitada entre uma vampira e um lobisomem, com a linguagem em quadrinhos que já conquistou milhares de fãs na internet e nas livrarias.

Em seus trezentos anos de vida, a vampira Elsie nunca encontrou um par perfeito. Tudo muda quando ela conhece Jimmy, um lobisomem encantador, com uma forte tendência a sair correndo por aí na lua cheia. Cada qual com seus hábitos incomuns, juntos eles levam uma vida de casal deliciosamente macabra, curtindo filmes de terror e livros de suspense, fazendo passeios à sombra e saciando seu apetite voraz em jantares refinados (sem alho!).

Com traço gótico, humor ácido e repleto de romantismo, Mordida retrata os dramas reais de se apaixonar por alguém perfeito para você – mas ao mesmo tempo muito diferente. Em edição de luxo, com capa dura de tecido e laterais pintadas de preto, este é um livro de morrer.

Por Stephanie: O que falar desse livrinho que eu li em minutos e mesmo assim se tornou um dos meus favoritos de 2021? Eu já conhecia o trabalho da Sarah Andersen pelas redes sociais dela, mas nunca havia lido nenhum de seus livros. E fico muito feliz de ter começado por esse, que tem uma temática que eu amo (vampiros/lobisomens), com um humor mórbido na medida certa.

Eu fiquei encantada por esse casal, pois mesmo sendo seres sobrenaturais, eles têm alguns dilemas parecidos com casais humanos (sim, é possível). Como o livro é extremamente curto, é muito difícil falar sem mostrar nada, então abaixo vocês podem ver algumas das páginas dessa edição lindíssima da Editora Seguinte:



Seja para quem já conhece ou para quem nunca teve contato com os trabalhos de Sarah, Mordida é uma ótima pedida para quando precisamos de uma leitura rápida e que nos deixará com um sorriso no rosto ao final. Eu com certeza farei várias releituras nos próximos anos! E claro que não vejo a hora de ler as outras obras da autora, que não duvido que sejam tão boas como essa.

Até a próxima, pessoal!

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quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Resenha: "Amor, mentiras e rock & roll" (David Yoon)

 

Tradução: Lígia Azevedo

Sinopse: Sunny Dae é nerd ― e com orgulho. Essa é a fama que ele e seus dois melhores amigos conquistaram na escola, onde curtir RPG definitivamente não é visto com bons olhos. E estava tudo bem, até Sunny conhecer Cirrus Soh, a garota mais descolada e confiante que ele já viu. Quando Cirrus acha que o quarto do irmão de Sunny é na verdade o dele, o garoto não consegue corrigir o engano. Com os olhos dela brilhando ao ver as guitarras e os pôsteres de rock na parede, ele acaba dizendo que tem uma banda ― embora não saiba nem segurar uma guitarra, ops.

Agora sua única esperança para sustentar a história e conquistar Cirrus é fazer com que seus amigos nerds topem participar de seu plano maluco de tornar essa banda realidade, vestindo as roupas que o irmão mais velho deixou para trás quando se mudou para Hollywood e ensaiando na sala de música da escola. O problema é que logo Sunny descobre que a vida de um rockstar mentiroso não é só fama e glória…


Por Jayne Cordeiro: Em "Amor, mentiras e rock & roll", somos apresentados a Sunny, um rapaz que carrega todo o estereótipo de ser nerd, do tipo que joga RPG, e é o excluído da escola. Mas ele está acostumado com isso e é feliz assim, junto com seus dois melhores amigos, Milo e Jamal. Mas um dia ele acaba conhecendo Cirrus, uma garota descolada e fã de rock, que confunde o quarto do irmão de Sunny, um verdadeiro cantor de banda de rock, com o dele.

Sunny não consegue desfazer o engano, quando percebe o interesse de Cirrus, e agora ele está preso na mentira em que tem uma banda de rock com os dois amigos, e que é uma pessoa bem descolada. É claro que a mentira vai ganhando proporções cada vez maiores, mas Sunny não quer perder a garota que conquistou seu coração. Mas ele vai acabar percebendo que no mundo do rock e das mentiras, nada é tão fácil...

Para começar, eu gostei muito da capa desse livro,  e adoro a ideia da editora de trazer uma legenda, e gráfico, no fundo livro, comentando que veremos nele. Aqui temos um protagonista com ascendência não americana, que sofre um pouco com o preconceito, mas o foco do livro não é esse. Partindo para os pontos que me incomodaram um pouco, um deles foi que eu acreditava que o livro seria mais divertido, do que realmente foi. Na verdade, eu acabei não gostando de toda a mentira que o Sunny inventou. Jogar os amigos na enrascada, colocar em risco um outro projeto do trio, por uma garota, é algo que um adolescente faria, mas mesmo assim, foi algo que me fez não gostar tanto do protagonista.

E o pior, é que a mocinha não me comprou. Se o casal fosse fofo, maravilhoso junto, eu até aceitaria a justificativa para toda a encenação, e ficaria ansiosa para o casal sobreviver a tudo. Mas para mim, Cirrus foi a personagem mais fraca de todo o livro. Sem profundidade, até quando o autor tentou mostrar seu drama de ficar sempre se mudando. Na verdade, meus personagens favoritos foram os amigos Jamal e Milo, que seriam os responsáveis por dar um ar mais leve e divertido ao livro, os pais do Sunny (que nem aparecem tanto) e o irmão dele Gray, que adoraria um livro só para ele.

Mas o livro também tem ótimas qualidades. A escrita é boa, os diálogos são interessantes. Temos aquele cinismo que é presente em muitas produções com adolescentes. Referências populares, temas bem emocionais sobre aceitação, formação de identidade, duelo entre sonhos x sucesso x estabilidade. Como o título do livro já diz, há muitas referencias ao rock, quando a artistas, ritmos, manipulação de instrumentos musicais, formação de banda. Foi um livro que eu li muito rápido, e que gostei. Não virou um favorito para mim, mas acredito que seja um caso de gosto particular de cada. Mas com certeza vale a tentativa, para quem gosta do gênero YA.


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segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Resenha: "Heartstopper - Dois Garotos, um encontro" (Alice Oseman)

 

Tradução: Guilherme Miranda

Sinopse: Charlie Spring e Nick Nelson não têm quase nada em comum. Charlie é um aluno dedicado e bastante inseguro por conta do bullying que sofre no colégio desde que se assumiu gay. Já Nick é superpopular, especialmente querido por ser um ótimo jogador de rúgbi. Quando os dois passam a sentar um ao lado do outro toda manhã, uma amizade intensa se desenvolve, e eles ficam cada vez mais próximos.

Charlie logo começa a se sentir diferente a respeito do novo amigo, apesar de saber que se apaixonar por um garoto hétero só vai gerar frustrações. Mas o próprio Nick está em dúvida sobre o que sente ― e talvez os garotos estejam prestes a descobrir que, quando menos se espera, o amor pode funcionar das formas mais incríveis e surpreendentes.

Por Jayne Cordeiro: "Heartstopper - Dois garotos, um encontro" é uma história em quadrinhos, onde conhecemos Charlie Spring, um adolescente que já sofreu muito bullying por ter se assumido gay. Hoje ele leva uma vida mais tranquila, focada nos estudos. E em uma das aulas, ele acaba sentando com Nick Nelson, um popular jogador de rúgbi da escola, e hétero.

Mas da convivência surge uma bela amizade. E cada um deles vai precisar lidar com as consequências de seus sentimentos. Charlie, que está apaixonado por um garoto aparentemente hétero, e Nick que nunca se imaginou gostando de outro menino, mas não consegue tirar o amigo da cabeça.

Faz muito tempo que eu não leio nada em quadrinhos, mas decidi dar uma chance para essa história, e não me arrependo. Adorei a forma como os quadrinhos são colocados, fugindo um pouco daquela regra de um quadrinho do lado do outro. O uso de poucas cores dá um ar doce e simples a história, o que também foi outro ponto positivo. Na verdade, eu só posso definir essa história como doce e fofa. Ela se desenvolve de um jeito bem construído, e dá pra ler em uma tarde. Já existe o volume 2 aqui no Brasil, e estou ansiosa para ler.

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sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Resenha: "Uma princesa em Tóquio" (Emiko Jean)

 

Tradução: Raquel Nakasone

Sinopse: Izumi Tanaka nunca sentiu que pertence ao lugar onde vive. Afinal, ela é uma das únicas garotas com ascendência japonesa em sua cidadezinha natal, no norte da Califórnia. Criada apenas pela mãe, as duas sempre foram muito unidas ― até Izzy descobrir que seu misterioso pai é ninguém mais, ninguém menos do que o príncipe herdeiro do Japão. O que significa que Izumi é literalmente uma princesa.

Não demora muito até a família imperial japonesa ir atrás de Izzy e ela partir em uma viagem para Tóquio. Em meio a confusões com um jovem guarda-costas mal-humorado (apesar de lindo!) e com primos envolvidos em diversas polêmicas, a garota vai perceber que a vida da realeza está longe de ser só glamour. E, enquanto tenta conhecer o pai, talvez acabe encontrando a si mesma.

Por Jayne Cordeiro: "Uma princesa em Tóquio" nos apresenta Izumi, uma jovem de ascendência japonesa que vive em uma cidade pequena na Califórnia. Além de sofrer um tratamento diferenciado por ser uma das poucas de ascendência não americana, ela ainda sente falta de conhecer seu passado, já que nunca soube quem é o seu pai. Mas ela acaba descobrindo a verdade, onde é filha do príncipe herdeiro do Japão. 

A partir disso, a vida de Izumi muda, com ela sendo seguida por jornalistas, e viajando para o Japão, para conhecer seu pai e sua família. Tentando se adequar as expectativas e responsabilidades de ser uma princesa, ela precisa criar laços com o homem que nunca soube da sua existência, um guarda imperial bonito, mas calado, e com parentes que podem ajudar ou atrapalhar sua adaptação à realeza.

Eu fiquei muito animada em ler esse livro, porque ele me lembrou muito "Vermelho, branco e sangue azul", "Como sobreviver à realeza" e "Sua alteza Real". E como esses mesmos livros, eu não me decepcionei. Não consegui largar "Uma princesa em Tóquio" até acabar o livro, e só posso dizer que estou apaixonada por ele. Eu já gosto muito da cultura japonesa, e esse livro conseguiu trazer mais informações sobre essa cultura milenar e tão interessante. Para quem também não está familiarizado com ela, esse livro vai ser uma ótima base.

A escrita da autora é divertida, com a quantidade certa de drama e romance. Nossa mocinha é desbocada, divertida, mas sempre disposta a ajudar aos outros, e com uma grande necessidade de se enturmar e ser aceita. Adorei a forma como a inserção da Izumi aconteceu no Japão, e as relações entre os parentes e ela. A relação dela com o pai, acontece de uma maneira muito real, considerando toda a situação.

Também é fácil se apaixonar pelo Japão e por Akio, o bonito guarda imperial, responsável por tomar conta de Izumi, e que também possui suas próprias dúvidas. Foi um livro muito gostoso de ler, com diversão e drama na medida certa, e que nos fez querer ser amigo da Izumi e seu grupo, e fazer parte dessa família real pouco explorada, mas cheia de histórias para contar.


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sexta-feira, 4 de junho de 2021

Resenha: "Destruidor de Mundos" (Victoria Aveyard)

 

Tradução: Lígia Azevedo

Sinopse: Ano após ano, Corayne assiste sua mãe, uma célebre pirata, partir para o alto-mar e desbravar todos os reinos de Todala, sem jamais poder acompanhá-la. Quando um misterioso imortal e uma assassina de aluguel aparecem dizendo que ela é a última descendente viva de uma poderosa linhagem — e a única pessoa capaz de salvar o mundo de um perigo iminente —, ela aproveita a chance para ir em busca de sua própria aventura.

O problema é que o perigo é muito maior do que ela imaginava: um homem sedento por poder, determinado a reabrir os portais que, no passado, levavam para outros mundos, povoados por criaturas sinistras. Com a ajuda de um grupo de bandidos e maltrapilhos, Corayne terá de provar que o heroísmo pode surgir até nos lugares mais inesperados.


Por Jayne Cordeiro: "Destruidor de Mundos" é um lançamento da editora Seguinte e da  conhecida Victoria Aveyard, autora da série "A Rainha Vermelha". Nesta história de fantasia, uma jovem, que descobre carregar em seu sangue um poder capaz de salvar o mundo, precisa se unir a um guerreiro imortal, uma assassina profissional, um escudeiro que carrega o peso de uma batalha perdida, uma bruxa que só fala em rimas, e outros dois bandidos, para impedir que um homem poderoso, consiga abrir portais e libere no planeta, monstros que podem destruir os reinos de Todala.

"Destruidor de Mundos" é um livro grande, com 550 páginas, mas não é maçante em nenhum momento. O começo é mais lento, porque estamos sendo apresentados aos personagens principais e é preciso mostrar os elos, que conectam à todos. Mas quando os encontros acontecem, a história ganha ritmo e fica bem mais dinâmica. Foi um bom livro, que promete bastante coisa para os próximos. Eu gostei do personagens, com as mais variadas personalidades e histórias de vida. Entre eles, é possível se divertir com o comportamentos de alguns, perceber possibilidades amorosas, ou dinâmicas que podem evoluir de várias formas.

O enredo é interessante, o contexto sobre aquele universo, com seus reinos e povos, é contado de forma fácil, e a informação não fica densa demais. Não comecei criando muitas expectativas para o vilão declarado, mas ao terminar o livro, o leitor sente sua intensidade e magnetismo, que promete muita coisa lá na frente. A história é envolvente, com vários acontecimentos, como viagens e missões, lutas, diálogos profundos e reviravoltas. Vemos temas como amizade, lealdade, companheirismo, importância da família, egoísmo e ambição.

Como um livro do gênero, ele consegue ser bem completo, com uma escrita clara e envolvente, personagens complexos e relações que vão surgindo e se modificando a cada página. Terminei o livro bem satisfeita, e com a sensação de que a série pode evoluir ainda mais, e se destacar dentro do gênero. Se você gosta de livro de fantasia, com magia, duelos e missões, com certeza, vale a pena dar uma chance para esse lançamento.




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sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Resenha: "Conectadas" (Clara Alves)

Sinopse: Raíssa e Ayla se conheceram jogando Feéricos, um dos games mais populares do momento, e não se desgrudaram mais – pelo menos virtualmente. Ayla sente que, com Raíssa, finalmente pode ser ela mesma. Raíssa, por sua vez, encontra em Ayla uma conexão que nunca teve com ninguém. Só tem um “pequeno” problema: Raíssa joga com um avatar masculino, então Ayla não sabe que está conversando com outra menina.

Quanto mais as duas se envolvem, mais culpa Raíssa sente. Só que ela não está pronta para se assumir – muito menos para perder a garota que ama. Então só vai levando a mentira adiante… Afinal, qual é a chance de as duas se conhecerem pessoalmente, morando em cidades diferentes? Bem alta, já que foi anunciada a primeira feira de Feéricos em São Paulo, o evento perfeito para esse encontro acontecer. Em um fim de semana repleto de cosplays, confidências e corações partidos, será que esse romance on-line conseguirá sobreviver à vida real?

"Sabe quando as coisas vão virando uma bola de neve e você não tem chance de voltar atrás?"

Por Thaís Inocêncio: Tudo começa de maneira muito inocente, nada premeditada. Raíssa escolhe um avatar masculino simplesmente para fugir do machismo escancarado do mundo dos games. Um dia, porém, ela encontra Ayla perdida no jogo, pedindo ajuda e sendo ignorada, já que nenhum menino sabichão quer interromper suas jogadas para ajudar uma menina iniciante. Como Raíssa já passou por isso e conhece esse preconceito, ela se dispõe a ajudar, sem, no entanto, se despir da sua capa de personagem masculino. 

A partir desse primeiro contato no jogo, as duas estreitam relações na internet. É aí que as mentiras e confusões têm início e a sensação que temos é exatamente a da quote acima: como é que essa bola de neve vai ser desfeita? As artimanhas de Raíssa para não revelar seu verdadeiro "eu" à Ayla são tão bem construídas que ficamos com a impressão de que, a qualquer momento, ela será engolida pelas próprias mentiras e não conseguirá mais se safar. 

Essa maneira de amarrar a história de modo que as coisas não fiquem muito óbvias ou com pontas soltas foi uma das coisas de que mais gostei no livro. A autora consegue nos convencer tanto de que Ayla realmente nem desconfia que Raíssa é uma menina quanto de que Raíssa tem motivos reais para continuar se escondendo por trás de um avatar masculino. Isso faz com que a gente não julgue (muito) as atitudes de Raíssa, mas a compreenda. Afinal, revelar-se para Ayla é também revelar-se para o mundo, não só o dos games, e é preciso muita coragem pra fazer isso. 

"Eu não estava pronta para admitir ao mundo que gostava de meninas."

Essa história vai muito além de um romance clichê entre duas meninas gamers; ela fala de descobertas, inseguranças, autoconhecimento, amor próprio, amizades e questões familiares. Imagino que quem faz parte da comunidade LGBTQIA+ se identifique com muitos dos caminhos e obstáculos que os personagens percorrem e enfrentam nesse livro, e o melhor é que ele mostra que, no fim, tudo vale a pena. Amei toda a representatividade presente nessa obra e espero que isso seja cada vez mais comum na literatura e na vida. 

Desejo que essa leitura aquela o coração de vocês como fez com o meu. Até a próxima, pessoal!

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sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Resenha: "O Timbre - Scythe #03" (Neal Shusterman)


Tradução de Guilherme Miranda

Sinopse: A humanidade alcançou um mundo ideal, em que não há fome, doenças, guerras, miséria… nem mesmo a morte. Mas, mesmo com todo o esforço da inteligência artificial da Nimbo-Cúmulo, parece que alguns problemas humanos, como a corrupção e a sede de poder, são igualmente imortais. Desde que o ceifador Goddard começou a ganhar seguidores da nova ordem, entusiastas do prazer de matar, a Nimbo-Cúmulo decidiu se silenciar, deixando o mundo cada vez mais de volta às mãos dos humanos.

Depois de três anos desde que Citra e Rowan desapareceram e Perdura afundou, parece que não existe mais nada no caminho de Goddard rumo à dominação absoluta da Ceifa — e do mundo. Mas reverberações da Grande Ressonância ainda estremecem o planeta, e uma pergunta permanece: será que sobrou alguém capaz de detê-lo?

A resposta talvez esteja na nova e misteriosa tríade de tonistas: o Tom, o Timbre e a Trovoada.

Por Stephanie: Como é bom finalmente poder dizer que finalizei uma das minhas trilogias favoritas! E melhor ainda é afirmar com tranquilidade que a conclusão da história foi extremamente satisfatória.

Quando li O Ceifador, lá em 2017, eu sabia que havia encontrado algo especial. Foi uma experiência muito impactante pra mim, e até hoje me lembro exatamente como me senti quando finalizei aquela leitura. Basicamente, eu fiquei obcecada pelo mundo e personagens criados por Neal Shusterman, bem como pela escrita do autor.

Aí veio A Nuvem e desconstruiu praticamente tudo que eu achava que sabia. Neal ampliou o mundo, trouxe novos personagens e até fez algo bastante arriscado: mudou o foco da narrativa. Eu estranhei bastante isso, mas o final chocante desse volume explodiu minha cabeça num nível que eu só conseguia pensar no que viria na terceira (e última) parte da história.

(...) depois que o impensável se transforma em norma, você fica insensível a ele.

Foram dois anos de espera e muita ansiedade para finalmente saber o que o autor havia preparado para o futuro de Citra, Rowan e cia. Eu poderia ter pensado em várias de possibilidades para a conclusão da trilogia Scythe, mas acho que nenhuma delas teria se aproximado do que Neal Shusterman arquitetou com tanta maestria.

Os eventos de O Timbre se passam alguns anos após o bombástico final de A Nuvem. Logo nos primeiros capítulos, percebemos que esse volume tem mais de uma linha temporal, além de diversos pontos de vista e personagens novos. É um pouco confuso no começo, mas não demora muito para nos acostumarmos.

É muito difícil falar da conclusão de uma trilogia sem dar spoilers, por isso vou ser breve. O Timbre é um livro muito completo, que consegue abordar, além dos temas que já conhecíamos – como mortalidade, ética, religião e a corrupção humana –, outros temas muito relevantes. Há, por exemplo, um debate sobre gênero, decorrente de um personagem em específico que particularmente gostei muito e achei uma ótima adição para essa história.

Acredito que Neal conseguiu finalizar as histórias de todos os protagonistas e personagens secundários, o que pra mim é o mais importante. E por falar em personagens, eu gostei muito das relações entre todos aqui, sejam as amorosas, de amizade, família etc. Pra mim, todas foram bem inseridas e trabalhadas (com exceção de uma que queria ter visto um pouco mais… hehe).

É a natureza da vida temer o seu próprio fim. É assim que sei que estamos vivendo de verdade.

A Nimbo-Cúmulo foi um dos destaques de O Timbre. Ainda que em A Nuvem o papel dela já tenha sido de extrema importância, nesse último livro eu senti que ela se tornou mais essencial do que nunca. Algumas cenas dela eu amei tanto que nem sei explicar.

Quanto aos outros personagens, prefiro não me aprofundar muito para evitar fazer qualquer comentário com spoiler. O que posso dizer é que a cena final é puro amor. Eu não esperava chorar, mas lá estava eu me debulhando em lágrimas de emoção!

Os acontecimentos finais são muito grandiosos e impactantes. Acho que o autor foi bem ousado em algumas decisões e entendo perfeitamente que algumas pessoas possam não ter gostado tanto delas, porque nem todas têm consequências positivas. Mas esse tom agridoce fez toda a diferença pra mim; eu amei demais.

Somos seres imperfeitos (...). Como poderíamos nos encaixar em um mundo perfeito?

Portanto, se você ainda tem dúvidas se deve ou não ler essa trilogia, eu te digo: TÁ ESPERANDO O QUÊ? Corre pra ler essa história maravilhosa!

Até a próxima, pessoal!

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segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Resenha: "A Prometida" (Kiera Cass)

 

Tradução: Cristian Clemente

Sinopse: Quando o rei Jameson se declara para a Lady Hollis Brite, ela fica radiante. Afinal, a jovem cresceu no castelo de Keresken, competindo com as outras damas da nobreza pela atenção do rei, e agora finalmente poderá provar seu valor.

Cheia de ideias e opiniões, logo Hollis percebe que, por mais que os sentimentos de Jameson sejam verdadeiros, estar ao seu lado a transformaria num simples enfeite. Tudo fica ainda mais confuso quando ela conhece Silas, um estrangeiro que parece enxergá-la ― e aceitá-la ― como realmente é. Só que seguir seu coração significaria decepcionar todos à sua volta…

Hollis está diante de uma encruzilhada ― qual caminho levará ao seu final feliz?

Por Jayne Cordeiro:  "A Prometida" é o mais recente livro da autora Kiera Cass, conhecida pela trilogia "A Seleção". O livro não se passa no mesmo universo, então pode ser lido separadamente. Mas ele trás também, o mundo da realeza. Eu já tinha ouvido falar desse livro, e muitas das resenhas foram negativas. Mas finalmente sentei, peguei o livro para ler, e agora estou aqui para falar o que eu achei dele para vocês.

Para começar, ele trás os mesmos problemas que eu já tinha reparado em "A Seleção". Ele apresenta uma ideia interessante (principalmente em "A Seleção"), mas que acaba sendo muito pouco aprofundada ou aproveitada. Também não trás dramas secundários interessantes, e seus personagens secundários são pouco aproveitados. Muita coisa poderia vir da relação de Hollis com Jameson ou com Silas, e até mesmo das interações com a corte. Nada de especial vem de temas que poderiam trazer muita coisa legal. Outra questão aqui, é que os personagens principais são tratados de forma tão rasa, que o leitor não se apega a ninguém.

E aí vem a única coisa, que pra mim, foi o incentivo para ler a trilogia "A Seleção", mas que "A Prometida" não tem: Maxon. Ou pelo menos uma história de amor que convença ou conquiste. Hollis não conquista o leitor, e nenhum de seus pretendentes também. Eu até torci mais pelo rei Jameson, porque pelo menos víamos mais dele. Ele mostrou qualidades e falhas. Mas Silas foi tão simplório...Eu gosto de amores e atrações instantâneas. Mas essa aqui não colou. Não via nada, além de poucas palavras, que me fizesse torcer ou aceitar as decisões da protagonista. 

O livro não consegue mostrar um ápice, e tudo é muito linear, sem momentos que causem ansiedade ou tensão no leitor. A leitura não é ruim. Eu li esse livro muito rápido. A escrita da autora é boa, leve, até gostosa de ler. Mesmo ele não sendo muito atraente, a leitura flui bem. E não diria que é um livro ruim. Mas é um livro bem morno. O final trás uma situação inesperada, mas que não consegue causar grandes emoções, devido a falta de apego que acabei tendo com todos os personagens. Ele deixa uma abertura para o próximo livro, que não faço ideia do que virá. Provavelmente vou ler, porque não gosto de largar histórias caminhando. Mas não é um livro que recomendaria, apesar de achar a capa linda.


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sexta-feira, 22 de maio de 2020

Resenha: "Um lugar só nosso" (Maurene Goo)

Tradução de Lígia Azevedo

Sinopse: Lucky é uma jovem estrela do K-pop. Talentosa e cheia de determinação, tem como próximo objetivo expandir sua carreira para o ocidente, e um passo importante para isso está prestes a acontecer: ela vai participar do programa norte americano Later Tonight Show, alguns dias depois do último show de sua turnê, em Hong Kong. O problema é que, por mais que tenha o mundo ao seus pés, Lucky ainda tem dúvidas de que essa é a vida que realmente deseja.
Jack está em seu ano sabático, entre o fim do colégio e o início da faculdade - ou, pelo menos, é o que ele diz para a família. Apaixonado por fotografia, tudo o que deseja é entrar em um curso de artes, mas não sabe como contar isso aos seus pais. Para conseguir se sustentar, faz bicos como paparazzo para um tabloide sensacionalista, e quando conhece Lucky tem o maior furo que poderia desejar bem à sua frente.
Durante um fim de semana em que fingem ser outras pessoas, Lucky e Jack vão descobrir mais sobre si mesmos do que imaginavam – e viver um romance digno de uma canção de sucesso.

Por Stephanie: Não é sempre que eu fico com vontade de ler uma história levinha, mas devido ao momento que estamos passando, isso vem acontecendo com maior frequência. Portanto, quando vi esse lançamento da Editora Seguinte, logo me interessei, e fico feliz por ter encontrado exatamente o que esperava.

A história se desenvolve majoritariamente em um período de dois dias, em que Lucky, uma cantora de k-pop, e Jack, um aspirante a fotógrafo que faz bicos como paparazzo, se conhecem e embarcam em uma aventura cheia de romance e momentos fofos.

Não conheço muito da cultura sul-coreana, principalmente em relação à música, mas acredito que nesse quesito, Lucky foi muito bem apresentada. Maurene Goo soube falar do lado obscuro da indústria com delicadeza, fazendo críticas mas sem se aprofundar ao ponto de deixar a história muito pesada. Lucky, além de todas as pressões que sofre por parte da gravadora, também sofre de ansiedade, e também acho que esse aspecto foi abordado de maneira responsável pela autora.

Quem disse que uma vida boa não pode incluir algum egoísmo?

Jack é um mocinho bastante convincente. Não chega a ser bad boy, mas também não é bobo. Independente e sonhador, gostei de ler sobre seus dilemas familiares e em relação à sua carreira. Mais uma vez, Maurene abordou a cultura asiática familiar (como as exigências dos pais de Jack) de forma tranquila e bem verossímil.

Todo o desenvolvimento do enredo, como é de se esperar, bebe bastante da fonte dos romances clichês. Porém, como aqui há protagonistas asiáticos e uma ambientação diferenciada, a história recebe ares de novidade, o que foi um dos pontos altos pra mim. Só eu sei o tanto que salivei com as descrições de comidas, hahaha!

Meu único ponto negativo é o fato de eu não ter me conectado tanto assim com os personagens. Eu os compreendi e senti empatia por eles, mas não sofri junto, sabe? Queria ter me sentido mais próxima deles.

Éramos como as estrelas quando vistas da Terra – uma lembrança de algo que já encontrara seu fim.

Fica então a minha recomendação para todos que gostam ou que estão à procura de uma leitura leve e gostosa!

Até a próxima, pessoal :)

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sexta-feira, 1 de maio de 2020

Resenha: "Vermelho, Branco e Sangue Azul" (Casey McQuiston)

Tradução de Guilherme Miranda

Sinopse: O que pode acontecer quando o filho da presidenta dos Estados Unidos se apaixona pelo príncipe da Inglaterra?

Quando sua mãe foi eleita presidenta dos Estados Unidos, Alex Claremont-Diaz se tornou o novo queridinho da mídia norte-americana. Bonito, carismático e com personalidade forte, Alex tem tudo para seguir os passos de seus pais e conquistar uma carreira na política, como tanto deseja.

Mas quando sua família é convidada para o casamento real do príncipe britânico Philip, Alex tem que encarar o seu primeiro desafio diplomático: lidar com Henry, irmão mais novo de Philip, o príncipe mais adorado do mundo, com quem ele é constantemente comparado ― e que ele não suporta.

O encontro entre os dois sai pior do que o esperado, e no dia seguinte todos os jornais do mundo estampam fotos de Alex e Henry caídos em cima do bolo real, insinuando uma briga séria entre os dois.

Para evitar um desastre diplomático, eles passam um fim de semana fingindo ser melhores amigos e não demora para que essa relação evolua para algo que nenhum dos dois poderia imaginar ― e que não tem nenhuma chance de dar certo. Ou tem?

Por Stephanie: Se você é leitor e viveu na Terra nos últimos meses, com certeza já ouviu falar em Vermelho, Branco e Sangue Azul, de Casey McQuiston. O livro virou febre mundial desde seu lançamento, e vem conquistando cada vez mais fãs em cada país que é lançado. No Brasil, não foi diferente: a obra foi muito bem recebida pelo público e Casey foi inclusive confirmada na Flipop, evento organizado pela Editora Seguinte, que a princípio se realizará nos dias 10, 11 e 12 de julho.

Com tanto hype em cima desse livro, não tinha como eu ficar indiferente; me interessei desde o começo e fiz questão de encaixá-lo nas minhas leituras assim que possível. Fico feliz em dizer que entrei pro time dos que adoraram a história e que querem divulgá-la para que mais pessoas possam conhecê-la e se apaixonar por ela!

Acho que não é nenhum segredo que VBSA tem um enredo que se pode chamar de clichê. Só pela sinopse já dá pra saber quais caminhos a obra tomará. Porém, acredito que o trunfo do livro está em sua representatividade: além de ter um casal homoafetivo como protagonista, há também a família de Alex, que possui descendência latina. Sem esquecer também que no mundo de VBSA, os EUA têm uma presidenta.

(…) É essa a escolha. Eu amo o Henry, com tudo isso, por causa de tudo isso. De propósito. Eu amo o Henry de propósito.

Com todos esses elementos, McQuinston constrói uma história que utiliza de artifícios já conhecidos para conversar com um público que não costuma se ver representado em narrativas como essa, ou seja, o LGBTQ+. Por mais que seja fácil imaginar o final de tudo, é um respiro ver situações típicas das comédias românticas heteronormativas tendo protagonistas fora desse padrão.

Alex e Henry são protagonistas cativantes e completamente opostos. Isso que torna a dinâmica entre eles tão divertida de acompanhar. Por falar em dinâmica, é bom deixar avisado que há cenas bem quentes entre o casal, e eu não recomendaria esse livro para menores de 16 anos.

Quanto aos personagens secundários, achei que todos agregaram positivamente. Talvez eles pudessem ter sido um pouco mais aprofundados (principalmente a irmã de Alex), mas como o foco de VBSA é o romance, é compreensível que outros assuntos acabem ficando um pouco de lado.

VBSA tem um pano de fundo político que pensei que seria apenas abordado de leve, mas que surpreende por ter um papel importante na narrativa. Há muitas crises e disputas ao longo do enredo, e acho que se fosse apontar alguma coisa que não me agradou tanto, seria essa questão, que fica bastante presente conforme a obra se aproxima de seu desfecho.

De forma geral, eu gostei muito de Vermelho, Branco e Sangue Azul e recomendo a leitura para os fãs de romance que estejam buscando uma história leve e engraçada!

Pensar em história me faz pensar em como vou me encaixar nela um dia, eu acho. E você também. Eu meio que gostaria que as pessoas ainda escrevessem desse jeito. História, hein? Aposto que poderíamos fazer.

Até a próxima, pessoal!
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segunda-feira, 27 de abril de 2020

Resenha: “Enfim, Capivaras” (Luísa Geisler)


Por Kleris: Se prepare para a caçada mais épica desse Brasil! 
Porque se você mora na Chapada do Pytuna, precisa tomar a iniciativa e criar a aventura.

Em Enfim, Capivaras, uma turma de garotos e garotas se unem para pegar o mentiroso da escola no pulo. No caso, Dênis – também conhecido como Binho. Não importa a situação ou contexto, Binho tem essa mania de grandeza e de mentiras sobre coisas que ele tem, conhece ou já viu. Até então era difícil comprovar informações soltas ou pouco palpáveis (como ter conhecido o Faustão), mas quando ele diz que tem uma capivara de estimação, a galera se reúne pra ir lá visitar o animal. Assim, só aparecer na porta da casa dele e ver até aonde essa lombra iria. 
Porque, como nossas próprias mentiras, a gente quer que seja verdade.

Para a surpresa de zero pessoas, Dênis conta que Capi, a capivara, fugiu. Surge a ideia então de ir atrás dela, afinal, não deve ter ido muito longe. Até porque a cidade, Chapada do Pytuna, no interior de Minas, também não era muito grande. E assim, com o carro de Léo, munidos de salgadinhos, bolos e bebidas, eles seguem à procura de Capi. Ou da verdade. Ou da justiça pelas merdas que Binho dizia por aí, interferindo na vida de tantas outras pessoas sem qualquer responsabilidade. 
Olhamos pra Vanessa e erguemos o mapa de leve. Ela faz que não com a cabeça (acelerado, vídeo acelerado), enquanto Nick dobra o papel e enfia no bolso. Vamos entrar no mato atrás de uma capivara potencialmente roubada, vamos no sentido contrário da civilização, que na verdade não é civilização, às dez da noite. Nenhuma ideia parece boa e essa é a pior de todas. Abro um sorriso.

Esse é um livro que você não vai querer largar até encontrar todas as respostas. É também um livro bem vapt-vupt, de uma sentada só, sincerão. Embora curto e rápido, é hiper rico de histórias, detalhes, identidades. E uma das coisas mais legais – além de sua premissa – é como a história é contada.

Acompanhamos a empreitada em um espaço de 12 horas e em tempo real com vários pontos de vista: de Vanessa, a garota da cidade grande que se mudou recentemente para o interior; Nick, a garota de um espírito aventuresco que luta para encontrar um encaixe no mundo; Léo, o garoto de pai fazendeiro (e rico), que deveria andar na linha; e Zé Luís, o filho da empregada da casa de Léo, um companheiro que vive à sombra do amigo. 
A gente está assim. A gente é assim. Neste momento.

Cada um tem motivações, vivências e segredos que marcam a experiência confusa da adolescência. Isso facilmente nos lembra do clássico Clube dos Cinco que repercute até hoje em diversas séries e filmes, mas o plus aqui é que a gente se conecta à trama de uma maneira nada americanizada. É aquela cidade pacata, pequena, buraco de meteoro, quente pra dedéu, sem vento algum e bem comum dessa terra e de muitos brasileiros. Ao retratar o ambiente interiorano, nossa linguagem e nossas peculiaridades, sentimos o quanto a história é crível. Aliás, é ótimo ler algo assim, tão nosso, tão a gente, tão verdadeiro. 
— Não sei se é seguro ficar parado aqui na estrada — diz Nick, enquanto olhamos para Dênis.
— É — diz Zé Luís. — Alguém pode querer nosso minduim.
— Sei lá — ela diz —, é que escureceu. 
— Outro Gusmão que não bate bem é aquele primo dele — digo —, que tem a esposa alcoólatra, que bebia até perfume, lembra?
— É — Nick começa a sentar no chão —, mas isso foi depois que o pai dela teve um AVC e tal, não dá pra dizer que...
— Posso terminar minha história? — interrompe Dênis.
— Ah — eu rio. — É mesmo.

O que move a narrativa (e faz suas páginas voarem) são os diálogos; as interações são tão naturais que podemos nos ver ali, reconhecer outras pessoas e voltar alguns anos de nossa própria história de crescimento. Eu, pelo menos, revivi um pouco dos anos 2000, as picuinhas de turma, as modinhas, os privilégios sobressaltados, lembrar das companhias, da conveniência escolar, e ver um pouco da porra da vida de todo mundo. Todos tivemos um amigo x, y, z da trama, e todos guardamos histórias escabrosas da época da escola. É a temporada mais traumática da vida, mas é um tempo que a gente não pira sozinho. 
— Acho que tá na hora de ir pra casa.
— Espera — diz Nessa. — A gente não vai resgatar o tamanduá?
— Resgatar o quê? — digo. — A gente sai pra catar uma capivara e quando vê tá cagando com a vida de outro bicho da fauna brasileira. Deixa pra lá.
— “Outro bicho da fauna brasileira...” — Léo diz, rindo.

Nesse contexto, Luísa lança as cagadas dos personagens ao leitor para que tire suas conclusões. Identidade, percepção de realidade e refúgio são temas fortes e que incitam conversas importantes, assim como quebras de tabus. Para tal, ela se utiliza de muitas conversas do grupo e conversas internas para mostrar as situações e acho que essa foi uma das melhores escolhas de como nos presentear a história. Sua intervenção entre os capítulos, com listas regressivas paralelas à trama, também se revela um grande acerto para a narrativa. 
11 motivos pelos quais Zé Luís está junto nessa bagunça11. Porque, por algum motivo, ele sempre está junto nessa bagunça. Por ser o Filho da Empregada, cargo oficial, sempre tem que ajudar. Ele ajuda a mãe a terminar mais rápido, a secar a louça, a dobrar a roupa. Ajudou com a mudança entre os apartamentos caros da família, ouvindo sobre como cada custava dois milhões. Ele ajuda Léo com os deveres de casa desde suas primeiras dificuldades com frações.

E assim ela vai do humor ao drama, do simples ao complexo e do banal ao pesado em poucas linhas – palavras até. Nelas, trabalha-se bastante esse senso de liberdade, de ser e apenas ser, de sair da linha, de fazer merdas, de se procurar, de encontrar apoio no outro, tudo junto e misturado. A sensação que fica é que precisamos de mais livros verdadeiros e sincerões como esse. 
Por mais que seja extrovertida — voltada para fora —, se sente mais introvertida — voltada para dentro. Ela se sente uma silêncio-vertida. E precisa esconder isso. 
— A gente vai trocar um lugar real, que a gente tá vendo por uma fazenda imaginária onde tem capivaras? — diz Dênis. — Vocês tão bêbados?

Enfim, Capivaras é assim uma leitura certeira para aquela viagem de busão ou trem rumo ao interior. É criar a aventura quando a aventura não vem até você. E é excelente para curtir tardes chuvosas, aproveitar intervalinhos de aula, curar ressacas literárias e mandar a censura ir à merda por querer abafar uma preciosidade dessas (reveja o caso aqui). Vale lembrar também de ler a entrevista com a autora no final, uma novidade da editora Seguinte para os seus últimos lançamentos <3

E, claro, recomendadíssimo!

Semelhante à obra anterior de Luísa (De espaços abandonados; reveja resenha aqui), perguntas ecoam. A diferença é que um livro nos deixa aos berros alucinada e o outro rindo loucamente. Deixo com você pra descobrir essa. 
— Eu nunca moraria num lugar sem McDonald’s — digo. — Não por não poder ir ao McDonald’s, mas pelo que isso significa, sabe? Se não chegou McDonald’s, o que mais não chegou?

Até a próxima!



 
Ana Liberato